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O que a Teologia Sistemática ensina sobre a revelação de Deus e como ela é preservada?

A Teologia Sistemática ensina que Deus se revela de duas maneiras principais: através da revelação universal e da revelação particular. Além disso, ela aborda como essa revelação é preservada, especialmente através da inspiração das Escrituras.

A Revelação Universal de Deus

A revelação universal de Deus é aquela que está disponível a todas as pessoas, em todos os tempos e lugares. Ela não é direcionada a indivíduos específicos ou grupos particulares, mas é geral e acessível a toda a humanidade. A Teologia Sistemática identifica vários meios pelos quais essa revelação ocorre:

  1. A Natureza da Revelação: Sendo seres humanos finitos e Deus infinito, nosso conhecimento de Deus é limitado àquilo que Ele escolhe revelar. A revelação geral ocorre através da natureza, da história e da constituição humana. Deus se manifesta através de Sua criação. A ordem, a beleza e a complexidade do universo apontam para um Criador inteligente e poderoso. Os salmos e outras passagens bíblicas atestam essa verdade. Além disso, a história da humanidade, com seus padrões e eventos significativos, também pode ser vista como um palco onde a mão de Deus está em atuação. A própria natureza humana, com sua capacidade moral e senso de divindade, reflete algo sobre o seu Criador.
  2. Os Meios da Revelação Geral: Os principais meios da revelação geral incluem:
    • A natureza: Os céus proclamam a glória de Deus. A ordem e o propósito observados no mundo natural revelam atributos divinos como poder, sabedoria e bondade.
    • A história: Deus está ativamente envolvido no curso da história humana. Embora a interpretação de eventos históricos seja desafiadora, a história em geral testifica o governo e a providência de Deus.
    • A constituição do ser humano: Os seres humanos possuem uma consciência moral. Esse senso inato de certo e errado sugere a existência de um Legislador moral. Além disso, há uma capacidade inerente no ser humano de reconhecer algo além do material, uma “semente da religião”.
  3. A Realidade e a Eficácia da Revelação Geral: A revelação geral é real e transmite um conhecimento verdadeiro sobre Deus, embora limitado. Ela é suficiente para tornar as pessoas responsáveis diante de Deus. Negar ou suprimir essa revelação básica não é desculpável. No entanto, a revelação geral por si só não é suficiente para levar ao conhecimento salvífico de Deus. Ela não comunica o evangelho de Jesus Cristo nem oferece um caminho para a redenção do pecado. Embora revele o poder e a divindade de Deus, ela não revela Seu caráter redentor e Sua graça salvadora de maneira clara. A revelação geral serve como um fundamento para a necessidade da revelação especial.
  4. Uma Crítica à Teologia Natural: A Teologia Sistemática também reconhece as limitações da teologia natural, que busca conhecer a Deus unicamente através da razão e da natureza. Embora a criação revele a glória de Deus, a interpretação dessa revelação pela razão humana caída é inevitavelmente distorcida pelo pecado e pela finitude. Portanto, a teologia natural, desvinculada da revelação especial, é insuficiente para fornecer um conhecimento completo e correto de Deus.

A Revelação Particular de Deus

A revelação particular ou especial de Deus é aquela que Ele comunica de maneira específica a certas pessoas em determinados momentos. Essa revelação é necessária devido à obscuridade da revelação geral causada pelo pecado e à necessidade de um conhecimento mais profundo e redentor de Deus. A Teologia Sistemática descreve as seguintes características da revelação especial:

  1. Definição e Necessidade: A revelação especial é a automanifestação de Deus a pessoas específicas em tempos e lugares definidos, permitindo um relacionamento redentor com Ele. Ela é necessária porque a humanidade perdeu o relacionamento de favor com Deus após a queda. A revelação especial visa suprir essa necessidade, oferecendo conhecimento sobre a vontade de Deus, Seu plano de salvação e Seu caráter redentor.
  2. A Natureza Antrópica da Revelação Especial: Deus se comunica com os seres humanos de maneiras que eles possam entender. Essa “acomodação” divina envolve o uso de linguagem humana e conceitos culturais acessíveis. No entanto, isso não significa que a revelação seja meramente humana, mas que Deus condescende em Se revelar dentro das limitações da compreensão humana.
  3. Os Meios da Revelação Especial: Deus usou diversos meios para comunicar Sua revelação especial ao longo da história:
    • Atos poderosos de Deus na história: A libertação de Israel do Egito, a entrega da Lei no Sinai e a vinda de Jesus Cristo são exemplos de atos divinos que revelam o caráter e os propósitos de Deus.
    • Comunicação verbal direta: Deus falou diretamente com indivíduos como Adão, Noé, Abraão, Moisés e os profetas. Essas palavras transmitiam mensagens específicas e instruções divinas.
    • O ministério de profetas: Os profetas foram porta-vozes de Deus, recebendo e transmitindo mensagens divinas ao povo. Suas palavras revelavam a vontade de Deus, denunciavam o pecado, chamavam ao arrependimento e anunciavam o futuro plano redentor.
    • A encarnação de Jesus Cristo: A revelação suprema e final de Deus é encontrada na pessoa de Jesus Cristo. Ele é a Palavra viva de Deus que se tornou carne. Através de Sua vida, morte, ressurreição e ascensão, Deus Se revelou plenamente. Jesus não apenas falou as palavras de Deus, mas Ele próprio é a revelação de Deus em forma humana.
    • As Escrituras Sagradas: A Bíblia é o registro autorizado e inspirado da revelação especial de Deus, culminando na pessoa e obra de Jesus Cristo. Ela contém os atos poderosos de Deus, Suas palavras diretas, as mensagens dos profetas e o testemunho apostólico sobre Jesus.

