Em meio à beleza e à confusão deste mundo, entre o que é grandioso e o que parece insignificante, uma pergunta ecoa: Por que você está aqui? A Bíblia oferece uma resposta, mas não como uma história antiga e distante. É a sua história, a nossa história — uma história que começa antes de tudo existir, antes do tempo, do espaço ou de qualquer começo que possamos imaginar. Havia apenas Deus.
Imagine isso: um Deus que não precisa de nada, que não sente falta de coisa alguma, e ainda assim decide criar. Por quê? Talvez porque o amor, para ser amor, precise transbordar. Então Deus falou, e o caos que era vazio e sem forma começou a obedecer à sua voz. Ele disse: “Haja luz”, e a escuridão foi interrompida pela primeira vez. Não havia dúvida — aquilo era bom. Mas Deus não parou por aí. Ele separou águas de águas, desenhou terra seca, e sobre a terra chamou à vida algo verde, algo que cresce, que respira. Talvez você pense: apenas plantas? Mas quem sabe essas plantas foram o primeiro suspiro de uma criação que ainda nem sonhava o que viria.
Então surgiram luzes no céu, não para Ele, que já era a própria luz, mas para nós, para marcar os tempos e as estações. A história estava sendo escrita, e cada detalhe dizia algo sobre a mente criativa de Deus, sobre sua alegria em dar forma ao nada. Peixes preencheram os mares, aves cortaram os céus, e os animais começaram a ocupar cada canto da terra. Mas nada disso era o ponto alto, não ainda. O ápice estava por vir.
Deus formou uma pessoa. Não apenas algo vivo, mas alguém, alguém que podia refletir um pouco daquilo que Ele mesmo era. Ele chamou essa pessoa de Adão, colocou-a em um jardim que era perfeito e cheio de vida, mas percebeu que algo faltava. Adão estava sozinho. Então, Deus formou uma mulher, uma companheira, feita do mesmo material, da mesma essência, mas diferente, para que juntos pudessem experimentar algo que nenhuma outra criatura podia: relacionamento.
Havia liberdade, havia alegria, mas também havia limites. Deus os orientou com clareza. Ele deu um jardim inteiro, mas apontou duas árvores especiais. Uma delas era a Árvore da Vida, um símbolo de eternidade. A outra era a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Comer dessa última significaria desobedecer, significaria morte. E então veio a escolha.
Não demorou muito para que algo se infiltrasse no jardim. Uma serpente, mas não uma serpente qualquer — era o diabo disfarçado. Ele plantou dúvidas, distorceu o que Deus tinha dito, fez com que o proibido parecesse desejável. Eva ouviu, Adão ouviu, e juntos eles deram o passo que mudaria tudo. Comeram do fruto. E naquele momento, tudo que era perfeito se rompeu.
Deus tinha dado tudo. Vida, propósito, comunhão. Mas Adão e Eva escolheram algo diferente. Escolheram confiar no inimigo em vez de confiar no Criador. Escolheram seguir suas próprias vontades, e com isso, escolheram a morte. Eles perderam o acesso à Árvore da Vida, perderam a intimidade com Deus, e a humanidade inteira entrou em uma história de ruptura.
Se a história terminasse aí, seria fácil entender. Quem poderia culpar Deus por acabar com tudo naquele momento? Mas…
Mas Deus não fez isso. Ele não apagou a história. Não destruiu a humanidade. Em vez disso, fez uma promessa. E como é típico de Deus, a promessa parecia absurda: um dia, Satanás seria derrotado por um descendente de Adão e Eva. Alguém nasceria para esmagar a cabeça da serpente, mas, por enquanto, a humanidade tinha que lidar com o peso do que havia escolhido.
Adão e Eva tiveram filhos. Talvez eles esperassem que seus filhos fossem melhores, mais fortes, mais obedientes. Mas não foi assim. O problema do pecado era como uma sombra, seguindo cada geração. Caim e Abel, irmãos, nasceram nesse mundo já quebrado. Abel tinha algo que Caim não tinha: fé genuína em Deus. Deus se agradava de Abel, mas isso só aumentava a raiva e a inveja no coração de Caim. Deus advertiu Caim, dizendo que ele precisava resistir ao pecado, que ele tinha uma escolha. Mas Caim não ouviu. Em vez disso, ele levantou as mãos contra seu próprio irmão e derramou sangue inocente pela primeira vez na história.
