1Sm 1.21-28 – Dedico a Vida ao Senhor
Estamos na segunda semana de nossa série sobre a vida de Samuel chamada “Coração e Oração” e nesta rodada, temos um capítulo particularmente interessante que nos convida a refletir. Vamos falar sobre a história de Ana, que dedicou seu filho Samuel a Deus. O que isso realmente quer dizer, dedicar algo a Deus? E o que isso significa quando estamos falando de nossos filhos, ou até mesmo de nossas próprias vidas? Vamos tentar responder essas perguntas à medida que observamos a jornada de Samuel e sua dedicação.
Há duas semanas, falamos sobre a oração fervorosa de Ana. Ela lidava com a infertilidade, e em sua tristeza, ela fez uma súplica a Deus:
E fez um voto, dizendo: Senhor dos Exércitos, se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva te não esqueceres, e lhe deres um filho varão, ao Senhor o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha. [1 Samuel 1:11]
Ana prometeu a Deus que, se ela tivesse um filho, ela o dedicaria ao serviço de Deus em Seu templo por toda a sua vida.
Agora, é bom esclarecer que a realidade de Ana era um pouco diferente da nossa. Nós não temos mais sacerdotes e templos do mesmo modo que antes. Samuel foi uma figura única, escolhida por Deus em um momento crucial na história de Israel para fazer a transição do tempo dos juízes para a era dos reis. Ele tinha a tarefa de preparar Israel para a chegada de uma linha real que culminaria com o nascimento de Jesus, o Messias.
Contudo, mesmo com essas diferenças, há muita sabedoria a ser extraída da dedicação de Ana a Samuel. Essa história tem um lugar especial no coração de muitas pessoas e mostra de maneira tocante o que significa dedicar algo a Deus em nossas próprias vidas. Vamos, então, desvendar alguns dos princípios que essa passagem tem a nos oferecer e que ainda são relevantes para nós hoje.
I. Encontrar o Equilíbrio nas Responsabilidades (21-23)
Quando começamos a falar sobre dedicar algo a Deus, seja um filho ou nossas próprias vidas, sempre nos deparamos com o desafio de equilibrar as responsabilidades. Os versículos 21 e 22 mostram isso claramente:
Subiu Elcana, seu marido, com toda a sua casa, a oferecer ao Senhor o sacrifício anual e a cumprir o seu voto. Ana, porém, não subiu e disse a seu marido: Quando for o menino desmamado, levá-lo-ei para ser apresentado perante o Senhor e para lá ficar para sempre. 1 Samuel 1:21,22“
Vemos nesses versículos uma variedade de responsabilidades que se entrelaçam. Elcana, por exemplo, precisava cumprir seu voto a Deus, ao mesmo tempo que guiava sua família a Siló para o sacrifício anual. Por outro lado, Ana estava encarregada de cuidar de Samuel até o desmame, cumprindo seu voto e aceitando a decisão final de Elcana.
A vida é assim, cheia de responsabilidades. Cuidar da vida pessoal, da família, do compromisso com a igreja e do trabalho. Muitas vezes, esses deveres se misturam e podem gerar conflitos. Então, como saber o que fazer e quando? A resposta está na Palavra de Deus. Precisamos buscar cumprir nossos deveres bíblicos em todas as áreas, sem deixar nada de lado. Isso demanda equilíbrio.
Uma vez, aconselhei um casal cristão que estava com problemas no casamento. O marido era muito dedicado a Deus, sempre na igreja, conhecia a Bíblia, compartilhava sua fé, servia fielmente, e passava horas assistindo a sermões na TV. No entanto, sua casa estava caindo aos pedaços, os filhos precisavam de atenção, e sua esposa precisava de ajuda. Sua vida estava desequilibrada. Dedicar-se verdadeiramente a Deus envolve equilibrar todas as responsabilidades que Ele nos confiou.
Um exemplo específico disso ocorre quando crentes têm um cônjuge não-crente. Nesse caso, o envolvimento ativo na igreja e a vida conjugal podem causar conflitos de tempo e agenda. Nos sentimos culpados ao negligenciar a igreja e ao negligenciar nosso cônjuge. Porém, servir a Deus exige o equilíbrio dessas responsabilidades. Não somos menos dedicados a Deus se faltarmos a uma atividade da igreja para passar tempo com nosso cônjuge. Na realidade, esse tempo com o cônjuge também faz parte da nossa devoção a Deus. É tudo uma questão de equilíbrio.
