Não, Deus não muda de opinião no sentido humano. A Bíblia afirma com clareza que Deus é imutável — ou seja, Ele não muda em seu ser, caráter, propósito ou promessas. Contudo, há textos nas Escrituras que parecem mostrar Deus “arrependendo-se” ou “mudando de ideia”. Para entendê-los corretamente, é preciso fazer uma distinção entre a imutabilidade essencial de Deus e as mudanças nas suas ações conforme a resposta humana, o que é uma questão de linguagem e relação, não de natureza divina.
1. A imutabilidade de Deus
A imutabilidade é um dos atributos essenciais de Deus. Ele não muda com o tempo, não evolui, não retrocede, nem se contradiz. Seus planos são eternos e perfeitos desde o princípio.
“Porque eu, o Senhor, não mudo” (Malaquias 3.6)
“Deus não é homem para que minta, nem filho do homem para que se arrependa” (Números 23.19)
“Toda boa dádiva […] vem do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tiago 1.17)
Esses versículos afirmam que Deus é constante, fiel e confiável. Ele não muda de opinião por erro, ignorância ou impulsividade como os homens.
2. E os textos que falam que Deus “se arrependeu”?
Alguns textos bíblicos dizem que Deus “se arrependeu” (nacham, no hebraico), como:
- Gênesis 6.6: “Então se arrependeu o Senhor de ter feito o homem na terra”;
- Êxodo 32.14: “Então o Senhor se arrependeu do mal que dissera que havia de fazer ao povo”;
- Jonas 3.10: “Deus se arrependeu do mal que tinha dito que lhes faria, e não o fez”.
Como entender isso?
a) Linguagem antropopática
Esses textos usam linguagem humana (antropopática) para descrever ações de Deus de forma que possamos compreendê-las. Falam como se Deus mudasse de opinião, mas sem afirmar que Ele mudou em seu ser ou propósito eterno.
Assim como Deus “ouve”, “vê”, “desce” — embora seja onisciente e onipresente —, também “se arrepende”, não por mudança de mente, mas por mudança de atitude diante de novas circunstâncias morais.
b) Mudança na relação, não na essência
O que muda não é Deus, mas a situação da criatura diante dEle. Deus responde de maneira diferente conforme a resposta do ser humano, mantendo sua justiça e misericórdia imutáveis.
Exemplo: Deus ameaça juízo, mas quando há arrependimento verdadeiro, Ele perdoa — conforme Ele mesmo prometeu (Jr 18.7–10).
3. A harmonia entre soberania e relacionamento
Deus é soberano e eterno, mas também é relacional. Sua imutabilidade não o torna indiferente ou frio, mas garante que Ele age de forma consistente com seu caráter em todas as situações.
- Quando o homem peca, Deus reage com justiça.
- Quando o homem se arrepende, Deus responde com graça.
Essas reações são parte do seu plano eterno, não alterações de última hora. Ele já conhecia todas as respostas humanas desde a eternidade.
4. O propósito pedagógico da linguagem
As expressões sobre Deus “mudar de ideia” são didáticas — têm o propósito de nos mostrar:
- Que Deus leva a sério o pecado;
- Que Ele responde ao arrependimento com misericórdia;
- Que nossas ações têm consequências reais no relacionamento com Ele.
Conclusão
Deus não muda de opinião como os homens mudam — por ignorância, erro ou instabilidade. Ele é imutável em sua essência, fiel em seus propósitos e coerente em todas as suas ações.
As expressões bíblicas que parecem indicar arrependimento ou mudança são formas humanas de descrever a maneira como Deus se relaciona com as ações humanas, sempre de acordo com seu caráter santo, justo e misericordioso.
“Os decretos do Senhor são firmes e todos eles justos” (Sl 19.9)
“O conselho do Senhor permanece para sempre; os intentos do seu coração de geração em geração” (Sl 33.11)