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Introdução:

Este é a um sermão temático sobre o espírito cínico do mundo pós-moderno. A partir de uma crítica às leituras reducionistas da história — que enxergam tudo como luta por poder — e da exposição de 1 João 4, somos chamados a recuperar uma visão bíblica, centrada no amor de Deus como força legítima, transformadora e eterna. Em um tempo onde a suspeita parece dominar todas as esferas da sociedade, este é um convite genuíno à fé, à verdade e à esperança.

Leitura Bíblica:

“Amados, não creiais em todo espírito, mas provai os espíritos, se procedem de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora. Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus;
Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor.”

1 João 4:1–2, 7–8

Desenvolvimento:

Há quem diga que a história é sempre escrita pelos vencedores. E isso, em certo sentido, é verdade. Mas o que fazer quando os vencedores não apenas contam sua história, mas também a deturpam? Quando a suspeita se torna a lente principal para analisar qualquer narrativa passada, o que resta? É essa desconfiança — essa hermenêutica da suspeita — que tem moldado boa parte da historiografia moderna e contaminado até mesmo a leitura das Escrituras. Um exemplo claro disso é o livro King David: A Biography, escrito por Stephen McKenzie. Ele propõe que Davi, ao contrário da imagem que a Bíblia apresenta, não era um pastor humilde que foi ungido rei por Deus, mas um usurpador sanguinário, envolvido em assassinatos e manipulações políticas.

McKenzie não está apenas oferecendo uma alternativa de leitura. Ele está fazendo uma denúncia histórica: Davi seria, em seus termos, um déspota típico do Antigo Oriente Médio. A ideia de que ele era um “pastor” seria apenas um código para “rei”. A narrativa de sua ascensão, recheada de momentos em que ele poupa a vida de Saul, seria propaganda política, escrita pelos escribas do palácio para justificar o poder já conquistado. McKenzie pergunta: quem se beneficiou com essa história? Davi. Quem a escreveu? Os servos de Davi. E onde o texto insiste demais em algo, talvez seja justamente aí que mora a mentira.

É um método simples. Suspeite de tudo. Rejeite o que parece virtuoso. Elimine o que soa piedoso. Desconfie de qualquer menção à bondade ou à ação divina. O que sobra? Poder. Ganância. Domínio. Essa é a lógica de boa parte da leitura moderna da história: reduzir tudo ao conflito de interesses. Assim, o Davi das Escrituras, que toca harpa e acalma o espírito perturbado de Saul, torna-se, para McKenzie, um estrategista frio, um assassino político, um rei implacável. Não importa que o texto bíblico mostre falhas e pecados reais de Davi — isso não basta. A existência de arrependimento ou fé parece ser, para essa escola, um truque narrativo.

Essa forma de ler a história não começou com McKenzie. Ele é apenas um elo na corrente. É uma postura que ganhou força a partir do século XIX, especialmente com autores como Karl Marx. Marx, no Manifesto Comunista, afirma: “A história de todas as sociedades até hoje é a história da luta de classes.” Para ele, tudo na história se resume a opressores e oprimidos. Patrícios e plebeus, senhores e servos, ricos e pobres. Essa leitura, embora tenha sua lógica interna, é profundamente cínica. Ela parte do princípio de que todo gesto é calculado, toda religião é instrumento de dominação, toda moralidade é uma máscara, e toda fé é uma farsa.

Essa mentalidade contaminou até mesmo a maneira como muitos enxergam a história da Igreja. Tome-se, por exemplo, o surgimento da Igreja Anglicana. Quantas vezes ouvimos a explicação reducionista de que tudo começou porque Henrique VIII queria um divórcio? De fato, Henrique queria se separar de Catarina de Aragão. De fato, o Papa negou o pedido. Mas quem conhece o contexto sabe que havia muito mais em jogo. Havia interesses políticos, alianças internacionais, debates teológicos, tradições litúrgicas, e sim, havia também uma população que já estava sendo evangelizada por protestantes, mesmo correndo risco de vida. Reduzir tudo a “um rei com desejo sexual insatisfeito” é não só injusto — é intelectualmente preguiçoso. É fechar os olhos para o que Deus pode ter feito mesmo em meio à confusão humana.