No Antigo Testamento, maridos tinham a responsabilidade de confirmar ou negar os votos de suas esposas (Números 30:10-15). No versículo 23, Elcana confirma o voto de Ana:
Respondeu-lhe Elcana, seu marido: Faze o que melhor te agrade; fica até que o desmames; tão somente confirme o Senhor a sua palavra. Assim, ficou a mulher e criou o filho ao peito, até que o desmamou. 1 Samuel 1:23
Elcana poderia ter se oposto à decisão de Ana de dedicar Samuel a Deus, pois Samuel também era seu filho. Mas, ao contrário, ele confirmou o voto e expressou seu desejo de que a palavra de Deus se cumprisse através de Samuel.
Elcana e Ana nos ensinam uma lição valiosa. Mesmo com responsabilidades conflitantes, eles encontraram um meio de equilibrá-las. Eles entenderam que Deus os chamava para serem fiéis em diferentes áreas e trabalharam juntos para alcançar esse equilíbrio.
Os momentos que Ana passou sozinha com Samuel devem ter sido muito especiais, principalmente porque sabia que só teriam alguns anos juntos. Ela estava determinada a cumprir seu voto de levar Samuel ao templo, mas antes disso, ela fez sua parte como mãe. Isso é algo que nós, como pais, também devemos aprender. Em algum momento, precisamos deixar nossos filhos seguirem seu próprio caminho – só precisamos saber quando.
II. Oferecendo Sacrifícios (24)
Dedicar algo a Deus muitas vezes requer que façamos sacrifícios. Isso fica evidente no versículo 24:
Havendo-o desmamado, levou-o consigo, com um novilho de três anos, um efa de farinha e um odre de vinho, e o apresentou à Casa do Senhor , a Siló. Era o menino ainda muito criança. 1 Samuel 1:24.
Normalmente, as crianças naquela época eram amamentadas até terem cerca de três anos. Assim, podemos supor que Samuel tinha aproximadamente essa idade quando Ana o levou ao templo. Ele ainda era pequeno. Ao contrário de hoje, onde podemos dedicar nossos filhos a Deus sem necessariamente deixá-los fisicamente, Ana deixou Samuel no templo para servir a Deus. Ela só podia vê-lo uma vez por ano.
Elcana e Ana também trouxeram ofertas e sacrifícios como parte do ritual de dedicação. A tradução indica que eles trouxeram um boi de três anos, embora possa também ser traduzido como “três touros jovens”. Mesmo sendo necessário trazer apenas um touro, parece que eles trouxeram três, uma vez que também trouxeram três vezes mais farinha do que o exigido. Talvez isso demonstrasse a devoção deles. Ou talvez fosse algo extraordinário: Deus havia abençoado Ana com um filho de forma milagrosa, e eles estavam dedicando esse filho a Deus para toda a vida. Os três touros poderiam até simbolizar os três anos de vida de Samuel.
Por qualquer razão que seja, esses presentes ressaltam um princípio fundamental: a verdadeira devoção tem um preço, e muitas vezes esse preço é sacrifício. Claro, a dedicação de Elcana e Ana custou mais do que a oferta de touros e farinha. Elcana estava entregando seu único filho com Ana, sua esposa amada. Ana estava deixando seu único filho, ainda tão pequeno, no templo. A verdadeira dedicação a Deus requer que façamos sacrifícios difíceis.
Quero salientar ainda a importância do sacrifício do touro. Sempre que vemos um sacrifício de animais no Antigo Testamento, somos lembrados de Jesus. Todos os sacrifícios de sangue apontam para a morte de Cristo na cruz por nós. Como pecadores, não podemos ganhar o favor de Deus apenas dedicando algo a Ele. Precisamos de perdão, não de méritos próprios. Só pela graça de Deus, através de Jesus Cristo, podemos nos aproximar de Deus e dedicar a Ele nossos bens, nossos filhos, nossas vidas. O sacrifício do touro na dedicação de Samuel nos lembra dessa verdade fundamental.
III. Prosseguindo Adiante (25-28)
Dedicar algo a Deus requer equilibrar responsabilidades, aceitar sacrifícios e, em terceiro lugar, prosseguir. Observemos os versículos 25-28:
Imolaram o novilho e trouxeram o menino a Eli. E disse ela: Ah! Meu senhor, tão certo como vives, eu sou aquela mulher que aqui esteve contigo, orando ao Senhor. Por este menino orava eu; e o Senhor me concedeu a petição que eu lhe fizera. Pelo que também o trago como devolvido ao Senhor, por todos os dias que viver; pois do Senhor o pedi. E eles adoraram ali o Senhor. 1 Samuel 1:25-28.
