Na aurora da fé cristã, antes que as tradições se fixassem rigidamente e o peso de séculos de interpretação se fizesse sentir plenamente, as mulheres floresceram em diversas funções dentro da comunidade dos crentes. Longe de serem meras espectadoras, elas eram participantes ativas na propagação do Evangelho e na edificação da Igreja nascente.
Um dos papéis mais proeminentes desempenhados pelas mulheres foi o de testemunhas da ressurreição. Foram elas as últimas junto à cruz, demonstrando uma coragem que faltou a muitos dos discípulos homens, e as primeiras a encontrar o túmulo vazio. O próprio Senhor ressuscitado escolheu aparecer a elas primeiro, confiando-lhes a surpreendente mensagem da vitória sobre a morte para ser anunciada aos outros. Maria Madalena, em particular, é reconhecida como aquela que levou as boas novas aos apóstolos, sendo considerada por alguns na igreja primitiva como a “apóstola dos apóstolos”. O testemunho dessas mulheres permanece um alicerce fundamental da fé cristã.
As mulheres também exerciam a função de liderança em igrejas domésticas. À medida que o Cristianismo se espalhava pelas cidades do Império Romano, os lares tornavam-se centros de culto e comunhão. Várias mulheres são mencionadas nas Escrituras e em outros escritos como aquelas em cuja casa a igreja se reunia e que aparentemente supervisionavam essas comunidades. Nomes como Priscila (que, juntamente com seu marido Áquila, instruiu Apolo no caminho de Deus), Cloé (cuja casa em Corinto era um ponto de referência), Lídia (uma comerciante de púrpura que hospedou Paulo e sua comitiva em sua casa), Áfia e Ninfa são exemplos dessas líderes. A própria mãe de João Marcos também tinha sua casa como um lugar de encontro para os crentes. Estas mulheres exerciam uma liderança prática, cuidando das necessidades espirituais e materiais daqueles que se reuniam sob seus cuidados.
O dom da profecia também se manifestou poderosamente entre as mulheres na igreja primitiva. As quatro filhas do evangelista Filipe são especificamente mencionadas no livro de Atos como profetisas. A profecia, entendida como falar a Palavra de Deus para edificação, exortação e consolação, não era um dom exclusivo dos homens. Embora houvesse controvérsias em torno do ministério profético, especialmente quando associado a grupos considerados marginais ou heréticos, a presença de profetisas dentro da corrente principal da igreja é inegável. Ammia, uma profetisa que atuou na Filadélfia durante os tempos do Novo Testamento, era reverenciada em toda a Ásia Menor.
O papel de diaconisa era uma função formalmente reconhecida na igreja primitiva. Paulo menciona Febe como “diácona da igreja de Cencréia”. A palavra grega diakonos significa servo ou ministro, e no caso de Febe, sugere um papel oficial de serviço à igreja. Documentos posteriores, como a Didascalia e as Constituições Apostólicas, detalham as responsabilidades das diaconisas, que incluíam visitar mulheres crentes em lares pagãos, ministrar aos enfermos, auxiliar no batismo de mulheres (ungindo-as com óleo e instruindo-as sobre pureza) e levar a comunhão às mulheres doentes. A ordenação de diaconisas é mencionada em documentos antigos, como o Concílio de Calcedônia e as Constituições Apostólicas. Febe é ainda chamada de prostatis, um termo associado à supervisão e cuidado, indicando uma posição de significativa responsabilidade.
Existiam também as viúvas eclesiais, que formavam uma ordem dedicada ao serviço da igreja. Sustentadas pelas doações da congregação, esperava-se que essas mulheres orassem por seus benfeitores e por toda a igreja. Em alguns documentos, como o Testamento de Nosso Senhor Jesus Cristo, as viúvas eram claramente consideradas parte do clero ordenado, sendo chamadas de “presbiterisas” e tendo assentos de honra na frente da congregação durante a comunhão. Elas também assumiam responsabilidades pastorais, como instruir catecúmenas e os ignorantes, reunir aqueles que desejavam viver uma vida pura e repreender os rebeldes.
Mulheres da igreja primitiva também se dedicaram ao ensino e à erudição bíblica. Círculos de mulheres romanas estudavam as Escrituras, o hebraico e o grego com figuras como Jerônimo, alcançando tal conhecimento que ele não hesitava em encaminhar anciãos da igreja a Marcela para a resolução de problemas hermenêuticos. Agostinho chegou a afirmar que “qualquer mulher cristã idosa” era mais bem educada em questões espirituais do que muitos filósofos. Embora houvesse restrições sobre as mulheres ensinarem em assembleias mistas de homens e mulheres, sua capacidade de ensinar e sua profundidade de conhecimento eram reconhecidas.
O serviço social e a filantropia eram marcas distintivas do ministério feminino na igreja primitiva. Fabíola fundou o primeiro hospital cristão da Europa, e muitas outras mulheres ricas usaram seus recursos generosamente para ajudar os pobres, enfrentando, por vezes, a oposição de suas famílias. Elas cuidavam dos enfermos, forneciam cobertores, comida e assistência financeira aos necessitados e organizavam enterros para os indigentes. Paula, uma nobre romana, não apenas doou sua vasta riqueza, mas também tomou empréstimos para continuar suas obras de caridade.
Mesmo em meio a controvérsias e desafios colocados pelas normas sociais da época e pelas tentativas de restringir seus papéis, as mulheres da igreja primitiva demonstraram uma notável dedicação e um profundo compromisso com o Reino de Deus. Suas contribuições multifacetadas foram essenciais para o crescimento e a consolidação da fé cristã em seus primeiros séculos. Ao revisitar a história com olhos abertos à evidência bíblica e dos primeiros escritos da igreja, torna-se claro que as mulheres não foram figuras marginais, mas sim participantes vitais na tapeçaria da fé cristã primitiva.