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10 Lições de “O Peregrino” de John Bunyan

INTRODUÇÃO: Acabei de ler “O Peregrino”, de John Bunyan, que é uma obra clássica muitas vezes vista como um dos primeiros romances autênticos, ao lado de “Divina Comédia” de Dante e “Dom Quixote” de Cervantes. O livro mais famoso de Bunyan conta de forma simbólica a peregrinação de um casal chamado: Cristão e Cristã (representando todos os cristãos de certa forma) em direção ao céu, conhecido como Cidade Celestial.

Então, quais aprendizados podemos tirar de “O Peregrino”? Aqui estão dez lições que preparei para compartilhar com vocês.

O caminho é estreito

A primeira lição, especialmente na Parte I, que foca na jornada do cristão, é que o caminho para o céu é estreito. Isso é mostrado em várias partes do livro. Por exemplo, enquanto o Cristão anda pelo Vale da Sombra da Morte, o autor destaca:

“A trilha entre a vala e o charco era excessivamente estreita, e Cristão teve de ser extremamente cauteloso para permanecer nela extremamente estreito… Era como caminhar numa corda esticada sobre uma cova sem fundo na escuridão. Prosseguir era perigoso, mas era igualmente arriscado tentar virar-se e retornar.” (p. 64)

Essa mesma ideia é revisitada quando Cristão e seu amigo Esperançoso se desviam do caminho, lembrando-se do ditado: “É máis fácil sair do caminho certo que voltar nele” (p.114). Isso resultou em seu aprisionamento pelo impiedoso Gigante Desespero, um gigante real que vive no Castelo da Dúvida. Essa parte da história ressalta que apenas um caminho é verdadeiro: todos os outros levam ao desespero e à incerteza.

Sem querer insistir no assunto, notei a mesma mensagem em mais duas ocasiões. Cristão e Esperançoso são tentados por um homem chamado Demas a abandonar o caminho para adquirir riqueza na mina de prata próxima. (p. 110)

Ilustração de Byam Shaw (1872-1919) mostrando Demas convidando os peregrinos a trabalhar a mina de prata, por John Byam Liston Shaw

Felizmente, Cristão e Esperançoso mantiveram-se fieis ao caminho correto e evitaram a morte escondida que aguardava aqueles na mina de prata.

Mais uma vez, Cristão e seus companheiros de viagem tomaram um desvio e foram brevemente afastados do caminho correto por um Sr. Enganador, que acabou por prendê-los em sua armadilha (p. 131). Dessa forma, Bunyan reforça a lição bíblica de que o caminho correto é estreito ao longo de toda a sua obra.

Uma boa companhia vai longe

Manter uma boa companhia é essencial não só na vida prática, mas também na espiritual. Bunyan enfatiza isso nas Partes I e II, especialmente na Parte II com a história da jornada de Cristã para o céu. Notei que a jornada de Cristã enfatiza muito mais a comunhão e a comunidade do que a Parte I.

Na Parte I, Cristão está na maior parte do tempo sozinho em sua aventura, embora eventualmente encontre grande auxílio na companhia de Fiel e Esperançoso. Cristã, no entanto, encontra um número maior de peregrinos de ideias afins, incluindo personagens como Srta. Misericórdia, Sra. Inocência, Sr. Generoso, Sra. Prudência, Sr. Piedade, Sr. Honestidade, Sr. Valente pela Verdade, Sr. Manquitola, Sr. Mente-fraca, Sr. Fraco, o Sr. Desânimo e sua filha Medrosa. Estes personagens, juntamente com os filhos de Cristã: Mateus, Samuel, José e Tiago, finalmente completam a peregrinação para a Cidade Celestial juntos (exceto Sr. Generoso que retorna para ajudar outros peregrinos antes de sua morte).

Além disso, tanto Cristão quanto Cristã encontraram grande consolo, auxílio e encorajamento de outros que, mesmo não tendo feito a peregrinação ao seu lado, compartilhavam a mesma fé. Estes personagens incluem o Intérprete (semelhante a um pastor que interpreta as escrituras bíblicas), a família na casa chamada Beula, os Pastores das Montanhas Deleitáveis e, claro, o próprio Evangelista (Jesus). Cristã também recebeu uma ajuda ainda maior que Cristão através da bondade de Gaio e Sr. Manson na Feira da Vaidade, juntamente com o colega Penitente, Sr. Santo, Sr. Contrito, Sr. Amigo dos Santos e Sr. Verídico.

