As Línguas Estranhas (Glossolalia) Ainda São um Dom Ativo Hoje?
Ao abordarmos esta questão que desperta tanto interesse quanto controvérsia no meio cristão, somos convidados a explorar o papel e a atualidade do dom de línguas estranhas (conhecido como glossolalia) na igreja contemporânea. Este tema requer uma análise cuidadosa das Escrituras, considerando tanto o contexto histórico dos dons espirituais quanto sua aplicação prática hoje. Vamos examinar essa verdade com reverência, guiados pela Palavra de Deus.
1. O Que São as Línguas Estranhas?
O dom de línguas é mencionado em 1 Coríntios 12-14 como um dos dons do Espírito Santo. Ele se refere à capacidade sobrenatural de falar em “outras línguas” que não foram aprendidas naturalmente. Esse dom pode manifestar-se de duas maneiras principais:
a) Línguas como Sinais para os Não Crentes
Em Atos 2:4-11, vemos o exemplo das línguas usadas no Pentecoste. Os discípulos falaram em línguas humanas reconhecíveis, permitindo que pessoas de diferentes nações entendessem a mensagem do evangelho em seus próprios idiomas. Isso cumpriu a profecia de Joel (Joel 2:28-29) e serviu como um sinal poderoso da chegada do Espírito Santo.
b) Línguas como Oração ou Adoração
Em 1 Coríntios 14:2, Paulo descreve outro uso das línguas: “Porque quem fala em outra língua não fala aos homens, senão a Deus; pois ninguém o entende, e em espírito fala mistérios.” Aqui, as línguas são apresentadas como uma forma de comunicação direta com Deus, muitas vezes acompanhada de interpretação para edificação da igreja.
2. O Contexto Bíblico das Línguas
As línguas eram um dom específico dado pelo Espírito Santo para edificar a igreja primitiva e confirmar a autenticidade do evangelho.
a) Um Sinal para Israel
Em 1 Coríntios 14:21-22, Paulo cita Isaías 28:11-12 para explicar que as línguas também serviam como um sinal para os incrédulos, especialmente para Israel: “Por isso, lhes falarei por homens de outras línguas e por lábios de estrangeiros; e ainda assim não me ouvirão, diz o Senhor.” Esse propósito era particularmente relevante no contexto do Antigo Testamento e nos primeiros dias da igreja.
b) Subordinado à Edificação
Paulo enfatiza repetidamente que o propósito dos dons espirituais, incluindo as línguas, é edificar a igreja. Em 1 Coríntios 14:12, ele escreve: “Assim também vós, como desejais dons espirituais, procurai abundar neles para a edificação da igreja.” Sem interpretação, o uso público das línguas seria ineficaz para a congregação (1 Coríntios 14:27-28).
3. As Línguas Ainda São um Dom Ativo Hoje?
Embora o dom de línguas seja mencionado nas Escrituras como parte do ministério do Espírito Santo, sua continuidade nos dias atuais depende de como interpretamos o papel dos dons espirituais após o período apostólico.
a) O Argumento Continuacionista
Alguns cristãos defendem que todos os dons espirituais, incluindo as línguas, continuam ativos hoje, pois o Espírito Santo ainda opera na igreja conforme prometido por Jesus (João 14:16-17). Eles argumentam que a ausência do dom de línguas seria limitar a soberania de Deus e o poder do Espírito.
b) O Argumento Cessacionista
Outros crentes acreditam que certos dons, como as línguas e os milagres extraordinários, cessaram após o período apostólico. Essa visão baseia-se na ideia de que esses dons tinham um propósito específico: confirmar o testemunho dos apóstolos e estabelecer a igreja primitiva (Hebreus 2:3-4). Completas Escrituras e a maturidade da igreja tornariam tais sinais menos necessários.
4. Uma Perspectiva Equilibrada
Independentemente da posição teológica específica, algumas verdades permanecem claras nas Escrituras:
a) O Espírito Distribui os Dons Conforme Quer
1 Coríntios 12:11 declara: “Um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente.” Se o dom de línguas ainda existe, ele deve ser exercido com ordem, decência e edificação (1 Coríntios 14:40).
b) A Centralidade de Cristo e da Palavra
Os dons espirituais, incluindo as línguas, nunca devem ofuscar o foco central da fé cristã: Jesus Cristo e a pregação da Palavra. Paulo adverte em 1 Coríntios 13:1: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como o bronze que soa ou como o címbalo que retine.” O amor e a edificação da igreja devem sempre prevalecer.
5. Implicações Práticas para Nossa Vida
Entender o papel das línguas estranhas deve impactar nossa caminhada com Deus e nossa participação na igreja.
a) Buscar os Dons com Sabedoria
Se você crê que o dom de línguas ainda é ativo, busque-o com humildade e sabedoria, sempre priorizando a edificação da igreja e a glória de Deus. Romanos 12:6-8 nos lembra que os dons devem ser exercidos “segundo a proporção da fé.”
b) Evitar Extremos
Devemos evitar tanto o excesso quanto a rejeição total dos dons espirituais. Extremos podem gerar divisões e distrair da missão central da igreja: proclamar o evangelho e amar a Deus e ao próximo.
c) Valorizar a Unidade
Efésios 4:3 exorta: “Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz.” Independentemente de nossas convicções sobre os dons espirituais, devemos buscar a unidade no corpo de Cristo, respeitando diferenças de entendimento.
Conclusão: Um Chamado à Sabedoria e à Humildade
As línguas estranhas ainda são um dom ativo hoje? Essa pergunta não tem uma resposta definitiva que satisfaça unanimemente todos os cristãos. Contudo, as Escrituras nos ensinam que qualquer manifestação espiritual deve ser avaliada à luz da Palavra de Deus, exercida com ordem e decência, e voltada para a edificação da igreja.
Que esta compreensão inspire em nós uma busca sincera pela vontade de Deus e uma vida marcada pelo amor e pela unidade. Como escreveu Paulo: “Pursuai o amor e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis” (1 Coríntios 14:1). Que possamos priorizar aquilo que edifica, glorifica a Deus e fortalece o corpo de Cristo.
“Examinai tudo. Retende o bem” (1 Tessalonicenses 5:21). Que esta verdade ecoe em nossos corações, lembrando-nos de buscar sempre a plenitude do Espírito com sabedoria e discernimento.