Interpretar corretamente a Bíblia — também chamado de hermenêutica bíblica — é essencial para compreender o verdadeiro sentido das Escrituras e aplicar seus ensinamentos com fidelidade. A má interpretação pode levar a erros doutrinários, práticas desviadas e falsos ensinos, enquanto a boa interpretação conduz à verdade, edificação e obediência a Deus.
1. O que é interpretação bíblica?
Interpretar a Bíblia corretamente significa:
- Descobrir o sentido original pretendido pelo autor inspirado;
- Entender o texto no seu contexto histórico, literário e teológico;
- Aplicar essa verdade de forma fiel e atual à vida cristã.
“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2Tm 2.15)
2. Princípios fundamentais da interpretação bíblica
a) A Bíblia interpreta a própria Bíblia (analogia da fé)
A Escritura não se contradiz. Um texto deve ser interpretado à luz do ensino geral da Bíblia.
“A soma da tua palavra é a verdade” (Sl 119.160)
b) O sentido literal e histórico vem primeiro
Busque o significado natural, histórico e gramatical do texto, conforme pretendido pelo autor original.
Exemplo: a ressurreição de Jesus deve ser entendida literalmente, como um fato histórico real.
c) Contexto é essencial
Sempre leia o versículo dentro de seu:
- Contexto imediato (versículos antes e depois);
- Contexto literário (tipo de gênero: narrativa, profecia, poesia, epístola etc.);
- Contexto histórico-cultural (a quem foi escrito? quando? por quê?).
Sem contexto, qualquer texto vira pretexto.
d) Conheça o gênero literário
A Bíblia contém diferentes tipos de textos:
- História (Gênesis, Reis, Atos) — fatos reais;
- Poesia (Salmos, Cânticos) — linguagem figurada;
- Profecia (Isaías, Apocalipse) — símbolos e visões;
- Epístolas (Romanos, Efésios) — doutrina e aplicação prática.
Cada gênero exige uma abordagem interpretativa apropriada.
e) Considere a revelação progressiva
Deus revelou sua vontade gradualmente ao longo da história. O Novo Testamento completa e interpreta o Antigo.
“Deus falou, muitas vezes e de muitas maneiras […] nestes últimos dias nos falou pelo Filho” (Hb 1.1–2)
f) Cristo é o centro da Escritura
Toda a Bíblia aponta para Jesus. Ele é o foco da revelação e o cumprimento das promessas de Deus.
“A respeito dele todos os profetas dão testemunho” (At 10.43)
“E, começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras” (Lc 24.27)
3. Atitudes espirituais do intérprete
Além do método, a disposição do coração é essencial:
- Humildade e reverência diante da Palavra (Is 66.2);
- Dependência do Espírito Santo, que ilumina o entendimento (1Co 2.14);
- Desejo sincero de obedecer, não apenas conhecer (Tg 1.22);
- Vida de oração e santidade, que abre os olhos espirituais (Sl 119.18).
4. Ferramentas úteis para interpretação
- Boa tradução da Bíblia (ex: ARA, NAA, NVI);
- Bíblia de estudo com notas históricas e teológicas;
- Dicionários bíblicos e comentários confiáveis;
- Concordância bíblica para comparar versículos;
- Orientação pastoral e discipulado maduro.
5. Erros comuns a evitar
- Isolar versículos sem considerar o contexto;
- Alegorizar tudo — transformar fatos reais em meras figuras;
- Forçar aplicações pessoais sem respeitar o sentido original;
- Impor ideias modernas sobre o texto antigo (eisegese);
- Ignorar a doutrina e a unidade bíblica.
Conclusão
Interpretar corretamente a Bíblia exige:
- Fidelidade ao texto original;
- Compreensão do contexto e do gênero literário;
- Cristo como centro e a Escritura como unidade;
- Dependência do Espírito Santo e reverência à Palavra.
A interpretação correta leva à verdade, à edificação da fé e à glória de Deus. É dever de todo cristão crescer nesse conhecimento para manejar bem a Palavra da verdade (2Tm 2.15) e viver segundo a vontade do Senhor.