As Más Companhias Corrompem os Bons Costumes

Em nossa terceira lição, aprendemos que a perversão da boa companhia é, naturalmente, a má companhia. Os companheiros com os quais viajamos, seja voluntária ou involuntariamente, podem tornar a viagem mais difícil. Bunyan reconheceu a necessidade dos peregrinos de livrar sua companhia de influências negativas, ou seja, aqueles que não compartilham uma teologia ou estilo de vida convincente.

O primeiro personagem que exemplificou as más companhias foi o Sr. Loquaz (páginas 80-82), que representava um homem “religioso” apenas no discurso. Ele falava sobre Deus e sua Palavra apenas da boca para fora, mas suas motivações e ações distanciavam diametralmente do Evangelho. Cristão alertou seu amigo Fiel sobre a verdadeira natureza de Loquaz depois de conhecê-lo logo após o Vale da Sombra da Morte. Os dois amigos rapidamente se livraram dele para não atrapalhar a viagem.

Um segundo personagem que exemplifica esse ponto foi o Sr. Amor ao Dinheiro (páginas 106-108), que era semelhante em natureza a Loquaz. O Sr. Amor ao Dinheiro era um “portador de religião”, alguém que era religioso quando havia vantagem em ser e não religioso quando havia vantagem em não ser. Por trás da percepção religiosa do Sr. Amor ao Dinheiro, encontramos o pensamento comum de que somos sempre mais zelosos quando a religião nos beneficia material e financeiramente (página 108).

Por fim, havia o Sr. Ignorância, que seguia Cristão e Fiel durante sua progressão em direção ao rio (que simbolizava a morte corporal). Embora Cristão e Esperançoso tentassem convencer a Ignorância do erro de seus caminhos (pois ele não vivia sua fé, mas assumiu seu lugar no Céu), eles finalmente tiveram que deixá-lo para trás. A ignorância não era boa companhia, pois quando atravessou o rio foi levado para o inferno. Este episódio marcou o final da Parte I da obra de Bunyan (a jornada de Cristão), como Bunyan memoravelmente escreveu.

“Eu soube, então, que das portas do céu havia um caminho para o inferno, do mesmo modo que da Cidade da Destruição. (p. 162)

Em resumo, não devemos deixar que nossa fé seja impedida por aqueles que a impedem.

O caminho é difícil

A quarta lição que podemos aprender em “O Peregrino” se torna evidente, particularmente na Parte I, que o caminho de um peregrino piedoso e sincero em sua fé é repleto de desafios e assombros. Ele enfrenta inúmeras dificuldades ao longo do caminho. Por exemplo, ao descrever a travessia do Cristão no Vale da Sombra da Morte, Bunyan o ilustra assim:

“O caminho era escuro como breu […] extremamente assustador e absolutamente fora de ordem. […] Num dos lados da estrada, um fosso profundo […] e no outro lado, um charco imundo que não havia fundo para os pés […] A trilha […] era como caminhar numa corda esticada sobre uma cova sem fundo, na escuridão. […] No meio da Vale estava a boca do inferno, de onde subiam chamas e fumaça e ruídos medonhos […] contra os quais sua espada era ineficiente […] dando-lhe a impressão de que ele seria feito em pedaços ou esmagado […] por uma turba de demônios vindo em sua direção […] Quando eles quase o tocaram, Cristão bradou: — Eu caminharei na força do Senhor Deus! ” (p. 64-65)

Aqui, Bunyan destaca uma importante característica que torna o caminho do peregrino difícil. O viajante frequentemente se sente perdido, sem um caminho claro a seguir e com o inimigo sempre à espreita. Nessas horas, resta apenas confiar em Deus para conseguir superar.

Cristão faz exatamente isso. Ele disse: “Embora eu ande pelo Vale da Sombra da Morte, não temerei nenhum mal, pois tu estás comigo” (p. 66). É evidente que Bunyan tirou essa linha diretamente da Bíblia, como muitos irão notar. Isso ressalta que o Senhor nos guiará, mesmo que caminhemos pelas trevas.

No mesmo capítulo que trata da passagem de Cristão pelo Vale da Humildade e da Morte, Bunyan detalha os riscos reais dessa travessia. Ele descreve que o caminho estava sempre cheio de perigos, armadilhas e buracos. Era tão escuro e perigoso que se Cristão tivesse inúmeras vidas, todas teriam sido perdidas. O que Bunyan quer dizer é que, mesmo que Cristão tivesse 1000 vidas, sem a orientação e ajuda de Deus, Cristão não teria conseguido sobreviver.

