A consequência da embriaguez de Noé resultou em desrespeito e em pronunciações proféticas de maldições e bênçãos sobre seus descendentes.
Após o dilúvio, Noé voltou-se para a agricultura e plantou uma vinha. A ingestão excessiva do vinho produzido o levou à embriaguez, um estado de vulnerabilidade e perda de decoro. Nesse momento, Cão (Ham) e, provavelmente, seu filho Canaã demonstraram uma falta de respeito para com Noé, seu pai. O texto não detalha a natureza exata desse desrespeito, mas a reação subsequente de Noé indica que foi uma transgressão significativa das normas familiares e sociais da época.
Este incidente de desrespeito filial provocado pela embriaguez de Noé deu ocasião a declarações paternas de maldições e bênçãos proferidas por ele. O veredicto de Noé teve um alcance profético. Ele antecipou a atitude pecaminosa de Cão, que se refletiria na linhagem de Canaã, um dos quatro filhos de Cão. Séculos mais tarde, os cananeus, caracterizados pela impiedade, foram alvo do severo juízo divino quando os israelitas ocuparam suas terras. Essa conexão estabelecida por Noé entre o desrespeito de Cão/Canaã e o futuro sofrimento dos cananeus sugere que a ação inicial de desrespeito foi vista como um prenúncio de uma disposição moral e espiritual problemática nessa linhagem.
Por outro lado, Sem e Jafé, os outros filhos de Noé, receberam as bênçãos de seu pai. Essa distinção entre os filhos de Noé, baseada na reação ao seu momento de fraqueza, estabeleceu uma trajetória profética para seus respectivos descendentes. A bênção de Sem é frequentemente associada à linhagem da qual Abraão e, posteriormente, Israel surgiram, carregando as promessas da aliança. A bênção de Jafé é, por vezes, interpretada como uma promessa de expansão e influência cultural.
Portanto, a embriaguez de Noé não foi um evento isolado sem consequências. Ela desencadeou uma reação de desrespeito por parte de um de seus filhos e um neto, o que, por sua vez, levou Noé a proferir palavras proféticas que moldariam a história futura de seus descendentes, com implicações tanto de juízo quanto de bênção. Este episódio serve como um lembrete de que mesmo as ações privadas podem ter repercussões públicas e duradouras, especialmente quando envolvem figuras de autoridade patriarcal em um contexto de aliança com o divino.