A religião de Canaã, marcada pelo politeísmo e pela ausência de um caráter moral em suas divindades, exerceu uma influência profundamente corrosiva sobre a moral do povo de Israel. As práticas religiosas cananeias estavam intrinsecamente ligadas a comportamentos brutais e imorais, que inevitavelmente se refletiram na sociedade cananeia e, quando adotadas pelos israelitas, levaram a um declínio ético e espiritual.
Entre as abominações praticadas pelos cananeus estava o sacrifício de crianças, um ritual repugnante associado ao culto de divindades como Moloque. Essa prática, considerada pelos salmistas como culto a demônios, demonstrava um desprezo fundamental pela vida humana, especialmente a mais vulnerável. A adoção de tal costume por alguns israelitas, como no vale de Hinom sob o reinado de Manassés, obscureceu a santidade da vida que deveria caracterizar o povo de Deus.
A prostituição sagrada era outro elemento central da religião cananeia, associada aos rituais de fertilidade e ao culto de deusas como Asera e Astarté. Essa prática degradante minava a pureza sexual e a instituição do matrimônio, conforme estabelecido pela lei de Deus. A contaminação dessas práticas levou a uma crescente licenciosidade e à quebra dos padrões morais dentro de Israel, como evidenciado em diversos períodos de sua história, incluindo o envolvimento com o culto de Baal-peor com ritos imorais que incitaram a ira divina.
O culto à serpente era outra faceta da religião cananeia que contrastava fortemente com a adoração do único Deus de Israel. Enquanto a serpente adquiriu conotações negativas na história da queda (não detalhada nas fontes), a sua veneração como um objeto de culto desviou a devoção que pertencia exclusivamente ao Senhor.
As Escrituras testemunham repetidamente a natureza sórdida da moralidade cananeia e advertem Israel contra a contaminação. Moisés instruiu solenemente o povo a destruir os cananeus não apenas por sua iniquidade, mas para prevenir a corrupção do povo escolhido. As leis dadas a Israel, incluindo as restrições alimentares e as proibições de certas práticas matrimoniais, visavam distingui-los dos costumes idólatras do Egito e de Canaã.
A história de Israel é marcada por inúmeros episódios em que a influência da idolatria cananeia levou a um declínio moral. Durante a época dos Juízes, a ausência de uma liderança central forte permitiu a infiltração de práticas cananeias. Gideão fez um éfode de ouro que se tornou um laço de idolatria. Jefté, possivelmente influenciado pelos costumes pagãos, pode ter sacrificado sua filha. Sansão envolveu-se com Dalila, uma filisteia, o que o conduziu à ruína. Mica estabeleceu um santuário com imagens idolátricas e contratou um levita como sacerdote, demonstrando a confusão religiosa da época.
O reinado dos reis também foi pontuado por momentos de profunda apostasia influenciada pela idolatria cananeia. Salomão, apesar de sua sabedoria inicial, permitiu a adoração de ídolos e até mesmo construiu altares para as divindades de seus esposas estrangeiras, incluindo Astarote, Milcom e Quemós. Essa tolerância à idolatria afastou seu coração de Deus e estabeleceu um precedente perigoso para o reino.
No Reino do Norte, reis como Acabe promoveram ativamente o culto a Baal, influenciado por sua esposa Jezabel. Templos foram construídos e profetas de Baal foram trazidos, levando a uma aberta apostasia e a um consequente declínio moral no povo.
Mesmo no Reino do Sul de Judá, a influência cananeia persistiu. Manassés reinou em grande impiedade, reconstruindo os “lugares altos”, erigindo altares a Baal, construindo aserins e instituindo o culto às estrelas e planetas, além de sacrificar crianças. Sua maldade superou a das nações que haviam sido expulsas de Canaã, marcando um ponto baixo na história moral dos reis de Davi.
A adoção da idolatria cananeia não era meramente uma mudança de lealdade religiosa; ela trazia consigo uma completa subversão dos valores morais que Deus havia estabelecido para seu povo. A brutalidade, a impureza sexual e o desprezo pela vida humana inerentes ao culto cananeu corroeram o tecido moral da sociedade israelita sempre que suas práticas eram adotadas. Os profetas foram repetidamente enviados para advertir contra essas abominações e chamar o povo ao arrependimento, reconhecendo o efeito destrutivo da idolatria sobre sua relação com Deus e sobre sua conduta ética. A história de Israel serve como um testemunho solene das consequências morais e espirituais de se desviar da adoração do Deus único e verdadeiro para seguir ídolos vazios e suas práticas corruptoras.