Por que ele fez isso? Porque o pecado não é só uma escolha ruim; é como uma doença que entrou na humanidade lá no Éden e agora corria solta. O coração de Caim carregava o mesmo veneno que contaminou o de seus pais, e aquele veneno não pararia nele. A humanidade começou a crescer, e, com ela, o mal se espalhava como um incêndio incontrolável. Cada pessoa que nascia trazia consigo o reflexo de Deus, mas também o reflexo do pecado. E o mundo, que tinha sido criado para ser um lugar de beleza e vida, estava agora cheio de violência, ódio e dor.
Deus viu isso. Ele podia ter desistido, mas, em vez disso, decidiu intervir. Ele encontrou um homem chamado Noé, alguém que, em meio à escuridão, ainda tinha fé. Noé não era perfeito, longe disso. Mas Deus viu nele algo diferente, um coração que ainda procurava por Ele. Deus deu a Noé uma tarefa ridícula: construir um barco enorme em terra seca. Enquanto Noé cortava madeira e pregava tábuas, os outros riam. Riam até que o céu se abriu e a chuva começou. Não era só chuva — era uma inundação que limpava a terra de toda aquela maldade.
Quando as águas finalmente baixaram, Noé e sua família eram tudo o que restava. O mundo parecia novo, como um recomeço. E Deus, em sua infinita paciência, fez uma aliança com Noé. Ele colocou um arco-íris no céu como um lembrete de que nunca mais destruiria o mundo daquela forma. Ele renovou a promessa feita lá no Éden: a história não terminaria com destruição, mas com redenção.
Ainda não era o momento de consertar tudo. A criação ainda gemia, o pecado ainda estava lá, mas Deus estava preparando o terreno. Ele estava criando um mundo estável o suficiente para o cumprimento daquela promessa inicial — o dia em que o descendente de Eva pisaria na cabeça da serpente. E, até lá, Ele chamaria pessoas imperfeitas como Noé, cheias de falhas, mas também de fé, para manter viva a chama da esperança.
Mas o problema com o coração humano persistia, não importava o quanto o mundo se ajustasse. As pessoas agora eram suficientemente boas para viver juntas, construir cidades, formar sociedades, mas ainda más o suficiente para usar essa unidade como ferramenta de orgulho e desobediência. E foi assim que surgiu a Torre de Babel. Homens e mulheres se uniram não para buscar a Deus, mas para desafiar o próprio Criador. “Vamos construir uma torre que alcance os céus!”, disseram, acreditando que poderiam se tornar iguais a Ele. Foi mais do que apenas uma construção — foi uma declaração de independência do coração humano, uma recusa em aceitar a necessidade de Deus.
Mas Deus, em sua sabedoria, sabia o perigo de pessoas pecadoras com tanto poder. Então, Ele fez algo inesperado. Dividiu as línguas, transformando a harmonia da torre em confusão. O grande projeto ruiu, e as pessoas se espalharam pela terra, separadas em diferentes nações, cada uma seguindo seus próprios caminhos. Cada nação criou seus próprios deuses, pequenos reflexos das suas próprias vontades, mas ainda distantes do verdadeiro Deus. Parecia que o plano estava em pedaços. Mas não para Deus. Ele estava sempre um passo à frente, e o próximo movimento era audacioso.
E se houvesse uma nação dedicada ao Deus verdadeiro? Um povo que não se inclinasse a ídolos, mas que fosse uma luz para o resto do mundo? Foi aí que Deus chamou Abraão. Ele não era perfeito, mas tinha algo raro: fé. Deus olhou para ele e prometeu algo que parecia impossível: Abraão seria pai de uma grande nação, e essa nação seria usada por Deus para consertar o mundo. “Contem as estrelas do céu, se puderem”, disse Deus. “Assim será a sua descendência.” Mas Abraão olhou para si mesmo, para a velhice de sua esposa Sara, e a promessa parecia absurda. E, ainda assim, ele acreditou.