A Preservação da Revelação: A Inspiração

A Teologia Sistemática também aborda a questão de como essa revelação, especialmente a contida nas Escrituras, foi preservada ao longo do tempo de forma confiável. A doutrina da inspiração é central para essa preservação.

  1. Definição de Inspiração: A inspiração é o processo sobrenatural pelo qual os autores humanos das Escrituras foram movidos pelo Espírito Santo de tal maneira que seus escritos são também a Palavra de Deus. Essa influência divina garantiu que, ao escreverem, eles comunicassem a verdade de Deus sem erro. A inspiração não implicou em mera iluminação ou direção geral, mas em um controle superintendente do Espírito Santo sobre o processo de escrita.
  2. O Fato da Inspiração: A própria Bíblia reivindica ser inspirada por Deus. Passagens como 2 Timóteo 3:16 (“Toda a Escritura é inspirada por Deus”) e 2 Pedro 1:20-21 (“nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação particular, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo”) são fundamentais para essa doutrina. Além disso, o Antigo Testamento frequentemente apresenta as palavras dos profetas com a fórmula “Assim diz o Senhor”. O próprio Jesus reconheceu a autoridade do Antigo Testamento. O Novo Testamento também se apresenta como tendo autoridade divina.
  3. A Amplitude da Inspiração: A visão da Teologia Sistemática sobre a extensão da inspiração geralmente abrange a totalidade das Escrituras, incluindo cada palavra (inspiração verbal) e cada livro. Isso não significa que os autores foram meros escribas mecânicos, mas que o Espírito Santo guiou seus estilos individuais, vocabulário e propósitos de tal forma que o produto final foi a Palavra de Deus.
  4. A Intensidade da Inspiração: A inspiração é um ato único e sobrenatural de Deus que ocorreu durante a composição original dos textos bíblicos (autógrafos). Embora as cópias e traduções sejam consideradas confiáveis, a doutrina da inspiração se refere primariamente aos manuscritos originais. A busca por esses autógrafos é importante, embora sua ausência não diminua a autoridade das cópias fiéis que possuímos.
  5. Um Modelo de Inspiração: Existem diferentes modelos para explicar o processo de inspiração, mas a Teologia Sistemática geralmente enfatiza um modelo que reconhece tanto a agência divina quanto a humana na produção das Escrituras. Deus usou as personalidades, talentos e contextos históricos dos autores humanos, mas supervisionou o processo para garantir a veracidade e a autoridade divina do texto final.
  6. Vários Conceitos de Inerrância: A doutrina da inerrância está intimamente ligada à da inspiração. Se as Escrituras são verdadeiramente inspiradas por um Deus que não pode mentir, então elas devem ser totalmente verdadeiras e sem erro em tudo o que afirmam. No entanto, existem diferentes entendimentos sobre o escopo dessa inerrância. Alguns defendem a inerrância absoluta (sem erros de qualquer tipo), enquanto outros adotam visões mais matizadas, reconhecendo a possibilidade de pequenas imprecisões em questões não doutrinárias ou científicas, mantendo a inerrância nos assuntos de fé e prática.
  7. A Importância Histórica: A crença na inspiração e na autoridade das Escrituras tem sido um pilar da fé cristã ao longo da história da igreja. Essa convicção tem moldado a teologia, a prática e a vida dos crentes.

Em resumo, a Teologia Sistemática ensina que Deus Se revela universalmente através da criação, da história e da natureza humana, tornando todos responsáveis diante Dele. No entanto, essa revelação geral é insuficiente para a salvação, tornando necessária a revelação particular de Deus, que culmina em Jesus Cristo e é registrada de forma autorizada e inspirada nas Escrituras Sagradas. A preservação dessa revelação bíblica é assegurada pela doutrina da inspiração divina, que garante sua veracidade e autoridade como a Palavra de Deus. A razão e a experiência têm papéis importantes na compreensão e aplicação dessa revelação, mas sempre devem estar submissas à autoridade final das Escrituras.

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