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A publicação do primeiro texto dos Trinta e Nove Artigos em 1563 d.C. foi um marco decisivo na consolidação da doutrina da Igreja da Inglaterra. Este documento, elaborado sob a liderança de arcebispos reformadores como Thomas Cranmer e Matthew Parker, estabeleceu as crenças fundamentais da igreja anglicana, equilibrando princípios protestantes com elementos da tradição católica. Os Trinta e Nove Artigos tornaram-se a base teológica oficial da Igreja da Inglaterra e influenciaram profundamente o desenvolvimento do anglicanismo ao redor do mundo.


O Contexto: A Busca por Identidade Anglicana

Após a morte de Henrique VIII e os reinados tumultuados de Eduardo VI (protestante) e Maria I (católica), a Inglaterra enfrentava uma crise de identidade religiosa. Quando Elizabeth I ascendeu ao trono em 1558, ela herdou um país dividido entre católicos e protestantes. Determinada a promover estabilidade política e religiosa, Elizabeth buscou criar uma igreja que fosse distintamente inglesa, mas suficientemente flexível para atrair tanto moderados católicos quanto protestantes.

Os Trinta e Nove Artigos foram desenvolvidos como parte dessa estratégia. Originalmente baseados nos Quarenta e Dois Artigos de 1552, escritos por Thomas Cranmer durante o reinado de Eduardo VI, o documento foi revisado e reduzido para refletir o compromisso de Elizabeth com uma via média (via media ) entre o catolicismo e o protestantismo radical.

Em 1563, sob a supervisão do arcebispo Matthew Parker, os artigos foram aprovados pelo Sínodo da Igreja da Inglaterra e publicados como declaração oficial de fé. Eles permanecem um dos pilares da identidade anglicana até hoje.


Os Principais Ensinos dos Trinta e Nove Artigos

Os Trinta e Nove Artigos abordam questões centrais de doutrina e prática cristã, refletindo tanto princípios reformados quanto aspectos tradicionais. Entre os temas mais importantes estão:

  1. Autoridade das Escrituras:
    As Escrituras são declaradas como a única regra infalível de fé e prática (sola Scriptura ). Apesar disso, a tradição e o raciocínio são reconhecidos como úteis para interpretação.
  2. Justificação pela Fé:
    O artigo VII afirma que a salvação é alcançada somente pela graça mediante a fé em Cristo, rejeitando a ideia de que boas obras ou méritos humanos podem garantir a salvação.
  3. Rejeição de Doutrinas Católicas:
    Práticas como o purgatório, indulgências, veneração excessiva de santos e imagens religiosas são rejeitadas como não bíblicas.
  4. Sacramentos:
    Apenas dois sacramentos—batismo e Ceia do Senhor—são reconhecidos como ordenanças diretamente instituídas por Cristo. Outros rituais, como confirmação e matrimônio, são considerados cerimônias edificantes, mas não sacramentos no sentido estrito.
  5. Governo da Igreja:
    A autoridade episcopal é mantida, mas adaptada ao contexto inglês. O documento enfatiza a independência da Igreja da Inglaterra em relação ao papado.
  6. Predestinação:
    Embora seja afirmada a soberania de Deus na eleição, o artigo sobre predestinação é formulado de maneira cuidadosa para evitar polêmicas radicais.
  7. Liturgia e Adoração:
    A liturgia é simplificada, mas preserva elementos reverentes e históricos. O Livro de Oração Comum é adotado como padrão para o culto público.

Esses artigos buscavam harmonizar as convicções reformadas com práticas litúrgicas que fossem familiares aos ingleses, criando uma identidade distinta para a Igreja da Inglaterra.


Por Que Isso Importa?

Os Trinta e Nove Artigos têm implicações profundas para a teologia, a história e a prática cristã:

  1. Teologicamente:
    O documento consolidou as principais doutrinas da Reforma Protestante, como a justificação pela fé, a supremacia das Escrituras e a rejeição de práticas não bíblicas. Ao mesmo tempo, ele manteve certos elementos tradicionais, promovendo uma via média.
  2. Historicamente:
    Os Trinta e Nove Artigos moldaram a identidade da Igreja da Inglaterra e influenciaram o desenvolvimento do anglicanismo global. Eles também contribuíram para a estabilização religiosa e política da Inglaterra após décadas de conflito.
  3. Espiritualmente:
    O exemplo dos artigos nos desafia a buscar equilíbrio entre fidelidade às Escrituras e sensibilidade cultural. Somos chamados a viver nossa fé de maneira relevante e transformadora.

Aplicação para Hoje

Para os cristãos modernos, os Trinta e Nove Artigos oferecem lições importantes:

  1. Clareza Doutrinária:
    A formulação clara e concisa dos artigos nos lembra da importância de definir nossas crenças com base nas Escrituras, sem comprometer a verdade essencial.
  2. Flexibilidade e Contextualização:
    A abordagem da via média nos inspira a ser flexíveis em questões secundárias, buscando unidade e relevância sem sacrificar a ortodoxia.
  3. Compromisso com a Unidade:
    O esforço de Elizabeth I e seus líderes eclesiásticos para promover a coexistência pacífica entre diferentes grupos nos desafia a buscar reconciliação e compreensão mútua dentro da igreja.

Finalmente, os Trinta e Nove Artigos nos convidam a refletir sobre como podemos manter firmeza doutrinária enquanto nos adaptamos ao contexto cultural. Seu legado de equilíbrio e compromisso continua a inspirar cristãos a buscarem uma fé autêntica e relevante.


A seguir, capítulo 119: 1563 O Livro dos Mártires de Foxe é publicado

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