Cristóvão Colombo, um nome intrinsecamente ligado à história da América, liderou viagens que marcaram um encontro transformador entre o Velho e o Novo Mundo. Este evento, descrito por alguns como o mais importante desde o fim da Idade do Gelo, alterou irrevogavelmente a trajetória da história humana.
Nascido em Génova, Itália, Colombo tornou-se um marinheiro experiente, navegando pelo Mediterrâneo e viajando para partes da África, Irlanda e possivelmente até à Islândia. Ele próprio afirmou ter ido a todos os lugares que até então tinham sido navegados e possuía um profundo conhecimento do Atlântico, talvez superior ao dos marinheiros da atualidade, compreendendo as correntes, os ventos e as superfícies do mar.
Embora a visão popular possa sugerir que Colombo navegou para provar que a Terra era redonda, a maioria dos europeus e marinheiros educados já possuía esse conhecimento. Uma das motivações para a sua estimativa do tamanho do Oceano Atlântico surgiu da sua leitura do Segundo Livro de Esdras (nos Apócrifos), onde se lê que Deus criou o mundo em sete partes, seis de terra seca e a sétima de água. Com base nisso, Colombo calculou que o oceano que separava Portugal de Cipango (Japão) era um sétimo da circunferência da Terra, cerca de 2.400 milhas. Ele imaginava poder alcançar as Índias em 30 dias, navegando a 100 milhas por dia.
Para além da busca por uma rota comercial para o Oriente, que era uma aspiração da época para obter glória, riquezas e títulos, Colombo via a sua viagem em termos muito maiores, imbuído de uma profunda convicção religiosa. Ele sentia que o próprio Deus Todo-Poderoso tinha conduzido a sua jornada. Em 1500, Colombo declarou que Deus o havia feito o mensageiro do novo céu e da nova terra mencionados no Apocalipse de São João e profetizados por Isaías, mostrando-lhe o local onde encontrá-los. Esta crença numa missão divina era central para as suas viagens, que ele considerava missões religiosas intensas e o cumprimento de um plano divino para a sua vida e para o iminente fim do mundo.
Antes da sua primeira viagem, Colombo passou quase sete anos na corte espanhola, a procurar financiamento para a sua “empresa das Índias”. Apesar de uma comissão real em 1490 ter julgado as suas alegações vãs e impraticáveis, Colombo persistiu.
Finalmente, a 3 de agosto de 1492, Colombo partiu de Palos, Espanha, com três navios: a Santa María, a Niña e a Pinta. As velas ostentavam cruzes, simbolizando a natureza da sua missão. A viagem foi marcada por desafios, incluindo problemas com as bússolas e períodos de calmaria. No entanto, a 12 de outubro de 1492, após dez semanas no mar, avistaram terra. Colombo chamou a ilha de Guanahaní de San Salvador (“Santo Salvador”). Ele acreditava ter chegado à “porta de entrada para o reino do Grande Khan”, embora tivesse errado nos seus cálculos por milhares de quilómetros.
Durante a viagem, a tripulação observava ritos religiosos, recitando orações a cada meia hora e cantando vésperas diariamente. Colombo era conhecido pela sua excepcional piedade, sendo constantemente visto em oração e invocando os nomes de Cristo, Maria e os santos. O seu filho Fernando escreveu que Colombo era tão estrito em assuntos religiosos que poderia ter sido confundido com um membro de uma ordem religiosa, jejuando observadoramente e participando frequentemente na confissão e comunhão.
No seu primeiro contacto com os povos nativos, Colombo reconheceu que eles seriam melhor convertidos à “Santa Fé por amor do que por força”. Ele ofereceu-lhes presentes e notou a sua inteligência e potencial para se tornarem “bons e inteligentes servos” e cristãos. No entanto, esta observação inicial continha a semente de uma visão que combinava a evangelização com a potencial escravização.
Colombo realizou mais três viagens para as Américas. Ele via-se como um “Cristo-portador”, abrindo caminho para que a mensagem cristã chegasse a povos que nunca a tinham ouvido. Ele citava escrituras como João 10:16 e Isaías 60:9 para validar a sua missão, acreditando que as ilhas esperavam por ele para trazer os seus filhos ao Senhor. Em cada ilha que explorava, Colombo erguia uma grande cruz de madeira como sinal desse trabalho.
A crença de Colombo no seu papel na profecia do fim dos tempos era forte. Ele acreditava que Fernando e Isabel eram instrumentos escolhidos por Deus para reconquistar Jerusalém e colocar a Cidade Santa sob controlo cristão. A busca por ouro não era apenas para ganho pessoal, mas também para financiar uma cruzada para retomar a Terra Santa.
O legado de Colombo é complexo e amplamente debatido. O seu desembarque em 1492 marcou o início de uma vasta troca de pessoas, animais, plantas, doenças e ideias religiosas entre os continentes. Devido às suas viagens e aos esforços evangelísticos espanhóis que se seguiram, a América Latina tem uma percentagem mais elevada de cristãos professos do que qualquer outra região do mundo.
No entanto, a chegada de Colombo também deu início a um período de conquista, exploração e sofrimento para os povos indígenas. Em nome de Cristo, milhares foram mortos e milhões escravizados. O sistema de encomienda levou à desapropriação de terras e à escravidão disfarçada.
Apesar da violência perpetrada em nome da fé, houve também vozes de protesto dentro da própria igreja. Dominicanos como Antonio de Montesinos e Bartolomé de Las Casas denunciaram o tratamento cruel dos indígenas e defenderam os seus direitos. Missionários como Pedro Claver e Luis Beltrán dedicaram as suas vidas a aliviar o sofrimento dos escravizados e dos indígenas.
A história da chegada do cristianismo às Américas é, portanto, uma história de “cruz e espada”. A mesma Espanha que buscava a conquista política também serviu como poderosa patrona da religião cristã. Conquistadores como Hernando Cortés e Francisco Pizarro eram homens de fé, embora as suas ações fossem frequentemente marcadas pela violência e crueldade.
O legado religioso de Colombo inclui o estabelecimento do catolicismo como força dominante na América Latina durante séculos. No entanto, a partir do século XX, o protestantismo experimentou um crescimento significativo na região.
Em conclusão, Cristóvão Colombo foi uma figura complexa, motivada por uma mistura de ambição, busca de riqueza e profunda convicção religiosa. As suas viagens tiveram um impacto histórico inegável, levando ao encontro de dois mundos e à disseminação do cristianismo nas Américas. No entanto, este legado está inseparavelmente ligado ao sofrimento e à exploração dos povos indígenas, levantando questões éticas que continuam a ser debatidas na atualidade. A história de Colombo e do cristianismo nas Américas é um testemunho da capacidade humana tanto para a fé fervorosa como para a cruel exploração, e das vozes corajosas que se levantaram contra a injustiça em nome da sua fé.