A fé de Abraão não o tornou o herói perfeito. Ele ainda era humano, com suas falhas e pecados. Houve um momento em que, com medo, Abraão mentiu, dizendo a um rei que sua esposa era sua irmã. Mesmo assim, Deus não desistiu dele. E a promessa seguiu adiante. Abraão e Sara finalmente tiveram um filho, Isaque, um símbolo de que o impossível era possível nas mãos de Deus.
De Isaque veio Jacó, que acabou recebendo um novo nome, Israel, depois de lutar com o próprio Deus. Essa luta não era apenas física; era uma metáfora para o que todos nós fazemos — resistimos, debatemos, tropeçamos, mas continuamos em busca de algo maior. Israel teve doze filhos, e esses filhos formaram as doze tribos que levariam o nome de seu pai e, mais importante, a promessa de Deus.
Mas nem mesmo uma família escolhida estava isenta do caos do pecado. Os irmãos de José, um dos filhos de Israel, o venderam como escravo, com ciúmes de sua posição e sonhos. José foi parar no Egito, um lugar distante e hostil, mas Deus não o abandonou. Pelo contrário, Deus usou o sofrimento de José para salvá-lo, dando-lhe sabedoria para interpretar sonhos e preparar o Egito para uma grande fome. Aquele que foi rejeitado pela própria família se tornou a salvação não só de uma nação, mas também de seus próprios irmãos.
Quando a fome chegou, José, em um ato de graça que só pode vir de Deus, acolheu sua família no Egito. A traição se transformou em reconciliação, e o que parecia uma história de dor tornou-se uma história de redenção. Deus foi glorificado não porque a humanidade merecia, mas porque Ele insiste em transformar o que é ruim em algo bom, até mesmo as nossas maiores falhas. E assim, a promessa continuava viva.
E a história continuava, com suas voltas e reviravoltas que pareciam sempre repetir a mesma melodia: Deus chama, o povo vacila, Deus é fiel, e a promessa permanece. O Egito, que um dia viu os israelitas com bons olhos por causa de José, agora os via como uma ameaça. “Eles são muitos”, pensavam os egípcios. “Se não fizermos algo, eles tomarão o nosso lugar.” Assim, os israelitas se tornaram escravos, reduzidos a trabalho forçado, oprimidos e sem esperança.
Foi nesse cenário que nasceu Moisés. Um menino israelita destinado à morte, mas que foi resgatado e criado na casa do próprio faraó. Deus estava silenciosamente preparando seu libertador. No entanto, Moisés era humano, como todos nós. Um dia, vendo um egípcio maltratando um israelita, ele perdeu o controle e o matou. Sua tentativa de liderar seu povo foi recebida com desconfiança. “Quem te colocou no comando?”, perguntaram. Com medo, Moisés fugiu para o deserto, deixando para trás o Egito e qualquer esperança de liberdade para seu povo.
No deserto, Moisés começou uma nova vida. Casou-se, tornou-se pastor de ovelhas, e talvez tenha pensado que sua história terminaria ali, no anonimato. Mas Deus não tinha esquecido de seu povo nem de sua promessa. Um dia, enquanto Moisés cuidava das ovelhas, uma sarça ardente apareceu. A voz de Deus saiu das chamas: “Moisés, é hora. Eu ouvi o clamor do meu povo, e agora vou libertá-los. Você será o meu instrumento.” Moisés hesitou, deu desculpas, tentou fugir de novo, mas Deus não estava pedindo. Ele estava chamando.
Moisés voltou ao Egito com uma missão impossível. “Deixe meu povo ir”, ele disse ao faraó. Mas o coração do faraó era duro. Ele não estava disposto a perder sua força de trabalho gratuita. Então, Deus começou a agir. As pragas vieram uma a uma, cada uma mais poderosa que a anterior, cada uma desafiando os falsos deuses do Egito. Sangue no rio, sapos por toda parte, mosquitos, moscas, gado morto, úlceras, granizo, gafanhotos, escuridão. Mas o faraó continuava dizendo “não”.
Até que veio a última praga. “Se você não deixar meu povo ir, os primogênitos de todo o Egito morrerão.” E quando a morte passou pelo Egito naquela noite, o faraó finalmente cedeu. “Vão embora”, disse ele. E os israelitas partiram, carregando consigo não apenas seus pertences, mas também a promessa de um futuro na terra que Deus lhes havia prometido.
