20250402 a small group of anabaptists gathered in a dimly l u1

Os Anabatistas foram um movimento religioso do século XVI que surgiu no contexto da Reforma Protestante, mas que se distinguiu das principais correntes reformadoras lideradas por Martinho Lutero, Ulrico Zwingli e João Calvino. O termo “Anabatista” era, na verdade, um apelido depreciativo cunhado por seus oponentes e significa “aquele que batiza novamente”. No século XVI na Europa cristã, este era um dos piores nomes que se podia atribuir a alguém. Isso porque, sob a lei civil romana, rebatizar ou ser rebatizado era um crime passível de morte, conforme decretos imperiais de 390 a 420 d.C.. Os reformadores, ao criarem leis e procedimentos judiciais alinhados com sua visão das Escrituras, utilizaram o Código de Justiniano, que mantinha a pena de morte para os rebatizadores. Assim, o nome “Anabatista” carregava consigo um estigma desfavorável.

A origem formal do movimento Anabatista ocorreu em Zurique, na Suíça, em 1525. Suas raízes imediatas estavam no movimento de reforma liderado por Ulrico Zwingli, que havia começado em 1519. No entanto, um grupo dentro do círculo de Zwingli, liderado por figuras como Conrad Grebel, Felix Manz e outros, chegou a conclusões mais radicais a partir de seus estudos bíblicos. Eles acreditavam que a obediência a Cristo não deveria ser limitada por considerações de prudência ou medo, e que o título de cristão deveria ser aplicado apenas àqueles que verdadeiramente seguiam Jesus, e não indiscriminadamente a todos que eram batizados.

Um ponto crucial de divergência com Zwingli e o Conselho de Zurique foi a questão do batismo infantil. Grebel, Manz e seus companheiros concluíram, assim como os sacerdotes de Zurique Wilhelm Reublin e Johannes Brötli, que a Bíblia não ensinava o batismo de crianças. Essa convicção se tornou o ponto de ruptura. O Conselho de Zurique ordenou que eles se conformassem à lei do batismo infantil e os proibiu de se reunir como grupo.

Em 21 de janeiro de 1525, um grupo de cerca de meia dúzia de homens se reuniu secretamente na casa de Manz em Zurique para estudar a Bíblia e orar, desafiando a proibição do Conselho. Naquela noite, convictos de que deviam obedecer a Deus, eles batizaram uns aos outros, começando com George Blaurock sendo rebatizado por Grebel, e então Blaurock rebatizando outros. Este ato marcou o nascimento formal do Anabatismo. Simultaneamente, eles se comissionaram para construir a igreja de Cristo na Terra.

Após este evento, o pequeno grupo se tornou missionário, e muitos outros foram batizados, especialmente fazendeiros da vila vizinha de Zollikon. Eles continuaram a se reunir para estudo bíblico, oração e celebração da Ceia do Senhor. A perseguição que esperavam não tardou a chegar, com prisões e ameaças de exílio, o que levou à desintegração da primeira igreja “livre” após três ou quatro meses.

O contexto em que o Anabatismo surgiu foi um de intensa agitação religiosa e social. A Reforma Protestante havia aberto novas formas de entender e viver a mensagem bíblica, e muitos estavam insatisfeitos com as práticas religiosas tradicionais. Camponeses e habitantes das cidades estavam receptivos a novas ideias, buscando uma vida cristã mais simples e genuína. A mensagem Anabatista de discipulado radical e partilha de bens ressoou com alguns desses anseios.

No entanto, as autoridades políticas e religiosas viam os Anabatistas como uma ameaça à ordem estabelecida. Sua defesa da separação entre igreja e estado e da liberdade religiosa era considerada uma incitação à anarquia. A recusa em prestar juramentos, participar do magistério e pegar em armas desafiava diretamente as estruturas políticas vigentes. Além disso, a prática do rebatismo era vista como uma rejeição da ordem religiosa tradicional e das próprias bases da sociedade cristã da época.

O movimento Anabatista não era homogêneo desde o início. Diferenças consideráveis existiam entre os vários grupos em interpretação, teologia e prática eclesiástica, influenciadas pela autonomia congregacional, pela perseguição que forçou o movimento à clandestinidade e por barreiras geográficas. Apesar dessa diversidade, havia elementos unificadores, como a centralidade de Cristo, a autoridade das Escrituras (interpretadas à luz do Novo Testamento e pelo Espírito Santo na comunidade), a importância do discipulado e a ênfase na comunidade de crentes.

A história do Anabatismo é marcada por intensa perseguição, com muitos mártires dispostos a sacrificar suas vidas por suas crenças. Eles foram alvo de execuções por afogamento, decapitação e queima na fogueira, tanto por autoridades católicas quanto protestantes. Episódios como a tomada de Münster por extremistas Anabatistas, apesar de rejeitados pela maioria do movimento, serviram para intensificar a perseguição e manchar a reputação dos Anabatistas.

Apesar da perseguição, o movimento Anabatista persistiu e se espalhou por diversas regiões da Europa. Líderes como Menno Simons, Balthasar Hubmaier, Hans Denck e Jacob Hutter desempenharam papéis importantes na formação e disseminação das crenças Anabatistas. Diferentes grupos Anabatistas evoluíram, dando origem a denominações modernas como Menonitas, Amish e Hutteritas.

Em resumo, os Anabatistas foram um movimento radical da Reforma do século XVI que surgiu da convicção de que o batismo deveria ser reservado aos crentes professos, enfatizando um discipulado sério, a vida em comunidade, a separação da igreja e do estado e a liberdade religiosa. Sua origem em Zurique em 1525 marcou o início de uma história de intenso compromisso com suas crenças, marcada por perseguição e martírio, mas também por um legado duradouro que influenciou o desenvolvimento da ideia de igreja livre e da liberdade de consciência.

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