Além do Vale da Sombra da Morte, Cristão e Cristã enfrentaram outros desafios como a “Colina da Dificuldade”; no julgamento na Cidade da Vaidade resultando na condenação e punição de Fiel; enfrentaram por leões ferozes no caminho para a casa das Virtudes; atravessaram o Pântano do Desespero, o Castelo da Dúvida e se depararam com diversos Gigantes ao longo da jornada.

Neste sentido, a lição que fica é que a caminhada dos cristãos rumo ao Céu é cheia de dificuldades, mas é por meio de Cristo que conseguimos, por fim, chegar pelas portas da “Cidade Celestial”.

Cada Caminho do Peregrino é Diferente

Continuando com a 5ª lição, é importante destacar que todos os cristãos, descritos como peregrinos na obra de Bunyan, são orientados pelo Evangelista, que representa Jesus, a prosseguir seu caminho adentrando a Porta Estreita, controlada pelo Sr. Boa Vontade.

Ao meu ver, essa Porta Estreita pode simbolizar o Batismo ou a permissão concedida por Jesus, que resulta do nosso conhecimento Dele e do nosso desejo de estar com Ele no céu. Contudo, aqueles que cruzam a Porta Estreita almejam alcançar a Cidade Celestial, o Céu. Entretanto, cada viajante no percurso dos Peregrinos vivencia um conjunto exclusivo de experiências, embora tenham algumas em comum.

Bunyan destaca que, embora todos os cristãos devam evitar os mesmos males (obras da carne e do pecado), cada um pode enfrentar lutas diferentes. Isto é completamente verdadeiro em nosso mundo. Todos devemos nos afastar da ganância, luxúria, crueldade, preguiça, etc. Contudo, cada um tem sua própria fraqueza por um ou dois pecados específicos.

Da mesma forma, cada cristão recebe diferentes níveis de ajuda durante sua peregrinação de fé: diferentes níveis de fé ao longo da vida, algumas bênçãos materiais e espirituais, experiências com Deus e assim por diante. Embora os caminhos sejam distintos, o destino é o mesmo para aqueles que agradam ao Senhor.

Peregrinos inspiram outros peregrinos

O percurso de Cristão inspirou a muitos, conforme Bunyan expressa através do lamento de Cristã:

“Grande amor e profundas emoções tem os peregrinos. E você está fazendo por seus amigos e entes queridos o que o meu esposo fez por mim. Ele chorava porque eu não dava atenção ao seu apelo nem considerava o que ele dizia sobre o julgamento. Mas o Senhor dele, e nosso, recolheu as suas lágrimas por nós, e agora, você, os meus filhos e eu estamos colhendo os benefícios daquelas lágrimas. Espero, Misericórdia, que essas suas lágrimas não sejam em vão, mas resultem em na salvação de muita gente. A Palavra diz: “os que semeiam em lágrimas segarão com alegria”. (p. 168)

Através desse depoimento, fica claro que foi a missão de Cristão, em fazer uma peregrinação bem-sucedida, que permitiu que Cristã, Misericórdia e as crianças também pudessem ir à Cidade Celestial.

Mais na frente, ao se encontrar com o Sr. Honestidade, ele disse que ouviu “muito sobre o marido de Cristã, suas viagens e lutas. [E que] Seu nome é famoso por sua fé, coragem, perseverança e sinceridade.”

Em outras palavras, foi a corajosa decisão de Cristão em peregrinar pelo caminho da santidade que inspirou muitos. E assim como ele encorajou muitos outros peregrinos nesta história, cristãos de todas as partes e épocas dedicados a Jesus têm feito a diferença ao longo da história.

As Ferramentas de um Peregrino devem ser Usadas

Para a sétima lição, vemos que, espalhados por todo percurso do Peregrino estão várias ferramentas, objetos de grande utilidade para os peregrinos abençoados com elas. Por exemplo, Cristã foi presenteada pelo Sr. Intérprete com um capacete, uma espada, um escudo para encoraja-los a continuarem a viagem (p.188) e uma garrafa de suco de uva (p. 196, 220), que eram para ajudar a curar os meninos caso ficassem doentes no percurso.

Além disso, havia a luz do Sr. Generoso, que guiou ele e seu grupo através da Terra Encantada uma vez que uma estranha escuridão havia caído ao redor deles. A luz, em minha análise, representava a Palavra de Deus, que é a principal ferramenta para nos guiar através do caos e confusão deste mundo.

