A Assíria exerceu uma influência profunda e multifacetada sobre os reinos hebraicos de Israel (o Reino do Norte) e Judá (o Reino do Sul) durante um período significativo da sua história. Situados estrategicamente no Crescente Fértil, entre o Egito e a Mesopotâmia, os reinos hebraicos estavam inevitavelmente sujeitos à ascensão e queda de potências regionais como a Assíria.
A verdadeira história da Assíria começa por volta de 1100 a.C. com o reinado de Tiglate-Pileser I, que estendeu o poder assírio para oeste, alcançando o Mar Mediterrâneo e subjugando nações menores. No entanto, durante os dois séculos seguintes, o poder assírio declinou, enquanto Israel, sob Davi e Salomão, emergiu como uma potência dominante no Crescente Fértil.
A Assíria ressurgiu como uma força crescente a partir do século IX a.C.. Assurnasirpal II (883-859 a.C.) estabeleceu Calá como sua capital e começou a pressionar para oeste, aterrorizando as nações que se opunham. Os frequentes contactos com os sírios no sul culminaram na batalha de Qarqar, sobre o rio Orontes, em 853 a.C., durante o reinado de seu filho Salmaneser III (858-824 a.C.). Uma coligação liderada por Ben-Hadade de Damasco e Acabe, rei de Israel, uniu forças contra os assírios. Apesar da afirmação assíria de vitória, Salmaneser III evitou o contacto com os sírios nos anos subsequentes. Em 841 a.C., Jeú, que usurpou o trono em Samaria (Israel), submeteu-se a Salmaneser III, enviando-lhe tributo, o que deixou Hazael, o novo rei de Damasco, a resistir à agressão assíria sozinho.
Por quase um século, o poder assírio pareceu diminuir. No entanto, no século VIII a.C., sob Tiglate-Pileser III (Pul) que ascendeu ao trono em 745 a.C., a Assíria retomou uma política expansionista agressiva que impactou diretamente os reinos hebraicos. Pul exigiu tributo de Menaém, rei de Israel, e Rezim, rei de Damasco. Judá, sendo a nação mais forte em Canaã na época, possivelmente liderou uma coligação para se opor aos assírios sob Azarias (Uzias). Contudo, Acaz, o sucessor de Jotão em Judá, iniciou relações amistosas com Pul, levando as forças assírias a avançarem contra os filisteus em 733 a.C..
A intervenção assíria tornou-se ainda mais direta quando Peca, que sucedeu a Pecaías em Israel e adotou uma política antiassíria, uniu-se a Rezim da Síria e ameaçou Acaz de Judá para que se juntassem à oposição à Assíria. Acaz, ignorando os avisos do profeta Isaías, apelou a Tiglate-Pileser III por ajuda. Em resposta, os assírios invadiram a Síria e Israel. Damasco tornou-se o ponto focal dos ataques em 733 e 732 a.C., culminando na sua conquista em 732 a.C., pondo fim ao reino sírio. Peca foi deposto e substituído por Oséias em Samaria, que voluntariamente pagou tributo como um rei marionete. Acaz de Judá encontrou-se com Tiglate-Pileser em Damasco e firmou a vassalagem de Judá. Acaz ficou tão impressionado com os costumes assírios que ordenou a duplicação do altar de Damasco no templo de Jerusalém e introduziu o culto pagão. Durante todo o seu reinado, Acaz manteve uma política pró-assíria.
Sob Salmaneser V (727-722 a.C.), que sucedeu a Tiglate-Pileser III, Oséias de Israel tentou uma rebelião. Em poucos anos, os exércitos assírios cercaram Samaria, que caiu em 722 a.C. após um cerco de três anos. O Reino do Norte de Israel deixou de existir, tornando-se uma província assíria. Sargão II ascendeu ao trono da Assíria em 722 a.C. e é frequentemente creditado com a conquista de Samaria.
Judá, sob Ezequias (716 a.C.), inicialmente reconheceu a soberania de Sargão II. No entanto, mais tarde, Ezequias juntou-se a uma aliança com Edom, Moabe e Asdode para resistir à Assíria, antecipando o apoio do Egito. Asdode foi conquistada pelos assírios em 711 a.C., e as outras nações ofereceram tributo à Assíria para evitar a invasão.
Após a ascensão de Senaqueribe ao poder na Assíria (705 a.C.), o nacionalismo surgiu com rebeliões por todo o império assírio. Em 701 a.C., Senaqueribe avançou para oeste e atacou Judá. Apesar do ataque crucial a Jerusalém, Ezequias sobreviveu através de uma intervenção miraculosa. Sargão II vangloriou-se de receber “presentes” de Judá, sugerindo que Jerusalém foi poupada de um ataque durante o seu reinado, possivelmente devido ao pagamento de tributo por Ezequias.
Durante o reinado de Manassés (que começou como co-regente de Ezequias por volta de 709-8 a.C. e reinou sozinho a partir de 696/5 a.C.), Judá tornou-se um vassalo da Assíria, que atingiu o auge da riqueza e prestígio sob Esar-Hadom (681-669 a.C.) e Assurbanipal (668-630 a.C.). Manassés obteve o favor político da Assíria através da vassalagem e até fez uma visita obrigatória a Nínive em 678 a.C. sob Esar-Hadom. Judá pode ter participado em rebeliões contra a Assíria juntamente com Edom e Moabe. Manassés foi feito prisioneiro e levado para a Babilônia, mas depois foi libertado.
A influência assíria declinou no final do reinado de Assurbanipal. A queda de Nínive em 612 a.C. pelas forças aliadas da Média e da Babilônia marcou o fim do Império Assírio. A vitória babilónica em Carquemis em 605 a.C. eliminou o último vestígio da oposição assíria.
Em resumo, a Assíria influenciou profundamente os reinos hebraicos através de:
- Subjugação Política e Vassalagem: Tanto Israel como Judá tornaram-se vassalos da Assíria em diferentes momentos, obrigados a reconhecer a supremacia assíria e a seguir as suas políticas.
- Pagamento de Tributo: Os reinos hebraicos foram frequentemente forçados a pagar pesados tributos à Assíria, drenando os seus recursos económicos.
- Intervenção Militar e Conquista: A Assíria invadiu repetidamente os territórios dos reinos hebraicos, culminando na conquista e destruição do Reino do Norte de Israel em 722 a.C.. Judá também enfrentou ameaças e invasões, embora tenha sobrevivido como um reino vassalo por mais tempo.
- Influência Religiosa: A vassalagem assíria levou à introdução e promoção de cultos pagãos assírios nos reinos hebraicos, particularmente sob o reinado de Acaz em Judá.
- Impacto Geopolítico: A ascensão da Assíria alterou significativamente o panorama político do Crescente Fértil, forçando os reinos hebraicos a navegar por complexas alianças e oposições para garantir a sua sobrevivência.
A influência assíria foi, em grande parte, destrutiva para o Reino do Norte, levando à sua extinção e à dispersão da sua população. Para o Reino do Sul, a influência assíria representou um período de subjugação, pressão económica e desafios religiosos, mas também, em alguns momentos, de preservação face a outras ameaças regionais. A memória do poder assírio permaneceu como um fator significativo na história posterior dos reinos hebraicos e nas profecias dos seus videntes.