Esse reducionismo cínico se estende a muitas áreas. Há quem diga que toda igreja é uma fraude porque pede dinheiro. Há quem afirme que toda autoridade espiritual busca apenas domínio. Há quem veja em cada movimento cristão uma estratégia de manipulação. O problema com essa leitura é que ela se torna incapaz de enxergar o bem. Ela não tem espaço para fé genuína, para sacrifício real, para amor verdadeiro. Ela não reconhece a santidade, porque já decidiu, de antemão, que ela não existe. Só há ganância, luxúria, dominação. E se a história parece mostrar o contrário, então — dizem eles — é porque os mentirosos contaram melhor a história.

Mas o cristianismo afirma algo radicalmente diferente. Ele declara que há sim ganância no mundo, há sim dominação, há sim mentira. Mas há também verdade. Há justiça. Há redenção. Há fé. Há amor. E esse amor não é uma invenção sentimental. Ele tem nome, tem forma, tem carne. Deus é amor. E esse amor se revelou em Cristo.

É isso que João afirma com força em sua primeira carta, capítulo quatro. Mas antes de João nos dizer que “Deus é amor”, ele nos adverte: “Não creiam em qualquer espírito; examinem os espíritos para ver se procedem de Deus.” João não está nos convidando a um fideísmo cego. Ele está dizendo que nem todo discurso espiritual é verdadeiro. Há falsos profetas. Há ideias erradas. Há mentiras piedosas. Por isso, ele nos dá um critério objetivo: “Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne procede de Deus.” Aqueles que negam a humanidade real de Cristo, aqueles que o reduzem a uma aparência espiritualizada, estão enganando. Essa era a heresia dos docetistas. Eles ensinavam que Jesus parecia humano, mas não era de fato. Era uma ilusão. Uma encenação.

João não tolera essa distorção. E a razão é simples: se Jesus não veio em carne, então ele não sofreu de verdade, não morreu de verdade, não nos amou de verdade. Se Jesus foi apenas um espírito, então Deus não se humilhou por nós. Não nos alcançou em nossa carne. E se isso é falso, tudo desaba.

É por isso que João insiste: o verdadeiro teste da fé está na confissão de quem é Jesus. E não apenas isso — está também no fruto que essa fé produz. Se alguém diz conhecer a Deus, mas não ama o próximo, está mentindo. Não importa quanta teologia essa pessoa conheça. Não importa quantas liturgias ela pratique. Se não ama, não conhece a Deus. Porque Deus é amor.

Essa declaração é poderosa. Mas precisa ser compreendida corretamente. João não está dizendo que “o amor é Deus”, como se todo sentimento bom fosse automaticamente divino. Ele não está canonizando nossas emoções. Ele está afirmando que o amor verdadeiro, o amor que é fonte, origem e fim, está em Deus. Não nasce de nós. Não é resultado de esforço ou educação. É dom. É graça. É o reflexo da vida de Deus em nós.

Por isso, amar não é algo natural ao ser humano caído. Podemos imitar. Podemos desejar. Mas só podemos amar de verdade quando estamos em Deus. Quando a vida de Cristo nos alcança e o Espírito Santo nos transforma. E é esse amor — não o poder, não a astúcia, não a dominação — que está no centro da história da redenção.

O mundo moderno, tão preso ao cinismo, desconfia disso. Diz que ninguém ama sem interesses. Que toda caridade é estratégia. Que toda religião é manipulação. Mas João nos lembra que, no centro de tudo, está um Deus que nos amou primeiro. Ele não esperou que fôssemos bons. Ele não exigiu mérito. Ele nos amou quando ainda éramos inimigos. E esse amor é a base de tudo. É a única força capaz de transformar a história. Não é a luta de classes. Não é a conquista de territórios. Não é a manipulação dos poderosos. É o amor de Deus, derramado por meio do Filho, e operando em nós pelo Espírito.

Essa distinção entre o olhar cínico e o olhar cristão é mais do que uma questão de interpretação acadêmica. É uma batalha de visões de mundo. O cinismo não é neutro. Ele é formador. Ele molda não só a maneira como vemos o passado, mas como vivemos o presente e como esperamos o futuro. Ele nos torna frios, desconfiados, incapazes de nos entregar a algo que pareça bom demais para ser verdade. Quando o cinismo entra no coração, ele destrói a possibilidade da fé. Porque a fé exige confiança. Exige abertura. Exige esperança.