Mas a liberdade não veio sem luta. Quando estavam à beira do Mar Vermelho, o faraó mudou de ideia. Ele enviou seu exército atrás deles, e os israelitas ficaram encurralados. “Por que nos trouxe aqui, Moisés? Para morrer no deserto?” Mas Deus nunca abandona aqueles que confiam nele. Moisés ergueu sua vara, e as águas do Mar Vermelho se abriram. Os israelitas atravessaram a seco, mas quando os egípcios tentaram segui-los, as águas se fecharam, e o exército do faraó foi destruído.
A jornada continuou, e Deus os conduziu ao Monte Sinai. Lá, Ele deu a eles a lei, um guia para viverem como o povo da promessa. “Não adorem outros deuses”, Deus disse a Moisés. Mas enquanto Moisés estava no alto da montanha, os israelitas, impacientes e inquietos, fizeram exatamente isso. “Estamos entediados”, disseram. “Vamos fazer um bezerro de ouro e adorá-lo.” Quando Moisés desceu e viu o que tinham feito, sua raiva foi tão grande que quebrou as tábuas de pedra com a lei de Deus.
Ainda assim, Deus não desistiu. Moisés subiu novamente, e Deus renovou a aliança. Ele deu novas tábuas de pedra e reiterou sua promessa: “Eu lhes darei a terra e serei seu Deus, mas vocês precisam ser fiéis a mim.” Era uma nova chance, uma nova esperança. Mas a pergunta pairava no ar: quão fiéis eles seriam?
O povo está finalmente às portas da terra prometida, mas há um problema: ela não está vazia. Os cananeus já vivem lá, com suas cidades fortificadas e exércitos assustadores. Diante desse desafio, a promessa de Deus parecia maior do que a fé deles podia alcançar. “Vamos, sejam corajosos, Deus estará conosco”, encorajaram alguns. Mas a resposta foi o medo. “Não, eles são fortes demais para nós.” E foi assim que a geração que testemunhou milagres no Egito e atravessou o Mar Vermelho escolheu se afastar. A incredulidade os condenou a vagar pelo deserto por quarenta anos, até que toda aquela geração incrédula tivesse partido.
E Moisés? Ele, que os guiou com paciência e obediência, talvez fosse o escolhido. Mas até Moisés tropeçou. Num momento de frustração, realizou um milagre de maneira contrária ao comando de Deus. O coração humano, mesmo o mais fiel, carrega suas rachaduras. A punição de Moisés foi dura: ele veria a terra prometida à distância, mas não entraria nela.
Quando a próxima geração chegou, liderada por Josué, a história parecia ter um novo fôlego. Finalmente, o povo entrou na terra prometida. E quando enfrentaram a cidade fortificada de Jericó, não venceram com espadas, mas com trombetas e a obediência à instrução de Deus. As muralhas caíram, e os cananeus foram expulsos. A promessa de Deus estava sendo cumprida, mas uma nova questão surgiu: quem governaria este povo? Quem os guiaria agora?
Deus instituiu juízes, líderes que governavam e protegiam o povo. Mas o ciclo do coração humano era previsível: paz, desobediência, derrota, arrependimento, e, então, redenção pelas mãos de um juiz levantado por Deus. Esse padrão se repetiu tantas vezes que o povo começou a se cansar. “Queremos um rei!”, exigiram. “Vocês não querem um rei”, respondeu Samuel, o profeta. “Ele será opressor.” Mas eles insistiram. “Todo mundo tem um rei, por que não nós?” Então, Deus permitiu que tivessem o que pediram. Saul foi ungido como o primeiro rei, e logo suas falhas se tornaram evidentes. Ele era opressor, desobediente e incapaz de liderar como Deus desejava.
Então, Deus escolheu outro. Davi, um jovem pastor que ninguém levava a sério. Mas quando um gigante chamado Golias desafiou os israelitas, Davi não hesitou. Com fé e uma funda, ele derrotou o gigante, e sua coragem conquistou o coração do povo. Mas o sucesso de Davi provocou ciúmes em Saul. A relação entre os dois se tornou uma caçada. Mesmo tendo a chance de matar Saul, Davi escolheu poupar sua vida, demonstrando um caráter raro.
