Muitos pregadores negligenciam o Antigo Testamento por diversas razões, conforme apontam as fontes.
Primeiramente, pregar sobre o Antigo Testamento é frequentemente considerado mais difícil do que pregar sobre o Novo Testamento. Alguns pregadores até acham o Antigo Testamento mais fácil, mas isso pode ocorrer porque eles o reduzem a uma mera fonte de homilias moralizadoras, utilizando os personagens do Antigo Testamento como simples tipos. Outros se contentam em apenas recontar as histórias do Antigo Testamento, deixando que os ouvintes cheguem às suas próprias conclusões, sem apresentar a perspectiva cristã unificada que perpassa toda a Bíblia, desde a criação em Cristo até a sua consumação com o retorno de Cristo em glória. A história do Antigo Testamento não pode ser isolada de Cristo, que lhe provê sentido, assim como uma cena de uma peça teatral não pode ser separada de seu ponto culminante e desenlace.
Para alguns cristãos, o Novo Testamento parece mais acessível e familiar, comparado aos livros do Antigo Testamento, que podem parecer vastos e desconhecidos, como as terras inexploradas do oeste americano para os pioneiros. Os grandes campos da história patriarcal, as rochas da lei levítica e as densas florestas dos profetas podem afugentar muitos. Embora algumas histórias do Antigo Testamento sejam conhecidas, muitos cristãos preferem permanecer no ambiente mais familiar dos Evangelhos e das epístolas. Os livros do Antigo Testamento são extensos, exigem o conhecimento de muitas histórias esquecidas ou nunca aprendidas, e contêm nomes difíceis de pronunciar, tornando a jornada pelo Antigo Testamento aparentemente difícil, morosa e até inútil.
Por motivos como esses, muitos acabam abandonando o Antigo Testamento em favor do Novo, deixando-o para estudiosos, arqueólogos e professores. Contudo, ao negligenciar esses livros, despreza-se a revelação de Deus e limita-se a capacidade de entender a revelação de Jesus Cristo no Novo Testamento. Se Cristo é a chave da história humana, o Antigo Testamento descreve em detalhes a fechadura; se Cristo é o ápice da história, o Antigo Testamento prepara o cenário e inicia o enredo.
Há também a percepção de que o Antigo Testamento é longo e entediante, obscuro e enigmático. A questão se o Novo Testamento não teria suplantado o Antigo também contribui para essa negligência. Alguns podem pensar que estudar o Antigo Testamento é como comer peixe com espinhos quando se pode ter um filé sem espinhos.
Além disso, algumas pessoas têm problemas mais profundos com o Antigo Testamento, considerando os profetas exaltados, os sacrifícios de animais e as leis aparentemente arcaicas como “primitivos” ou “rudes”. Em um contexto de crescente ênfase no multiculturalismo, o Antigo Testamento pode parecer etnocêntrico e fora de compasso com os tempos.
Essa tendência de negligenciar o Antigo Testamento não é nova. Ao longo da história da igreja, houve quem se sentisse desconfortável com ele. No final do século II, Marcião e seus seguidores rejeitaram todo o Antigo Testamento por considerarem o Deus ali revelado cruel, irado e inconsistente com o Deus de Jesus de Nazaré. Embora a igreja tenha rejeitado essa atitude radical, um efeito semelhante ocorre hoje em muitos círculos evangélicos, onde, apesar de não haver uma rejeição teológica explícita, o Antigo Testamento é frequentemente ignorado, sendo buscado apenas por algumas histórias conhecidas ou alguns salmos e provérbios preferidos.
A preguiça também pode ser um fator na negligência do Antigo Testamento. Compreender o Novo Testamento, que revela Deus em Cristo, é essencial para os cristãos. No entanto, ignorar o Antigo Testamento significa deixar de lado a base e o fundamento do Novo. O Antigo Testamento fornece o contexto crucial para a compreensão da pessoa e da obra de Cristo, incluindo a criação, a rebelião humana, a morte como consequência do pecado, a eleição de um povo específico, a revelação do pecado pela lei e a história do povo de Deus. Para entender o propósito de Deus na história e a própria linha histórica, é necessário começar do início. Um melhor entendimento do Antigo Testamento leva a uma melhor compreensão do Novo Testamento e, consequentemente, de Jesus Cristo, do cristianismo, de Deus e de nós mesmos.
Finalmente, a falta de ênfase no ensino do Antigo Testamento nas igrejas também contribui para o seu desconhecimento e negligência. Uma pesquisa indicou que muitos norte-americanos, embora acreditem na Bíblia, não a leem e desconhecem passagens e fundamentos cruciais da fé. Essa falta de leitura e ensino perpetua um ciclo de analfabetismo bíblico, onde as gerações mais jovens conhecem ainda menos o conteúdo da Bíblia, incluindo o Antigo Testamento.