Ano 787 d.C.: 2º Concílio de Nicéia Resolve a Controvérsia sobre Ícones
O Segundo Concílio de Nicéia, realizado em 787 d.C., foi um evento decisivo na história da igreja cristã, marcando o fim do primeiro período iconoclasta e a resolução oficial da controvérsia sobre o uso de ícones. Este concílio ecumênico, convocado pela imperatriz Irene de Bizâncio e presidido pelo patriarca Tarásio de Constantinopla, reafirmou a legitimidade da veneração de imagens sagradas e estabeleceu princípios teológicos que moldaram a prática litúrgica da igreja oriental. A decisão do concílio consolidou a tradição iconódula (favorável aos ícones) como parte essencial da fé ortodoxa.
O Contexto: O Debate Iconoclasta
A controvérsia sobre ícones havia dividido a igreja bizantina por mais de um século. Desde o decreto de Leão III em 726 d.C., que proibiu o uso de ícones, a igreja enfrentou uma profunda crise teológica e política. Os iconoclastas argumentavam que a veneração de ícones violava o segundo mandamento bíblico contra a fabricação de imagens para adoração (Êxodo 20:4-5). Eles também viam os ícones como símbolos de corrupção e superstição, além de serem politicamente problemáticos diante das críticas muçulmanas.
Por outro lado, os iconódulos defendiam que os ícones eram ferramentas pedagógicas e devocionais, não objetos de adoração. Eles sustentavam que Cristo, ao assumir a natureza humana, tornou possível representá-lo visualmente. Além disso, os ícones ajudavam os fiéis a focar sua adoração em Deus e nos santos, sem confundir a imagem com o próprio divino.
Após décadas de perseguição aos defensores dos ícones e destruição de imagens sagradas, a imperatriz Irene, regente em nome de seu filho Constantino VI, decidiu convocar um concílio ecumênico para resolver definitivamente a questão. Este seria o Sétimo Concílio Ecumênico da igreja cristã.
O Concílio: Decisões e Declarações
O Segundo Concílio de Nicéia reuniu cerca de 350 bispos em Nicéia, a mesma cidade onde o Primeiro Concílio de Nicéia havia sido realizado em 325 d.C. Após debates intensos, o concílio chegou às seguintes conclusões:
- Distinção entre Adoração e Veneração:
O concílio afirmou que apenas Deus deve ser adorado (latreia ), enquanto os ícones podem ser reverenciados (proskynesis ). Esta distinção esclareceu que os ícones não são objetos de culto, mas meios para dirigir a adoração a Deus e homenagear os santos. - Legitimidade dos Ícones:
O concílio declarou que é lícito representar Cristo, Maria, os santos e eventos bíblicos em imagens, desde que essas imagens sejam usadas de maneira apropriada. A encarnação de Cristo foi citada como justificativa teológica, pois ela tornou possível representar o divino na forma humana. - Condenação do Iconoclasmo:
O concílio condenou o iconoclasmo como heresia, restaurando o uso de ícones nas igrejas e ordenando sua veneração pública. Ele também anatematizou os líderes iconoclastas e suas doutrinas. - Restauração da Paz Eclesiástica:
Ao resolver a controvérsia, o concílio buscou restaurar a unidade da igreja e promover a reconciliação entre as facções divididas. Monges e clérigos perseguidos durante o período iconoclasta foram reintegrados, e as igrejas devastadas foram reconstruídas.
Por Que Isso Importa?
O Segundo Concílio de Nicéia tem implicações profundas para a teologia, a história e a prática cristã:
- Teologicamente:
O concílio reafirmou a doutrina da encarnação como base para o uso de imagens sagradas. Ele destacou que a representação visual de Cristo e dos santos não diminui sua majestade divina, mas celebra o mistério da encarnação. - Historicamente:
A decisão do concílio solidificou a tradição iconódula na igreja oriental, influenciando profundamente a arte, a arquitetura e a liturgia ortodoxa. Os ícones tornaram-se elementos centrais da espiritualidade bizantina, simbolizando a presença real de Cristo e dos santos na vida da igreja. - Espiritualmente:
A veneração de ícones tornou-se uma prática devocional essencial para os cristãos ortodoxos, ajudando-os a focar sua adoração em Deus e a refletir sobre os exemplos de santidade. O concílio demonstrou que a arte sacra pode ser um meio poderoso de conexão com o divino.
Aplicação para Hoje
Para os cristãos modernos, o Segundo Concílio de Nicéia oferece lições importantes:
- Adoração e Devocionalidade:
A distinção entre adoração e veneração nos lembra de usar imagens e símbolos de maneira que apontem para Deus, sem substituí-Lo. Somos chamados a manter nosso foco na verdadeira adoração ao Criador. - Tradição e Inovação:
O concílio demonstra a importância de preservar tradições significativas enquanto permanecemos abertos ao diálogo e à reforma. Devemos avaliar nossas práticas à luz da Escritura e da tradição. - Unidade e Diversidade:
A reconciliação promovida pelo concílio nos desafia a buscar harmonia dentro da igreja, mesmo diante de diferenças culturais e teológicas. O diálogo respeitoso é essencial para resolver disputas.
Finalmente, o Segundo Concílio de Nicéia nos desafia a refletir sobre como usamos arte e símbolos em nossa adoração. Seu legado continua a inspirar cristãos a equilibrar tradição e inovação enquanto permanecem firmes na verdade bíblica.
A seguir, capítulo 59: 800 Carlos Magno coroado Sacro Imperador Romano