Quando Saul finalmente morreu, Davi se tornou rei, e seu reinado começou de forma gloriosa. Ele uniu o reino, venceu batalhas, e parecia, talvez, ser o escolhido que derrotaria Satanás. Mas o coração humano tropeça. Davi viu Bate-Seba, desejou-a, e mandou seu marido para a linha de frente da batalha para garantir sua morte. O pecado de Davi trouxe consequências devastadoras para ele e sua família, mas Deus não desistiu. Ele prometeu que um de seus descendentes teria um reino eterno, uma luz no meio das trevas de suas falhas.
Essa promessa se estendeu a Salomão, filho de Davi. Salomão começou seu reinado com sabedoria incomparável. Ele escreveu provérbios que atraíram reis e rainhas de toda parte, construiu um templo magnífico para glorificar a Deus, e durante um tempo, o reino de Israel foi um farol para o mundo. Mas o coração humano… sempre ele. Salomão acumulou esposas e concubinas, muitas delas estrangeiras, que trouxeram consigo seus deuses. E assim, até Salomão, com toda sua sabedoria, caiu na idolatria.
A promessa de um reino eterno permanecia viva, mas quem seria o rei que não tropeçaria? Quem seria aquele capaz de derrotar Satanás e restaurar o mundo? O coração humano falhava uma e outra vez, mas a fidelidade de Deus permanecia inabalável. Ele ainda estava escrevendo a história.
Depois disso, o fio da história pareceu desfiar. O reino, que deveria ser um reflexo da glória de Deus, se despedaçou. Israel, no norte, e Judá, no sul, tomaram caminhos separados, ambos marcados por reis que abandonaram a aliança com Deus e se entregaram à idolatria. Eles adoraram deuses estrangeiros, erigiram altares a ídolos, e até mesmo o templo, aquele símbolo da presença de Deus, foi profanado. A escuridão parecia completa, e ainda assim, a fidelidade de Deus brilhou como uma centelha no meio do caos.
Ele levantou profetas, homens e mulheres corajosos que se ergueram em meio à decadência para chamar o povo de volta. Eles clamaram nas ruas, nos palácios, nos campos e até mesmo nos corredores do templo que havia sido transformado em um lugar de culto pagão. E Deus, em sua graça, não disse a eles para abandonarem o templo, mas para restaurá-lo. Ele queria que aquele espaço fosse um símbolo de reconciliação, não de desistência. Alguns reis ouviram. Houve momentos de reforma, lampejos de arrependimento, períodos em que o templo foi purificado, e o povo foi lembrado da aliança com Deus.
Mas esses momentos eram curtos, instáveis, como uma chama vacilante em um vento constante. Eventualmente, o reino do norte, Israel, caiu nas mãos da Assíria, e o reino do sul, Judá, seguiu o mesmo destino, derrotado pela Babilônia. O templo, o coração da adoração israelita, foi destruído, e o povo foi levado para o exílio. Era como se as promessas de Deus estivessem desmoronando. Como poderia haver um reino eterno se não havia mais um reino? Como poderiam ser o povo de Deus se estavam espalhados entre as nações, sem templo, sem terra, sem rei?
E, ainda assim, mesmo no exílio, Deus não os abandonou. Ele moveu o coração de um rei persa, alguém que nem mesmo o conhecia, para permitir que os israelitas voltassem para casa. Mais do que isso, esse rei pagão deu dinheiro para que eles reconstruíssem o templo. De alguma forma, a promessa estava viva, mesmo que apenas como uma brasa.
Quando voltaram, começaram a reconstruir. “Vai ser incrível!”, alguns disseram. “Mas não é como antes”, outros lamentaram. O novo templo era menor, menos grandioso, e o peso da glória passada pairava sobre eles como uma sombra. A esperança estava lá, mas também o desapontamento. O reino eterno ainda não tinha chegado. O Messias ainda não tinha vindo. Mas a fé persistia, alimentada pelas palavras dos profetas.
