Ao levantarmos esta questão, somos convidados a contemplar a riqueza e a diversidade da narrativa bíblica sobre a vida, ministério, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Os quatro evangelhos — Mateus, Marcos, Lucas e João — não são repetições desnecessárias ou contradições, mas perspectivas complementares que revelam diferentes facetas do Filho de Deus. Vamos explorar essa verdade com reverência, guiados pelas Escrituras e pela perspectiva arminiana.
1. A Unidade e Diversidade dos Evangelhos
Os quatro evangelhos compartilham um propósito comum: apresentar Jesus como o Messias prometido, o Salvador do mundo e o Filho de Deus. No entanto, cada evangelho foi escrito para públicos específicos e com ênfases teológicas distintas. Essa diversidade reflete a sabedoria divina em comunicar o evangelho de maneira acessível e relevante para diferentes contextos culturais e espirituais.
a) Uma Perspectiva Teológica
Os evangelhos não são biografias modernas no sentido estrito, mas narrativas teologicamente orientadas. Eles selecionam eventos e ensinos da vida de Jesus para destacar aspectos específicos de quem Ele é e qual é Sua missão. Por exemplo:
- Mateus enfatiza Jesus como o Messias judeu, cumpridor das profecias do Antigo Testamento.
- Marcos apresenta Jesus como o Servo Sofredor, cuja obra culmina na cruz.
- Lucas destaca Jesus como o Salvador universal, que veio buscar e salvar os perdidos.
- João revela Jesus como o Filho de Deus eterno, cuja identidade divina transforma aqueles que creem.
Essas ênfases diferentes não contradizem umas às outras, mas se complementam, oferecendo uma visão multifacetada da pessoa e obra de Cristo.
2. Os Públicos-Alvo e Propósitos de Cada Evangelho
Cada evangelho foi escrito com um público específico em mente, moldando seu estilo, conteúdo e mensagem.
a) Mateus: Para o Povo Judeu
Mateus escreveu principalmente para os judeus, provando que Jesus era o Messias prometido nas Escrituras hebraicas. Ele cita frequentemente o Antigo Testamento (por exemplo, Mateus 1:22-23; 2:15) e organiza os ensinos de Jesus em cinco grandes discursos, ecoando os cinco livros de Moisés (Pentateuco). O objetivo de Mateus é mostrar que Jesus é o Rei prometido, cujo reinado inaugura o cumprimento das promessas de Deus.
b) Marcos: Para os Romanos
Marcos escreveu para um público romano, enfatizando a ação e autoridade de Jesus. Seu evangelho é direto, conciso e focado na atividade poderosa de Cristo como o Servo Sofredor. Marcos omite muitos detalhes genealógicos e proféticos que poderiam ser menos relevantes para os romanos, concentrando-se nos milagres e sacrifício de Jesus. O tema central é o chamado à fé e ao discipulado radical (Marcos 8:34).
c) Lucas: Para os Gentios
Lucas escreveu para um público gentio, destacando a universalidade do evangelho. Como médico e historiador cuidadoso, ele apresenta Jesus como o Salvador compassivo de toda a humanidade, incluindo os marginalizados, os pobres e os pecadores. Lucas enfatiza temas como a justiça social, a inclusão e a misericórdia de Deus (por exemplo, a parábola do Bom Samaritano, Lucas 10:25-37). Seu propósito é mostrar que a salvação é para todos, sem distinção.
d) João: Para Crentes e Não-Crentes
João escreveu para fortalecer a fé dos crentes e atrair os não-crentes a Jesus. Seu evangelho é mais teológico e contemplativo, enfatizando a divindade de Cristo e a necessidade de crer nEle para ter vida eterna. João usa símbolos como luz, água viva e pão da vida para revelar a identidade transcendente de Jesus. Ele declara explicitamente seu propósito: “Estes foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (João 20:31).
3. A Complementariedade dos Evangelhos
A existência de quatro evangelhos demonstra que a mensagem de Jesus é suficientemente rica para ser apresentada de múltiplas maneiras. Cada evangelho contribui com uma dimensão única para nossa compreensão de Cristo:
- Mateus nos lembra que Jesus é o cumprimento das Escrituras.
- Marcos nos desafia a seguir a Jesus com urgência e compromisso.
- Lucas nos encoraja a ver a graça de Deus alcançando todas as pessoas.
- João nos convida a crer em Jesus como o Filho de Deus e experimentar vida abundante.
Essa complementariedade reflete a complexidade e profundidade da pessoa de Jesus. Ele é simultaneamente Rei, Servo, Salvador e Deus encarnado. Os quatro evangelhos trabalham juntos para pintar um quadro completo de quem Ele é e qual é Sua missão.
4. A Perspectiva Arminiana: Liberdade Humana e Resposta ao Chamado
Do ponto de vista arminiano, os quatro evangelhos também refletem a importância da liberdade humana na resposta ao evangelho. Cada evangelho apresenta Jesus de maneira acessível a diferentes audiências, reconhecendo suas necessidades e contextos específicos. Isso demonstra que Deus respeita a diversidade cultural e individual, adaptando Sua revelação para alcançar corações de maneiras relevantes.
Além disso, os evangelhos enfatizam que a salvação é um convite universal, mas exige uma resposta pessoal. Jesus chama todos ao arrependimento e à fé, mas cabe a cada indivíduo aceitar ou rejeitar esse chamado. Essa dinâmica está claramente expressa em João 1:12: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome.”
5. A Importância dos Evangelhos para Nossa Vida Hoje
Os quatro evangelhos continuam sendo fontes inestimáveis para nossa caminhada com Deus. Eles nos ajudam a conhecer Jesus em Sua plenitude e nos inspiram a segui-Lo de maneira fiel e transformadora. Ao estudarmos os evangelhos, somos desafiados a:
- Reconhecer Jesus como nosso Rei e Senhor (Mateus).
- Abraçar o chamado ao serviço e sacrifício (Marcos).
- Estender a graça e a misericórdia de Deus aos outros (Lucas).
- Crer firmemente em Sua divindade e experimentar vida abundante (João).
Conclusão: Um Convite à Exploração Profunda
Por que existem quatro evangelhos diferentes no Novo Testamento? Porque eles revelam a riqueza e a multidimensionalidade de Jesus Cristo, adaptando Sua mensagem às necessidades e contextos de diferentes públicos. Juntos, eles formam um mosaico glorioso que nos ajuda a entender quem é Jesus e qual é Sua missão redentora.
Que esta compreensão inspire em nós um estudo profundo e amoroso dos evangelhos. Como escreveu Pedro: “Tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provas, para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo” (1 Pedro 1:6-7). Que possamos encontrar em cada evangelho uma nova razão para amar e seguir a Jesus.
“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). Que esta promessa ecoe em nossos corações enquanto mergulhamos nas páginas dos evangelhos, descobrindo nelas a verdade que transforma vidas.
Os quatro evangelhos apresentam Jesus de formas complementares, atendendo a diferentes públicos e propósitos. Mateus destaca Jesus como Messias judeu; Marcos, como Servo Sofredor; Lucas, como Salvador universal; e João, como Filho de Deus. Juntos, revelam a riqueza multifacetada de Cristo, adaptando Sua mensagem à diversidade humana e convidando todos ao arrependimento e fé.
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