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Ano 367 d.C.: A Carta de Atanásio Define o Cânon do Novo Testamento

A Carta Festal XXXIX de Atanásio, escrita em 367 d.C., é um marco decisivo na história do cristianismo por sua contribuição à definição do cânon do Novo Testamento. Nesta carta pastoral, Atanásio, bispo de Alexandria, apresentou uma lista dos 27 livros que hoje compõem o Novo Testamento, estabelecendo pela primeira vez um cânon completo e amplamente aceito. Este evento foi crucial para a unidade da igreja e a preservação da fé apostólica.


O Contexto: A Necessidade de um Cânon Definido

No século IV, a igreja enfrentava desafios significativos relacionados às Escrituras. Heresias como o gnosticismo e o arianismo haviam produzido uma proliferação de textos apócrifos, muitos dos quais contradiziam as doutrinas centrais do cristianismo. Além disso, diferentes comunidades cristãs usavam coleções variadas de escritos, gerando incertezas sobre quais livros eram inspirados e deveriam ser considerados parte do cânon bíblico.

Atanásio, um defensor incansável da ortodoxia cristã, dedicou sua vida a combater heresias e promover a verdadeira fé. Em sua posição como bispo de Alexandria, ele tinha autoridade teológica e pastoral para orientar a igreja sobre questões fundamentais, incluindo o conteúdo das Escrituras. Sua Carta Festal XXXIX , enviada anualmente para anunciar a data da Páscoa, incluiu uma seção dedicada à definição do cânon bíblico.


O Conteúdo: A Lista dos Livros Canônicos

Na Carta Festal XXXIX , Atanásio dividiu as Escrituras em duas categorias principais:

  1. Os Livros Canônicos:
    Atanásio listou explicitamente os 27 livros do Novo Testamento: os quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), os Atos dos Apóstolos, as 14 epístolas de Paulo, as sete epístolas católicas (Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João, e Judas) e o Apocalipse de João. Ele declarou que esses livros eram “divinamente inspirados” e deviam ser lidos nas igrejas como a palavra de Deus.
  2. Os Livros Não Canônicos:
    Atanásio também mencionou outros escritos, como O Pastor de Hermas e as Epístolas de Clemente , que ele considerava úteis para leitura edificante, mas não inspirados ou aptos para estabelecer doutrina. Esses textos foram classificados como “úteis para o aprendizado,” mas excluídos do cânon oficial.

A lista apresentada por Atanásio foi notavelmente idêntica ao cânon do Novo Testamento reconhecido pela igreja universal posteriormente, demonstrando sua influência duradoura.


Por Que Isso Importa?

A definição do cânon por Atanásio tem implicações profundas para a teologia, a história e a prática cristã:

  1. Teologicamente:
    O cânon definido por Atanásio garantiu que a igreja tivesse uma fonte confiável e autorizada de doutrina. Os 27 livros do Novo Testamento foram reconhecidos como contendo a revelação plena e suficiente de Deus em Cristo, protegendo a igreja contra falsos ensinos.
  2. Historicamente:
    A Carta Festal XXXIX foi um passo crucial na padronização do cânon bíblico. Embora debates sobre certos livros continuassem por algum tempo, especialmente no Ocidente, a lista de Atanásio tornou-se amplamente aceita como normativa. Seu trabalho influenciou concílios posteriores, como os de Hipona (393 d.C.) e Cartago (397 d.C.), que confirmaram oficialmente o cânon.
  3. Pastoralmente:
    Ao definir claramente os livros canônicos, Atanásio ajudou a igreja a manter a unidade na pregação, no ensino e na adoração. Os crentes podiam confiar que as Escrituras eram a base inquestionável da fé cristã.

Aplicação para Hoje

Para os cristãos modernos, a definição do cânon por Atanásio oferece lições importantes:

  1. Confiança nas Escrituras:
    A lista de Atanásio nos lembra que as Escrituras são uma dádiva divina, entregue à igreja para guiar nossa fé e prática. Podemos confiar que o cânon bíblico reflete a vontade de Deus e a obra do Espírito Santo na história.
  2. Discernimento Teológico:
    Atanásio nos ensina a importância de discernir entre textos inspirados e não inspirados. Devemos ser cautelosos com materiais que reivindicam autoridade espiritual, mas não estão alinhados com as Escrituras.
  3. Unidade na Fé:
    A definição do cânon promoveu a unidade da igreja ao estabelecer uma base comum para a doutrina e a prática. Somos chamados a valorizar essa unidade, ancorando nossa vida cristã nas Escrituras.

Finalmente, a Carta Festal XXXIX de Atanásio nos desafia a considerar a centralidade das Escrituras em nossa caminhada com Deus. Ela nos lembra que a Bíblia não é apenas um livro histórico, mas a Palavra viva de Deus, capaz de transformar vidas e moldar comunidades.


A seguir: O cristianismo torna-se religião de estado do Império Romano

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