Daniel teve visões de um reino que esmagaria todos os outros e duraria para sempre. Miqueias falou que este rei nasceria em Belém, um lugar pequeno e aparentemente insignificante. Isaías descreveu um rei que não viria com pompa, mas que sofreria pelos pecados de seu povo, levando sobre si suas dores. Zacarias proclamou que Deus enviaria Deus para viver entre nós. Essa ideia era quase incompreensível — o rei prometido seria Deus em carne? A imaginação de Israel começou a se aquecer com essas profecias.
O povo aguardava. Eles sabiam que algo maior estava por vir, que a história não terminava no exílio, nem na reconstrução do templo. Eles olhavam para o futuro, para o Messias, o Filho do Homem, aquele que cumpriria cada promessa. Quem seria ele? Quando viria? O silêncio de Deus parecia durar uma eternidade, mas o eco das promessas ressoava no coração dos que esperavam. E assim, a história continuava.
E foi então que, depois de séculos de espera e silêncio, Deus finalmente fez o inesperado. Em uma vila simples chamada Nazaré, uma jovem israelita chamada Maria teve uma visita que mudaria tudo. Um anjo apareceu diante dela, radiante e imponente, com uma mensagem impossível de compreender: ela teria um bebê. Não um bebê comum, mas um rei, descendente de Davi, cujo reino jamais teria fim. Maria, com uma honestidade desarmante, respondeu: “Mas eu sou virgem.” E o anjo, com paciência celestial, explicou: “Tudo bem, o Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo fará isso. Seu filho será chamado Filho de Deus.”
E assim, o impossível aconteceu. Maria deu à luz em Belém, exatamente como os profetas tinham dito. O bebê, envolto em panos simples e deitado em uma manjedoura, foi chamado de Emanuel, que significa “Deus conosco”. Um rei, mas não como qualquer outro. Enquanto a noite cobria a terra, uma estrela brilhante guiava três sábios do Oriente até aquele lugar. Eles trouxeram presentes de ouro, incenso e mirra — tesouros dignos de um rei. Mas a notícia do nascimento de Jesus não foi recebida com alegria por todos.
Herodes, o rei ciumento e paranoico, ouviu sobre a criança. “Rei de Israel?”, ele gritou. “Eu sou o único rei por aqui.” Determinado a eliminar qualquer ameaça ao seu trono, Herodes ordenou que todos os meninos pequenos em Belém fossem mortos. Maria e José fugiram, escapando para o Egito com Jesus, protegidos pelo aviso de um anjo. Até isso estava escrito: “Do Egito chamei meu filho.”
Quando o perigo passou, a família voltou. Jesus cresceu em Nazaré, vivendo como qualquer outro garoto, até o dia em que tudo começou a mudar. Seu primeiro milagre foi transformar água em vinho em uma festa de casamento, a pedido de sua mãe. Um gesto simples, quase íntimo, mas cheio de significado. E ainda assim, o verdadeiro ministério de Jesus não começou até que ele encontrou João Batista.
João era um profeta excêntrico, vivendo no deserto, batizando multidões e clamando: “Arrependam-se, pois o reino de Deus está próximo!” Ele era a voz que os profetas haviam prometido, preparando o caminho para algo maior. E quando Jesus veio até ele para ser batizado, algo extraordinário aconteceu. Os céus se abriram, o Espírito Santo desceu como uma pomba, e a voz de Deus ecoou: “Este é o meu filho amado, em quem me agrado.”
Depois disso, Jesus foi levado ao deserto. Quarenta dias sem comer, quarenta dias enfrentando o inimigo. Satanás tentou de todas as formas fazê-lo tropeçar, mas Jesus permaneceu firme. Onde Adão havia falhado, onde Israel havia falhado, Jesus venceu. Ele emergiu do deserto pronto para iniciar algo que mudaria o mundo para sempre.
Com João Batista preso, Jesus assumiu o anúncio do reino de Deus. Mas o que ele pregava era revolucionário. Ele falou de um reino que não era construído com força, mas com amor. Um reino onde os oprimidos seriam libertos, onde os pobres e os que choram agora seriam exaltados, onde as promessas de Deus finalmente se cumpririam. E ele não apenas falava — ele mostrava. Curava os doentes, expulsava demônios, perdoava pecados. Cada milagre era um vislumbre do reino que ele trazia.
