A soberania de Deus permeia todas as narrativas do Antigo Testamento, demonstrando seu controle e autoridade suprema sobre a história, as nações e a vida dos indivíduos, mesmo em meio ao sofrimento e à injustiça. Longe de ser um observador passivo, o Senhor é apresentado como o autor e diretor da história, usando todas as circunstâncias para seus próprios propósitos, muitas vezes insondáveis para a compreensão humana.
Desde os primeiros livros, a soberania divina é estabelecida na criação. Deus não apenas traz o universo à existência, mas também exerce domínio sobre ele. A escolha de Abraão, não seu irmão Naor, de Isaque, não Ismael, e de Jacó, não Esaú, ilustra a liberdade soberana de Deus em eleger aqueles através dos quais realizará seus planos. Esta eleição, embora possa parecer seletiva aos olhos humanos, faz parte do plano de Deus para revelar seu caráter e seu propósito redentor.
A história do Êxodo é uma poderosa demonstração da soberania de Deus sobre as nações. Ele ouve o clamor de seu povo oprimido no Egito e intervém com poder para libertá-los. As pragas enviadas sobre o Egito e a abertura do Mar Vermelho não são meros eventos fortuitos, mas atos deliberados do Deus soberano para cumprir sua promessa e manifestar sua glória. Mesmo a dureza do coração de Faraó pode ser vista como estando sob o controle permissivo de Deus para que sua obra de libertação fosse ainda mais evidente.
Nos períodos subsequentes da história de Israel, como narrado nos livros de Juízes, Samuel e Reis, a soberania de Deus é vista em sua capacidade de levantar e depor líderes, abençoar em tempos de obediência e disciplinar em tempos de apostasia. O ciclo de pecado, opressão, clamor e libertação em Juízes revela que mesmo quando seu povo se desvia, Deus permanece soberano, usando as ações de nações inimigas para seus próprios propósitos, levando Israel ao arrependimento. A ascensão de Davi ao trono, em lugar de Saul, demonstra que é Deus quem transfere o reino conforme sua vontade.
Situações de sofrimento e injustiça no Antigo Testamento frequentemente servem para destacar a soberania de Deus de maneiras profundas. O livro de Jó é um exemplo clássico. Jó, um homem justo, sofre perdas indizíveis, e seus amigos tentam explicar seu sofrimento como consequência de pecado. No entanto, a narrativa revela que Deus permitiu essas provações, não por causa dos vícios de Jó, mas por causa de sua virtude. O sofrimento de Jó, embora inexplicável em termos puramente humanos, ocorre dentro dos limites da soberania divina e, no final, leva a uma compreensão mais profunda de Deus.
Da mesma forma, o exílio babilônico, um período de imenso sofrimento e aparente injustiça para o povo de Judá, é apresentado como um ato do Deus soberano em resposta à sua contínua desobediência. Embora Babilônia seja usada como instrumento de julgamento, o próprio Deus é quem “suscitou o espírito” dos reis assírios e babilônicos para levar seu povo cativo. Contudo, mesmo neste período de escuridão, as promessas de restauração futura revelam que a soberania de Deus não é apenas para punir, mas também para redimir e restaurar. O retorno do exílio sob Esdras e Neemias é explicitamente atribuído à mão soberana de Deus, que move o coração de reis estrangeiros como Ciro e Artaxerxes para favorecer seu povo e a reconstrução do Templo e dos muros de Jerusalém.
O Antigo Testamento reconhece a tensão entre a justiça de Deus e o sofrimento aparentemente sem sentido. Jeremias questiona a prosperidade dos ímpios, e o livro de Lamentações expressa a dor e a perplexidade diante da destruição de Jerusalém, reconhecendo, no entanto, que mesmo essa calamidade ocorre sob o governo de Deus. A frase “Grande é a tua fidelidade” em Lamentações (3.23) surge em meio a um cenário de sofrimento extremo, afirmando que a fidelidade de Deus permanece inabalável, mesmo quando seus caminhos são incompreensíveis.
A soberania de Deus também é demonstrada em sua capacidade de usar as ações pecaminosas dos homens para alcançar seus próprios fins. O pecado de Judá com sua nora Tamar é redimido na linhagem que leva a Jesus. A traição de José por seus irmãos é usada por Deus para preservá-los da fome. A própria crucificação de Cristo, o ato mais injusto da história, é o meio soberano pelo qual Deus providencia a salvação para a humanidade.
Em resumo, as narrativas do Antigo Testamento apresentam um Deus cuja soberania se estende sobre toda a criação e a história humana, incluindo os momentos de maior sofrimento e injustiça. Embora os caminhos de Deus nem sempre sejam claros ou compreensíveis, sua soberania garante que Ele está no controle, trabalhando para cumprir suas promessas e revelar seu caráter santo, justo e misericordioso. O sofrimento e a injustiça nunca estão além do alcance de seu governo soberano, e muitas vezes são usados como instrumentos para disciplina, refinamento e, em última análise, para a manifestação de sua glória e a redenção de seu povo. A esperança do Antigo Testamento reside precisamente nesta soberania de um Deus fiel que cumprirá suas promessas, uma esperança que encontra sua plena realização em Jesus Cristo.