Outra grande ferramenta foi a armadura de Cristão (que é uma analogia comum às defesas e armas do cristão contra Satanás), que o ajudou a prevalecer contra Apoliom (um servo de Satanás ou o próprio Satanás).

Hoje, temos muitas ferramentas excelentes à nossa disposição: a Bíblia, os escritos dos pais da Igreja primitiva (por exemplo, Inácio de Antioquia, Agostinho, Tomás de Aquino, etc.), a própria história, a tradição protestante e o apoio de nossos irmãos e irmãs cristãos.

O Mal pode ser Derrotado

A oitava lição que aprendemos com Bunyan, em sua obra, é que o Mal e o Pecado podem ser vencidos, ou pelo menos resistidos, com a ajuda de Jesus Cristo.

Em certo sentido, como humanos, não podemos vencer todo o mal, mas certamente podemos combater o mal com o bem (Rm 12.21) em nossas próprias vidas e no mundo.

No livro, Bunyan demonstra isso através da derrota de Apoliom, a morte de três gigantes (Repugnante, Marreta e Desespero), a queda do Castelo das Dúvidas e o ferimento no Monstro que aterrorizava a Feira da Cidade.

Na vida real, podemos superar os pecados que enfrentamos todos os dias, graças à Deus. No mundo, podemos fazer a diferença e combater males como aborto, pobreza, escravidão, terrorismo e ideologias perigosas. Em certos momentos da história, também resistimos aos males causados por homens poderosos e malignos, como Hitler e Stalin. A Segunda Guerra Mundial é um exemplo de uma dura, mas real, derrota do mal, realizada pelo homem, pela vontade de Deus.

O Senhor Ajuda

A nona lição que aprendemos em “O Peregrino” é que o Senhor nos auxilia, especialmente quando oramos.

Quando Cristão estava prestes a ser derrotado por Apoliom, ele clamou por socorro e Deus alterou o curso da batalha e resgatou Cristão. Além disso, Cristã e sua amiga Misericórdia, apesar de seus próprios erros, foram resgatadas por Lenitivo, um servo enviado pelo Sr. Porteiro (um tipo de Cristo ou um anjo) que agiu para libertá-las (p.174). Por fim, vimos que as orações dos peregrinos ajudaram a dissipar a escuridão sempre que surgiam no caminho (p.222).

Da mesma forma, Cristo responde às nossas orações, mas nem sempre da maneira que esperamos. Ele estabeleceu fisicamente sua Igreja na Terra para nos orientar. Nunca estamos sozinhos em nossa peregrinação.

Um fim recompensador

Os capítulos finais, tanto da Parte I quanto da Parte II, destaca as dificuldades e provações da caminhada cristã. Contudo, é essencial lembrar que essa jornada tem um destino final, que é incrivelmente gratificante, tal como Cristã expressa: “Vejo-me agora ao final da jornada; meus dias penosos são passados” (p.276).

Apesar dos obstáculos e desafios enfrentados pelos personagens em sua peregrinação, eles finalmente chegam à Cidade Celestial, o propósito final de sua viagem. Isso nos ajuda a lembrar de que, não importa as dificuldades que enfrentamos na vida, há uma recompensa esperando por aqueles que se mantêm firmes em seu compromisso com Cristo.

A vida espiritual pode ser longa e repleta de empecilhos, mas a alegria e a paz que encontramos no final recompensam todo o esforço.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: A obra de Bunyan, “O Peregrino”, continua sendo uma das maiores de todos os tempos, especialmente na literatura cristã. Ao ler, senti um grande estímulo (particularmente quando Bunyan enfatiza a estreiteza do caminho) para garantir que estou fazendo o meu melhor para seguir a Cristo. Deus abençoe.

A edição de 2009 da CPAD pode parecer um pouco entediante se comparada à versão da Mundo Cristão. A sensação que tive é que a linguagem usada pela Mundo Cristão é mais envolvente e fácil de acompanhar do que a da CPAD. Por outro lado, as ilustrações incluídas no texto da CPAD são um ponto forte, pois elas ajudam a enriquecer a experiência de leitura.

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O Peregrino, de John Bunyan. Tradução Marta Doreto de Andrade. CPAD. 2009.

Escrito por Diego Gonçalves, inspirado na leitura da seguinte fonte: O Peregrino, de John Bunyan. Tradução Marta Doreto de Andrade. CPAD. 2009.

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