Multidões o seguiam, maravilhadas, tentando entender como um carpinteiro de Nazaré podia fazer essas coisas. Mas em sua própria cidade, ele não era bem recebido. “Não é esse o filho de Maria? Nós o vimos crescer!” Eles estavam embaraçados, incapazes de ver além do que conheciam. O rei prometido estava ali, mas muitos não conseguiam reconhecê-lo. O reino havia começado, mas ainda não como esperavam.
Jesus começou a reunir seguidores, doze ajudantes escolhidos a dedo, e as multidões que o seguiam cresciam a cada dia. Muitos se maravilhavam com suas palavras e seus milagres, mas nem todos o viam com bons olhos. Entre os que resistiam estavam os fariseus, os guardiões zelosos da lei, aqueles que acreditavam que, se o povo de Israel obedecesse perfeitamente cada regra, Deus finalmente restauraria o reino e os libertaria do jugo dos gentios, que agora eram os romanos.
Os fariseus esperavam um Messias que fosse um líder político, um guerreiro para derrotar Roma e trazer de volta o reino de Israel. Mas o reino de Jesus era algo totalmente diferente. Ele não estava interessado em derrubar governos ou em impressionar com obediência rígida. Ele caminhava entre pecadores, comia com cobradores de impostos, acolhia gentios e até perdoava os pecados das pessoas — algo que, para os fariseus, era uma afronta. Só Deus pode perdoar pecados, pensavam. Além disso, Jesus desafiava sua autoridade, questionava suas tradições e dizia coisas desconcertantes, como “dêem a César o que é de César”. Para eles, era óbvio: Jesus não podia ser o Messias.
Mas então houve um momento que complicou as coisas para os fariseus. No alto de uma montanha, na presença de alguns de seus discípulos, Jesus foi transfigurado. Sua aparência mudou, e ele brilhou com uma glória que não era deste mundo. Ao lado dele apareceram Moisés e Elias, as figuras mais reverenciadas do Antigo Testamento. Era como se Jesus estivesse mostrando que ele era o cumprimento de toda a lei e os profetas. Isso não apenas desafiava os fariseus, mas deixava claro para os discípulos que estavam diante de algo muito maior do que imaginavam.
Quando Jesus entrou em Jerusalém, o coração espiritual de Israel, foi recebido como um rei. Multidões agitavam ramos de palmeira e gritavam: “Hosana!” Alguns até o adoravam. Isso foi a gota d’água para os fariseus. Para eles, adorar Jesus era blasfêmia. Apenas Deus deveria ser adorado. Então, começaram a tramar sua morte. Ou ele era Deus, ou era um blasfemo perigoso, e, para eles, a escolha parecia clara.
Jesus sabia o que estava por vir. Ele chamou seus discípulos para uma Última Ceia, um momento de intimidade e mistério. Partiu o pão e disse: “Este é o meu corpo, dado por vocês.” Pegou o cálice de vinho e disse: “Este é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado para o perdão dos pecados.” Ele sabia que seria traído e anunciou isso à mesa. E, como previsto, um dos seus, Judas, o vendeu por algumas moedas de prata.
Naquela noite, Jesus foi preso. Alguns dos discípulos tentaram lutar, mas Jesus os conteve. “Isso precisa acontecer”, disse ele. Era parte do plano, a razão pela qual ele havia vindo. Ele foi levado aos líderes religiosos, que o entregaram a Pôncio Pilatos, o governador romano. Pilatos tentou livrá-lo, mas a multidão, incitada pelos líderes, clamava por sua morte.
E assim, Jesus foi condenado à crucificação. Se você nunca parou para pensar no que é a crucificação, basta saber que é de onde vem a palavra “excruciante”. Era uma morte lenta, agonizante, reservada para os piores criminosos. Jesus foi pregado a uma cruz, ridicularizado, humilhado. Aquele que havia curado doentes, perdoado pecados e proclamado o reino de Deus estava agora pendurado entre o céu e a terra, como se fosse amaldiçoado. Para muitos, parecia o fim. Mas para Deus, era apenas o começo de algo que mudaria tudo.