As primeiras palavras de Ana para Eli, “Tão certo quanto você vive”, são como um juramento. Ela jura e se identifica como a mulher que estava orando no templo anos antes. Ela retorna ao mesmo lugar onde desabafou em oração, e repete para Eli o mesmo que ele disse: “Vai-te em paz, e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste. 1 Samuel 1:17“.
O texto usa duas palavras diferentes para “dar” nos versículos 27 e 28. No versículo 27, quando diz que Deus “concedeu” sua oração, ela usa uma palavra que significa simplesmente “dar”, como se estivesse presenteando alguém. Porém, no versículo 28, ao se referir à entrega de Samuel a Deus, ela utiliza um termo que significa mais “retribuir” ou “responder a um pedido”.
Desta forma, não entregamos a Deus da mesma maneira que Ele nos dá. Deus é dono de tudo, antes e depois de nos dar algo. E também é dono de tudo, antes e depois de devolvermos algo a Ele. Quando Deus nos concede algo, ele está nos confiando algo que já é Dele. Quando damos ao Senhor, estamos apenas retribuindo.
Tudo o que temos vem Dele – nossos filhos, nossa casa, nosso trabalho, nossa vida, tudo é um presente. Portanto, quando dedicamos essas coisas a Deus, estamos apenas devolvendo ao verdadeiro dono. Deus deu Samuel a Ana, e Ana devolveu Samuel a Deus, cumprindo sua promessa.
Entretanto, dedicar algo a Deus não basta, é necessário honrar essa dedicação. No caso de Ana e Elcana, eles entregaram Samuel ao Senhor através de Eli, o sumo sacerdote e representante de Deus. Não devemos confundir os pastores de hoje com os sacerdotes do Antigo Testamento. Seu pastor é um líder espiritual que guia seu caminho, mas não é um sacerdote. Jesus é nosso Sumo Sacerdote agora. Só através Dele podemos realmente dedicar nossos filhos a Deus.
Agora, é maravilhoso ler que essa passagem termina de maneira emocionante. O final do versículo 28 diz: “E eles adoraram ali o Senhor. [1 Samuel capítulo 1 versículo 28]”. Ana se prostra em adoração e entrega o seu aleluia ao Senhor.
Entretanto, imagine um menino de três anos, que acabou de ser desmamado, se despedindo da mãe e, indo em direção a sala do templo, olha pra trás e vê a sua mamãe se curvando em adoração ao Senhor. Pensa na poderosa lembrança que ficou gravada na cabeça desse garotinho… Demais, não é?
E tem mais… eu fico empolgado que o texto está no plural. A Escritura é clara em afirmar que “eles” adoraram ao Senhor.
Perceba que essa criança, desde muito cedo, aprendeu com sua a mamãe como adorar ao Senhor. E isso fez toda a diferença na jornada de Samuel.
Portanto, encerramos essa passagem com Ana entregando seu filho ao Senhor para servi-Lo, e o jovem Samuel também se dedicando em adoração.
CONCLUSÃO:
Ana dedicou seu filho a Deus. E você, pai ou mãe, também tem dedicado seus filhos a Ele? Não me refiro necessariamente a uma cerimônia formal de dedicação, mas a um ato de entrega genuína em seus corações. Você já devolveu a Deus os filhos que Ele lhe concedeu? Se ainda não fez isso, por que não? Quem seria capaz de cuidar melhor dos seus filhos do que Deus? É crucial confiar a Ele a tutela e o direcionamento de seus filhos, seja qual for o plano Dele.
Dedicar seus filhos a Deus não significa abandonar suas responsabilidades parentais. Na verdade, é justamente o oposto. Quando você dedica seus filhos a Deus, também se compromete como pai ou mãe cristão. Promete orar com eles, ler a Palavra de Deus juntos, levá-los à igreja e ser um exemplo de piedade em casa. É um ato de equilibrar suas responsabilidades, renunciar coisas que você preza e continuar firme no compromisso de educar seus filhos à luz da fé.
Contudo, a mensagem de hoje não se aplica apenas aos pais. A dedicação de Ana a Samuel serve como um lembrete de que tudo que possuímos é um presente de Deus e que devemos dedicar todas essas coisas a Ele. Nossa família, nossa casa, nosso trabalho, nossa renda, nossos estudos, nossa reputação, nossos talentos e nosso tempo – tudo deve ser dedicado a Deus e à Sua glória. Você está disposto a dedicar sua vida ao Senhor hoje?
Escrito por Ev. Diego Gonçalves.
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