É por isso que a cultura atual — saturada por narrativas de traição, ganância e escândalo — tem tanta dificuldade com o cristianismo verdadeiro. Não com a religião institucionalizada ou com o moralismo superficial. Isso o mundo tolera, e até gosta de expor. Mas o evangelho genuíno, aquele que afirma que Deus se fez homem, morreu pelos nossos pecados e nos chama para viver uma vida de amor sacrificial, esse o mundo não entende. Esse é considerado ingênuo, infantil, até perigoso. Porque ele quebra a lógica do poder. Ele interrompe o ciclo da autopreservação. Ele exige entrega.

A doutrina cristã, desde os primeiros séculos, reconheceu esse desafio. Por isso os concílios e os Pais da Igreja gastaram tanto tempo e energia afirmando as duas naturezas de Cristo — plenamente Deus e plenamente homem. Negar qualquer uma dessas naturezas não era apenas um erro doutrinário; era uma ameaça à salvação. Se Jesus não é Deus, sua morte não tem poder eterno. Se ele não é homem, sua morte não é por nós. João está alinhado com essa tradição apostólica quando escreve que “qualquer espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne, não procede de Deus”.

Essa defesa da encarnação não é apenas um argumento teológico. É a base para o mandamento ético que vem depois: “Amemos uns aos outros.” João não está dizendo “sejam bonzinhos”, mas algo mais profundo: se Deus nos amou a ponto de se fazer carne e morrer por nós, então o amor deve se tornar a nossa forma de vida. Amor que não começa em Deus, não é amor completo. E amor que não se expressa em ações concretas ao próximo, não é amor cristão.

O texto segue com uma das declarações mais revolucionárias da Bíblia: “Deus é amor.” Isso não é poesia. Isso é doutrina. Isso é realidade. E João não está escrevendo em um vácuo emocional. Ele está lidando com conflitos reais, heresias reais, divisões reais. E, diante disso, ele aponta para a essência de Deus como resposta: amor. Não sentimentalismo. Não permissividade. Amor que assume forma, que toma iniciativa, que se sacrifica.

Mas é aqui que muitos tropeçam. Há uma inversão sutil, mas destrutiva, que acontece quando lemos esse versículo ao contrário. Quando dizemos que “o amor é Deus”, colocamos nossa experiência subjetiva no trono e fazemos de Deus um reflexo das nossas emoções. Assim, qualquer coisa que pareça amorosa aos nossos olhos torna-se automaticamente divina. Qualquer ensinamento bíblico que nos confronte ou nos corrija é descartado como “não amoroso”. E qualquer exigência de santidade ou obediência é vista como opressiva.

Mas João não diz isso. Ele não diz que “o amor é Deus”. Ele diz que “Deus é amor”. Ou seja, é a natureza de Deus que define o que é amor. Não o contrário. Nosso amor é imperfeito. Nosso amor é misturado com egoísmo, medo, insegurança. O amor de Deus é puro, reto, justo. Ele corrige, disciplina, salva. Ele não é manipulável. Não muda conforme a cultura. Não se dobra à conveniência humana. O amor de Deus é revelado na cruz: entrega absoluta, sofrimento real, vitória final.

João está ensinando que o amor é a evidência visível de que fomos alcançados por esse Deus. “Se amamos uns aos outros, Deus permanece em nós.” O amor não é a causa da salvação, mas o fruto dela. Não é o caminho para chegar a Deus, mas o sinal de que já estamos nele. Essa é a lógica do evangelho. Tudo começa com Deus. Ele nos amou primeiro. Ele tomou a iniciativa. Ele nos alcançou. E agora, amamos porque fomos amados.

O problema com a leitura cínica da história — seja sobre Davi, Henrique VIII ou a própria Igreja — é que ela não sabe lidar com essa lógica. Para o cínico, ninguém ama de verdade. Ninguém faz o bem por convicção. Todo mundo tem segundas intenções. Por isso, qualquer gesto de fé, qualquer ato de caridade, qualquer movimento de reforma é visto como disfarce. Mas essa visão de mundo é autoconsumível. Ela se destrói sozinha, porque nega a possibilidade da graça. E sem graça, só resta desespero.

