A intensidade da perseguição cristã nos primeiros séculos do Império Romano não foi constante, mas sim marcada por variações significativas ao longo do tempo e do espaço. Longe de ser uma experiência contínua, a hostilidade enfrentada pelos seguidores de Cristo oscilou entre períodos de relativa tranquilidade e ondas de severa repressão.
Nos primórdios do cristianismo, a perseguição frequentemente emanava de tensões fraternais com o judaísmo, conforme atestado nas Escrituras do Novo Testamento com os martírios de Estêvão e Tiago. No entanto, a relação com as autoridades romanas evoluiu, e a perseguição assumiu diversas formas e intensidades.
Nos primeiros dois séculos, a perseguição era, em sua maioria, localizada. Um exemplo notável é o reinado de Trajano (98-117), durante o qual Plínio, o governador da Bitínia, consultou o imperador sobre como lidar com os cristãos. A política resultante não ordenava que os cristãos fossem procurados, mas determinava que aqueles denunciados e confessos fossem punidos, a menos que renunciassem à sua fé adorando os deuses romanos. Esse edito estabeleceu um precedente para a perseguição seletiva, onde a obstinação em manter a fé cristã era considerada punível.
Sob Nero (54-68), a perseguição surgiu em um contexto específico: o grande incêndio de Roma em 64 d.C. Nero desviou a culpa para os cristãos, resultando em prisões, torturas e execuções no Coliseu. Tácito, embora criticasse a crueldade excessiva das mortes, descreveu os cristãos como uma “classe odiada por suas abominações” e culpada de “ódio à raça humana”, não considerando o cristianismo uma “religião” legítima, mas uma “superstição mortal” digna de repressão. Embora essa perseguição não tenha tido um seguimento imediato, prejudicou as chances de o cristianismo ser reconhecido como uma religião lícita separada do judaísmo.
No final do primeiro século, sob Domiciano (81-96), houve ações drásticas contra alguns membros da nobreza romana acusados de “ateísmo” e “de caírem em costumes judaicos”. Embora não seja certo que o cristianismo fosse o alvo principal, a acusação de “ateísmo” – negação dos deuses pagãos – sugere um possível envolvimento de cristãos, dada a sua recusa em adorar o panteão romano.
O segundo século testemunhou uma tolerância precária entre os anos 125 e 160, com poucos martírios registrados. Contudo, com a ascensão de Marco Aurélio (161-180), a situação se deteriorou. Os cristãos se tornaram cada vez mais impopulares, sendo culpados por desastres naturais devido à sua recusa em adorar os deuses protetores das comunidades. Acusações de imoralidade, vícios não naturais e magia negra também inflamaram a opinião pública. Durante seu reinado, o mártir Policarpo de Esmirna foi executado por se recusar a renunciar a Cristo. Em Lião, na Gália, em 177, ocorreu um terrível pogrom onde 48 cristãos foram mortos. A postura oficial de Marco Aurélio seguiu a de Trajano, mas a influência de mentores filosóficos que viam o cristianismo como uma força revolucionária perigosa intensificou a perseguição.
A dinastia Severa (193-235) trouxe um período de relativa paz para a igreja, embora o cristianismo permanecesse ilegal. Septímio Severo (193-211) inicialmente não era hostil aos cristãos, mas em 202 emitiu um edito proibindo novas conversões ao judaísmo e ao cristianismo, o que desencadeou perseguições, especialmente no Norte da África e Egito, resultando no martírio de figuras como Perpétua e Felicidade em 203.
A primeira perseguição deliberadamente em escala imperial ocorreu sob o imperador Décio (249-251). Em um momento de grave ameaça militar e declínio social, Décio buscou restaurar a unidade e os valores romanos, ordenando que todos os cidadãos participassem de um sacrifício anual aos deuses de Roma. O objetivo não era necessariamente forçar os cristãos a abandonar sua fé, mas sim realizar um ato público de culto pagão, obtendo um certificado (libellus) como prova de conformidade. A recusa levava à prisão, tortura e morte. Essa perseguição foi um teste severo para a igreja, resultando em muitas apostasias e divisões internas sobre o tratamento dos “lapsi” (aqueles que comprometeram sua fé).
Valeriano (253-260) inicialmente tolerou os cristãos, mas em 257 mudou sua política, visando não destruir a igreja, mas trazê-la à conformidade com os ritos públicos para salvaguardar o império em tempos de crise. Ele ordenou a deportação de líderes como Cipriano de Cartago e Dionísio de Alexandria, fechou locais de culto e cemitérios cristãos e decretou a execução para aqueles que os frequentassem. Em 258, a perseguição se intensificou com a ordem de execução de bispos, presbíteros e diáconos, a confiscação de propriedades da igreja e a redução à escravidão de leigos de alta posição social. Essa fase foi uma das mais sangrentas para a igreja em algumas partes do Império, culminando no martírio de figuras proeminentes como o Papa Sisto II e Cipriano.
Após a morte de Valeriano, houve um período de paz de mais de 40 anos (260-303) sob o reinado de Galiano, que emitiu um rescripto ordenando tolerância. Apesar de incidentes isolados, a igreja experimentou um crescimento significativo nesse período.
A última e talvez mais severa perseguição em escala imperial, conhecida como a “Grande Perseguição”, começou em 303 sob Diocleciano e continuou intermitentemente até 324. Inicialmente, Diocleciano era um perseguidor relutante, com a principal pressão vindo de seu colega Galério. A perseguição foi motivada por um desejo de retornar aos valores tradicionais romanos e pela percepção de que os cristãos representavam um desafio à unidade e aos ideais conservadores do Império. Quatro editos foram emitidos, ordenando a destruição de igrejas, a queima das Escrituras, a perda de direitos civis para os cristãos em posições elevadas, a prisão do clero e a obrigação de todos os cidadãos de sacrificarem aos deuses sob pena de morte. A intensidade variou regionalmente, sendo particularmente severa no Oriente sob Galério. Apesar da severidade, até mesmo essa perseguição teve seus momentos de abrandamento.
A revogação dos editos de perseguição por Galério em 311, pouco antes de sua morte, marcou um ponto de inflexão. O “Edito de Milão” em 313, um acordo entre Constantino e Licínio, reconheceu o cristianismo como uma religião legalmente permitida entre outras no Império, embora não o tenha estabelecido como religião estatal. A vitória de Constantino sobre Licínio em 324 levou à proclamação de sua adesão ao cristianismo e ao objetivo de que se tornasse a religião do Império unificado sob seu governo, sinalizando o triunfo da igreja após séculos de luta.
Portanto, a intensidade da perseguição cristã nos primeiros séculos foi um fenômeno dinâmico, influenciado por fatores políticos, religiosos e sociais, e variando significativamente em sua abrangência e severidade ao longo do tempo e sob diferentes lideranças imperiais. Os períodos de intensa perseguição eram frequentemente intercalados com períodos de relativa paz, moldando a história e a identidade da igreja primitiva.