Vários fatores históricos significativos influenciaram a tradução da Septuaginta (LXX), a versão grega do Antigo Testamento.
Primeiramente, a ascensão do helenismo e a diáspora judaica foram cruciais. No período após as conquistas de Alexandre, o Grande, a cultura e a língua grega se disseminaram amplamente pelo Mediterrâneo oriental, incluindo o Egito. Uma população judaica considerável se estabeleceu no Egito e em outras regiões de língua grega, tornando o grego sua língua principal de comunicação e culto. Essa comunidade de judeus helenizados não tinha acesso direto às Escrituras em hebraico, sua língua original.
Em segundo lugar, surgiu uma necessidade premente por Escrituras acessíveis na língua franca da época. Para que os judeus de fala grega pudessem estudar e praticar sua fé, tanto em suas vidas privadas quanto nas sinagogas, era essencial ter uma tradução do Antigo Testamento para o grego. A Septuaginta surgiu como uma resposta direta a essa demanda linguística e religiosa.
Em terceiro lugar, o contexto político e cultural do Egito ptolemaico desempenhou um papel importante. A Septuaginta começou a circular no Egito durante o reinado de Ptolomeu Filadelfo (285-246 a.C.). Embora o texto não declare explicitamente, a tradição sugere que a tradução foi realizada sob o patrocínio real, possivelmente para enriquecer a famosa biblioteca de Alexandria com uma cópia das leis dos judeus. Essa iniciativa real teria fornecido os recursos e o apoio necessários para um empreendimento de tal magnitude.
Quarto, a adoção da Septuaginta pela igreja cristã primitiva foi um fator histórico subsequente que consolidou sua importância e influência. O Novo Testamento foi escrito em grego, e os primeiros cristãos, muitos dos quais eram judeus de fala grega ou gentios familiarizados com o grego, utilizaram a Septuaginta como seu Antigo Testamento. É altamente provável que Paulo e outros apóstolos se valeram da versão grega ao argumentar que Jesus era o Messias (Atos 17.2-4). A Septuaginta, portanto, serviu como a base escriturística para a expansão do cristianismo nos primeiros séculos.
Quinto, a reação da comunidade judaica à Septuaginta também influenciou sua história. Com o tempo, surgiram tensões entre judeus e cristãos, e os judeus passaram a questionar a precisão da tradução grega, alegando que ela havia sido afetada por interpretações e crenças cristãs. Essa crítica levou os judeus a se apegarem mais firmemente ao texto hebraico original, que continuou a ser transmitido com grande cuidado pelos escribas e massoretas. Essa divergência fez com que a Septuaginta se tornasse principalmente o domínio da igreja cristã, enquanto as comunidades judaicas priorizavam o texto hebraico.
Sexto, a mudança nos materiais de escrita e nos formatos dos livros também teve um impacto indireto. Inicialmente, o texto hebraico era transmitido em rolos de pele. No século II d.C., a forma de códice (livro) começou a ser utilizada, inicialmente feita de papiro e depois de vitela, tornando-se o formato padrão para as Escrituras em grego. A adoção do códice exigiu uma ordem definida para os livros, o que contribuiu para a eventual padronização da ordem dos livros do Antigo Testamento na forma como a conhecemos hoje nas Bíblias gregas e modernas.
Em resumo, a tradução da Septuaginta foi um produto da interação entre a cultura helenística, a diáspora judaica e a necessidade de acesso às Escrituras em grego. Sua adoção pela igreja cristã primitiva e a subsequente reação da comunidade judaica moldaram sua história e seu papel duradouro na tradição textual bíblica.