João nos apresenta uma alternativa. Não uma ingenuidade infantil, mas uma fé robusta. Ele reconhece que há falsos profetas. Que há engano. Que há conflito. Mas ele não permite que isso apague a verdade maior: Deus nos amou. E esse amor não é abstrato. Ele se manifesta em Cristo. Ele habita em nós pelo Espírito. Ele transforma nossa relação com o outro.

Essa visão é profundamente contracultural. Em uma sociedade marcada pelo individualismo, pelo medo e pela competição, João anuncia que “no amor não há medo”. O medo, diz ele, está ligado ao castigo. Mas quem foi aperfeiçoado no amor não vive mais sob o jugo do medo. Porque sabe que a justiça já foi feita na cruz. Sabe que o juízo não é mais uma ameaça, mas uma promessa de restauração. Sabe que, em Cristo, o fim já foi decidido.

A consequência prática disso é direta e inescapável: “Se alguém diz que ama a Deus, mas odeia o seu irmão, é mentiroso.” João não está fazendo um apelo emocional. Ele está traçando uma linha doutrinária. Não há compatibilidade entre fé cristã e ódio ao próximo. A fé que não se traduz em amor é falsa. A ortodoxia que não produz compaixão é heresia prática. E a Igreja que perde a capacidade de amar perde a sua identidade.

Isso nos obriga a revisar não apenas a maneira como lemos a Bíblia ou a história, mas como vivemos. O amor não é uma virtude opcional para os crentes. É a marca do novo nascimento. É o sinal da habitação de Deus. É a evidência de que a fé é real. João nos chama à coerência. E a coerência cristã começa quando reconhecemos que não somos o centro da história — Deus é. E que o poder que rege o universo não é o cinismo, mas o amor. Um amor santo, justo, eterno e encarnado.

Essa mudança de foco, do cinismo para a fé, do poder para o amor, é mais do que um ajuste de lentes. É uma conversão. É um novo nascimento na forma de ver a realidade. Onde o mundo vê apenas ambição, o evangelho enxerga vocação. Onde o mundo lê manipulação, a Palavra revela missão. Onde o mundo percebe um jogo de interesses, o Espírito de Deus revela o agir da graça.

Isso não significa negar os conflitos e pecados da história. A Escritura jamais o faz. Davi realmente cometeu adultério. Ele realmente planejou a morte de Urias. Ele foi um homem marcado por contradições. Mas o que torna a história de Davi diferente das histórias fabricadas por ideologias é justamente a transparência bíblica. A Bíblia não cria heróis perfeitos, mas pecadores redimidos. O que McKenzie lê como propaganda, a fé cristã reconhece como um retrato fiel da tensão entre a fragilidade humana e a fidelidade divina.

Da mesma forma, a história da Igreja é repleta de sombras. Há abusos, desvios, escândalos. Mas também há mártires. Há reformas. Há conversões sinceras. Há comunidades transformadas. A presença de pecado não anula a possibilidade da graça. Pelo contrário: é justamente no meio da corrupção humana que o evangelho mostra seu poder. A luz brilha nas trevas, e as trevas não prevalecem contra ela.

O problema com a leitura cínica da história é que ela assume que os males são o todo. Que o desvio é a essência. Que toda instituição religiosa é, no fundo, uma fachada. E que o bem é sempre fingido. Mas o cristianismo ensina o contrário. O mal é real, mas é parasitário. Ele depende do bem para existir. Ele é a distorção de algo bom. O pecado é uma ferida, não a estrutura. A redenção é possível porque o mal não é o fundamento da realidade — Deus é.

Quando João diz que “aquele que ama nasceu de Deus”, ele está nos apontando para essa realidade redentora. Não se trata de um humanismo vago, mas de uma transformação operada pelo Espírito. Amar, para João, não é apenas agir com gentileza. É manifestar, no mundo visível, o caráter invisível de Deus. É tornar tangível, na carne, o que é eterno. Isso é o que a encarnação de Cristo inaugurou. E é isso que a Igreja é chamada a encarnar hoje.

