O protestantismo surgiu e se desenvolveu na América Latina de maneira significativa somente após o período colonial, que se estendeu até o início do século XIX com os movimentos de independência. Durante a época colonial, a Igreja Católica Romana exercia um controle quase monopolístico sobre a vida religiosa, cultural e intelectual da região, fortemente apoiada pelas potências coloniais espanhola e portuguesa. Tentativas isoladas de grupos protestantes durante esse período, como os missionários calvinistas enviados ao Brasil em 1556 e as colônias luteranas experimentais na Venezuela, não prosperaram devido à forte repressão e à falta de apoio.
O verdadeiro marco da entrada do protestantismo na América Latina ocorreu no início do século XIX, coincidindo com a quebra do domínio espanhol e da Igreja Católica ligada à coroa espanhola. Nesse contexto de novas repúblicas emergentes, pioneiros como James Thomson, patrocinado pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, iniciaram seu trabalho em 1816, chegando a Buenos Aires. O trabalho de Thomson, que se estendeu pela Argentina, Uruguai, Chile, Peru e México até 1827, focava mais na promoção da leitura da Bíblia dentro do contexto católico existente do que na fundação imediata de igrejas protestantes. Ele encontrou grupos de padres interessados na leitura das Escrituras e até criou uma sociedade bíblica na Colômbia.
No final do século XIX, figuras como Francisco Penzotti, um italiano convertido ao protestantismo no Uruguai, desempenharam um papel crucial na disseminação da fé reformada. Penzotti, um colportor, viajou extensivamente pela América Latina na década de 1880, distribuindo Bíblias e literatura devocional a cavalo, do Uruguai à Argentina, Bolívia e Peru. Em muitas localidades, ele foi o fundador ou um dos fundadores das primeiras igrejas metodistas. Sua prisão no Peru por causa de sua fé protestante gerou um escândalo internacional e chamou a atenção para a intolerância religiosa na América Latina, abrindo caminho para maior liberdade religiosa.
Um crescimento mais expressivo do protestantismo começou a se manifestar a partir da década de 1940. Vários fatores contribuíram para essa expansão notável. A crescente secularização das sociedades latino-americanas após a independência, onde a separação entre Igreja e Estado se tornou mais pronunciada, criou um ambiente mais permissivo para a diversidade religiosa. A migração de pessoas do campo para as cidades também desempenhou um papel importante. Nas áreas rurais, o padre católico muitas vezes exercia uma influência social significativa, dificultando a conversão ao protestantismo devido à pressão social. Nas cidades, com maior anonimato e menor controle social pelas instituições tradicionais, as pessoas encontraram mais liberdade para escolher suas crenças religiosas.
Além disso, as igrejas protestantes, especialmente as pentecostais, demonstraram uma grande capacidade de adaptação à cultura latino-americana e de atender às necessidades das populações marginalizadas. Diferentemente da abordagem católica que muitas vezes se concentrava nas elites, os protestantes voltaram seus esforços para o povo. As igrejas protestantes tornaram-se espaços onde pessoas marginalizadas podiam encontrar aceitação, apoio social e oportunidades de crescimento pessoal e liderança. A ênfase em uma fé bíblica centralizada, a promoção de valores como a abstinência de álcool, a leitura e a responsabilidade familiar contribuíram para a mobilidade social de muitos convertidos.
A flexibilidade do culto protestante, que não dependia da presença de um sacerdote para a administração dos sacramentos da mesma forma que o catolicismo, e a valorização dos dons espirituais, como a cura, também atraíram muitos latino-americanos. As igrejas pentecostais, em particular, criaram seus próprios hinos, adotaram estilos de pregação mais expressivos e incorporaram elementos da cultura local em seus cultos, o que ressoou com a mentalidade latino-americana. Um exemplo notável é o surgimento da Igreja Metodista Pentecostal no Chile, que se separou da Igreja Metodista tradicional e cresceu exponencialmente ao adaptar-se ao contexto local.
Em alguns países, reformas agrárias também tiveram um impacto indireto no crescimento do protestantismo. Em locais onde a posse de terras estava ligada à Igreja Católica, a redistribuição de terras criou um ambiente onde a escolha religiosa se tornou mais livre.
A utilização estratégica dos meios de comunicação de massa, especialmente o rádio, pelos protestantes a partir da década de 1930, com a fundação de emissoras como a HCJB no Equador, também contribuiu para a disseminação de sua mensagem em toda a América Latina. A Igreja Católica, posteriormente, também desenvolveu suas próprias redes de rádio, mas a competição religiosa aberta era algo impensável durante o período colonial.
Embora o protestantismo tenha experimentado um crescimento fenomenal na América Latina, transformando a paisagem religiosa tradicionalmente católica da região, ele também enfrenta desafios. Uma tendência ao dualismo, onde o mundo é visto como uma batalha entre luz e trevas, e a possibilidade de manipulação política de algumas igrejas são algumas das fraquezas apontadas.
Apesar desses desafios, o crescimento do protestantismo na América Latina pode ser visto, em certa medida, como uma nova Reforma ou, analogamente, aos avivamentos wesleyanos do século XVIII na Inglaterra, que ocorreram durante um período de rápida industrialização e urbanização, auxiliando as pessoas em suas adaptações sociais sem recorrer à violência. Hoje, a América Latina continua sendo um centro forte do catolicismo, mas com uma presença e influência protestante cada vez maiores.