Quando Jesus entregou seu último suspiro, o mundo pareceu segurar a respiração. O céu se cobriu de escuridão, e a terra tremeu, como se a própria criação lamentasse o que havia acontecido. Um soldado romano, que estava ali apenas para cumprir ordens, olhou para a cruz e murmurou algo inesperado: “Galera, acho que acabamos de crucificar o Filho de Deus.” As palavras dele ecoaram no silêncio, um misto de medo e assombro. E, sim, isso já estava escrito. As profecias falavam de um justo que seria ferido pelos pecados dos outros, mas seria glorificado no final.
Jesus, o Filho de Deus, o Rei prometido, poderia ter impedido tudo aquilo. Ele tinha o poder para descer da cruz, para humilhar seus acusadores, para evitar a dor. Então, por que não o fez? Porque ele não veio para evitar o sofrimento, mas para enfrentá-lo de frente. Desde o Éden, o pecado era como uma praga que devastava tudo, separando a humanidade de Deus. Nenhum sacrifício, nenhum esforço humano foi suficiente para resolver o problema. Mas Jesus, que nunca pecou, entregou sua vida como o sacrifício perfeito. Ele tomou sobre si o peso do pecado para que a justiça de Deus fosse satisfeita e, ao mesmo tempo, a misericórdia de Deus fosse revelada. Era isso que precisava acontecer.
Depois de morrer, Jesus foi colocado em um túmulo emprestado. Mas o túmulo, como toda a história humana até aquele momento, não era o ponto final. No terceiro dia, algumas mulheres foram até lá para cuidar do corpo, mas encontraram algo que jamais poderiam ter imaginado: o túmulo estava vazio. Jesus não estava lá. Ele havia ressuscitado, exatamente como ele disse que faria. Ele apareceu primeiro às mulheres, depois aos discípulos. Quando Tomé, um dos doze, ouviu isso, duvidou. “Só acredito se tocar nas feridas dele”, disse. Mas então Jesus apareceu para ele, mostrou suas mãos e seu lado, e Tomé caiu de joelhos, reconhecendo: “Meu Senhor e meu Deus.”
Naquele momento, os discípulos perceberam o que estava acontecendo. Jesus não era apenas o Messias prometido, mas o próprio Deus em carne. Ele havia derrotado Satanás, não com espadas ou exércitos, mas ao vencer o maior inimigo de todos: a morte. Sua ressurreição não era apenas simbólica; era real, física. Para provar isso, Jesus até comeu um peixe diante deles. Mas ele não parou por aí. Ele abriu as escrituras e deu aos discípulos o maior estudo bíblico de todos os tempos, mostrando como tudo — desde Moisés até os profetas — apontava para ele.
Os discípulos estavam prontos para seguir Jesus. “Agora você vai restaurar o reino?”, perguntaram. Mas Jesus tinha outro plano. Ele explicou que o reino já estava em ação, mas não da forma como eles esperavam. A igreja seria a expressão do reino na terra até o momento em que ele voltasse para completá-lo. Ele os comissionou: “Vão e façam discípulos de todas as nações. Batizem e ensinem. Eu estarei com vocês até o fim dos tempos.”
Depois disso, Jesus ascendeu ao céu. Mas ele não foi embora de verdade. Ele reina do céu, guiando sua igreja e expandindo seu reino. E ele prometeu: um dia, ele voltaria. Quando isso acontecer, não será apenas para restaurar Israel ou corrigir algumas coisas. Ele trará o céu para a terra, transformará todas as coisas, derrotará Satanás de uma vez por todas, e até mesmo a morte será lançada no inferno. Todos os que crerem nele ressuscitarão para viver em um mundo perfeito, onde não haverá mais lágrimas, dor ou separação. A Árvore da Vida, perdida no Éden, estará acessível novamente, e a história que começou na criação encontrará sua conclusão na redenção.
Então, por que tudo existe? Por Jesus e para o seu reino. Ele não apenas consertará o que está quebrado, mas transformará o mal em bem, trazendo redenção até para as partes mais sombrias da nossa história. A pergunta que resta é: você quer fazer parte disso? Essa não é apenas uma história; é o convite de Deus para você.