No mundo antigo, o amor era frequentemente visto como fraqueza. A virtude era medida pela honra, pela força, pelo domínio. A cruz era escândalo porque significava humilhação. Mas é exatamente ali, no ponto mais baixo da história, que o cristianismo afirma ter acontecido a maior vitória. Não porque o mal triunfou, mas porque Deus se entregou. Porque o Filho de Deus morreu pelos seus inimigos. E esse é o padrão de amor que nos foi dado.

Essa mensagem não é compreensível para o espírito do tempo. O pós-modernismo herdou do modernismo o hábito de desconfiar de tudo, mas foi além: não há mais verdade absoluta, não há mais narrativa confiável, não há mais sentido objetivo. Tudo é questão de perspectiva. Tudo é interpretação. A história é apenas construção. A identidade é fluida. A fé é uma preferência. E, nesse mar de relativismo, amar de forma absoluta parece loucura.

Mas João é claro: “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados.” O amor começa em Deus. Ele não é nosso produto. Não é nossa conquista. É dom. E, sendo dom, ele é fundamento. Ele não depende do reconhecimento do outro. Ele não exige recompensa. Ele se oferece mesmo quando não é compreendido. Mesmo quando é rejeitado.

Essa é a força mais revolucionária que o mundo já conheceu. Não é o poder militar. Não é a manipulação cultural. É o amor sacrificial. É a entrega voluntária. É o Cristo crucificado que ora por aqueles que o matam. É Estêvão sendo apedrejado e pedindo perdão pelos seus algozes. É Paulo evangelizando soldados enquanto está acorrentado. É a história dos que perdem tudo neste mundo, mas ganham uma pátria eterna.

É esse amor que falta nos diagnósticos modernos da história. Eles podem explicar revoluções, conquistas, decadências. Mas não explicam o perdão. Não explicam a conversão. Não explicam a vida nova. Porque, ao negar a transcendência, o ceticismo moderno se fecha à graça. E, sem graça, a história se torna um ciclo de desespero. Mas a fé cristã rompe esse ciclo. Ela afirma que há um fim — e que esse fim é redenção.

João termina sua exortação com um imperativo que resume todo o capítulo: “Quem ama a Deus, ame também a seu irmão.” Não é opcional. Não é subjetivo. É mandamento. E é mandamento porque é consequência inevitável do novo nascimento. Quem foi alcançado pelo amor de Deus não pode permanecer indiferente ao outro. Não pode odiar. Não pode isolar-se. Não pode fechar-se no orgulho ou na autopreservação.

O amor de Deus, quando nos alcança, nos transforma. Ele não nos deixa onde estávamos. Ele nos convoca. Ele nos envia. Ele nos compromete com o bem do outro. Com a verdade. Com a justiça. Não como imposição externa, mas como transbordamento interno. Como fruto do Espírito. Como resposta à cruz.

É por isso que precisamos, urgentemente, redescobrir essa leitura cristã da história. Uma leitura que reconhece o pecado, mas não se rende ao cinismo. Que enfrenta a dor, mas não perde a esperança. Que vê as falhas dos homens, mas confia na fidelidade de Deus. Uma leitura que começa na encarnação, passa pela cruz, e culmina na ressurreição. Uma leitura moldada por amor.

Essa leitura não ignora o que Marx observou: sim, houve e há opressores e oprimidos. Mas ela recusa a ideia de que essa é toda a história. Porque onde há opressão, Deus levanta libertadores. Onde há trevas, Ele acende luz. Onde há morte, Ele ressuscita. A história, à luz da fé, não é um ciclo sem sentido. É um movimento em direção à consumação. E essa consumação tem um nome: Cristo.

Conclusão:

A última palavra da história não será a do cinismo. Não será a do império. Não será a da crítica. Será a do Cordeiro que foi morto, mas está vivo. E Ele reinará para sempre. E esse reinado não será marcado pelo medo, mas pelo amor. Não será um reino de dominação, mas de restauração. Não será construído por propaganda, mas pela verdade. E essa verdade é uma Pessoa.

Por isso, quando lermos a história — seja a de Davi, seja a da Igreja, seja a nossa — precisamos lembrar: há mais do que escândalo. Há mais do que fracasso. Há graça. Há redenção. E há um chamado: amar como fomos amados.

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