Rute e a História Esquecida do Natal – Pt. 1
Neste tempo de Advento, é inevitável começar falando de Natal, afinal, como evitar esta palavra que desperta em tantos um misto de encantamento e ceticismo, uma celebração que tenta abraçar o mundo, mas muitas vezes ignora os cantos mais escuros da alma. Luzes piscam, sons ecoam, mas e as sombras? E o vazio que as festas tentam esconder?
E se o Natal não começasse em Maria, nem em José, tampouco nos anjos ou nos pastores, mas no deserto de Moabe, no pranto de uma viúva, no juramento audacioso de uma estrangeira? Sim, estou falando de Rute, este nome breve, com apenas quatro letras, mas que carrega um peso eterno em suas páginas.
No Livro de Rute, capítulo um, a história começa com perda, e não com promessa. A fome empurrou Elimeleque e sua família para Moabe, terra estrangeira, terra hostil. Lá, em um lugar que deveria trazer esperança, veio a tragédia: Elimeleque morreu, e seus filhos também. Sobrou Noemi, sozinha com duas noras, amargurada pela perda, convencida de que o Senhor havia se esquecido dela. Ela decide voltar para Belém, mas não com expectativa. Ela volta apenas com o vazio.
E então, Rute. Rute 1:16-17 nos dá palavras que ecoam pelo tempo: “
Onde você for, irei; onde você ficar, ficarei. O seu povo será o meu povo, e o seu Deus será o meu Deus.”
Rute, uma moabita, estrangeira, rejeita o retorno à segurança de sua terra. Em vez disso, escolhe caminhar para o desconhecido, confiando em um Deus que mal conhecia, mas que já a chamava para algo maior.
Essa é a essência do Natal. Porque o Natal, antes de ser celebração, é promessa. É resgate. É uma história que começou em lágrimas no deserto de Moabe e floresceu em alegria na casa do pão, Belém, onde um Salvador, o verdadeiro Redentor, nasceria séculos depois.
Belém, a “Casa do Pão”, tão mencionada nas Escrituras, não era nova nem desconhecida. Foi ali que Noemi e Rute chegaram, sem saber que estavam pisando no palco de um plano maior. Elas chegaram no início da colheita de cevada, um detalhe que parece insignificante, mas que revela a fidelidade de Deus mesmo em tempos de perda.
E você pode sentir o peso desse paradoxo? Belém, a cidade que deveria ser lugar de provisão, é também lugar de fome. Mas é no meio dessa fome que a providência divina age. Não de forma óbvia, mas nos detalhes, nos gestos.

Quando Rute começa a colher nos campos de Boaz, ela encontra não apenas alimento, mas redenção. Boaz, um homem justo e generoso, não vê apenas uma moabita pobre. Ele vê dignidade, coragem, lealdade. Ele reconhece em Rute algo que outros ignorariam: o reflexo da graça de Deus.
Mas há um custo. Quando Boaz decide redimir Rute, ele precisa enfrentar o sistema, as tradições, até mesmo a resistência de outro parente-redentor, alguém que tinha o direito legal, mas não o coração para assumir a responsabilidade. E é aqui que vemos o reflexo do maior ato de redenção da história.
Porque, assim como Boaz se levantou para resgatar Rute, Jesus veio para nos resgatar. Ele não hesitou, não procurou atalhos, não evitou o custo. Ele carregou o peso do nosso pecado, enfrentou a cruz, e pagou o preço total, porque você e eu importamos para Ele. Gálatas 4:4-5 diz:
“Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o Seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos.”
E aqui estamos, em Belém, de novo. Belém, que viu Rute colher cevada, agora vê pastores correndo para uma manjedoura. Belém, que ouviu o lamento de Noemi, agora ouve os anjos cantando. Mas, ainda assim, nem todos perceberam. Herodes não viu a promessa; ele viu uma ameaça. Os líderes religiosos não correram para Belém, embora soubessem que o Messias nasceria ali.
O que isso nos diz? Que podemos estar tão perto da promessa e, ainda assim, tão longe de reconhecê-la. Porque o Natal não é apenas sobre luzes, mas sobre enxergar a luz verdadeira no meio da escuridão. O Natal é a história de um Deus que entra no caos, que não teme nossas fugas ou nossas perdas, mas as transforma em parte do Seu plano.

E então, deixo este convite: caminhe conosco por Belém. Caminhe com Noemi e Rute, com Maria e José. Caminhe com seus próprios medos e perdas. Porque, assim como Deus agiu em Moabe, em Belém, e na cruz, Ele ainda está agindo hoje. Ele está conectando os fios soltos da sua história, transformando o vazio em plenitude.
Como diz João 1:14, “O Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade.” O mesmo Deus que habitou entre nós em Belém deseja habitar em nossos corações. Porque o Natal não é apenas o que aconteceu há dois mil anos; é o que está acontecendo agora.
Que a promessa de Belém ecoe em sua vida. Que a graça do Redentor preencha seus dias. E que a história de um Deus que resgata seja contada, não apenas com palavras, mas com vidas transformadas.
por Diego Gonçalves