Lição 06 – O Corpo de Cristo – Organismo e Organização

A Igreja é um organismo vivo. Contudo, como toda estrutura viva, precisa ser organizada para cumprir sua missão com ordem e propósito.

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VERDADE PRÁTICA: A Igreja é um organismo vivo. Contudo, como toda estrutura viva, precisa ser organizada para cumprir sua missão com ordem e propósito.

TEXTO BASE: “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio.” (At 6.3).

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Atos 6.1-7.

1 — Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano.

2 — E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas.

3 — Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio.

4 — Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra.

5 — E este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia;

6 — e os apresentaram ante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos.

7 — E crescia a palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o número dos discípulos, e grande parte dos sacerdotes obedecia à fé.


Introdução

Esta lição aborda a dupla natureza da Igreja como um organismo vivo, o Corpo de Cristo, e como uma organização divinamente ordenada. No contexto da nossa tradição de Santidade (Holiness), o estudo explora como a estrutura e a ordem não são fins em si mesmas, mas meios de graça essenciais para o nosso chamado à inteira santificação e à proclamação do Evangelho.

A identidade teológica da Igreja Holiness é profundamente influenciada por John Wesley e o movimento Metodista. Wesley compreendia a importância da disciplina, da responsabilidade mútua e da organização (“conexão”) como ferramentas para cultivar a santidade pessoal e comunitária. Portanto, para a tradição da Santidade, uma igreja organizada não é apenas uma questão de eficiência administrativa, mas uma expressão tangível do compromisso com o crescimento espiritual coletivo.

Os objetivos desta lição são: aprofundar a compreensão bíblica da Igreja como organismo espiritual unido a Cristo; demonstrar, a partir das Escrituras e da nossa história denominacional, a necessidade de uma organização eclesiástica saudável; e esclarecer o modelo de governo da nossa denominação, a Korea Evangelical Holiness Church (KEHC), e como ele nos capacita a cumprir nossa missão no mundo.


Parte I: Fundamentos Bíblicos e Teológicos da Igreja na Perspectiva da Santidade

1.1. A Igreja como Organismo Vivo: O Corpo de Cristo

A metáfora primária da Igreja no Novo Testamento é a de um “corpo” [1Co 12:12-14, 27], com Cristo como a “cabeça” [Ef 5:23]. Este não é um conceito abstrato, mas uma realidade espiritual na qual cada crente é enxertado. Cada membro, com seus dons e funções distintas concedidos pelo Espírito Santo, é vital para a saúde, o funcionamento e o testemunho do todo. A interdependência é a lei da vida do corpo; nenhum membro pode dizer ao outro que não precisa dele [1Co 12:21].

Na tradição Holiness, a vida orgânica do Corpo de Cristo está intrinsecamente ligada à busca da santidade. A santificação não é um processo puramente individualista; ela ocorre e é nutrida em comunidade. Os crentes são chamados a “levar as cargas uns dos outros” [Gl 6:2], a se exortar mutuamente para não se endurecerem pelo engano do pecado [Hb 3:13] e a crescer “em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” [Ef 4:15]. A organização da igreja, como os pequenos grupos, as classes de discipulado e as reuniões de oração, funciona como as “juntas e ligamentos” que facilitam esse crescimento orgânico em santidade. A doutrina da Igreja do Nazareno, outra denominação de Santidade, afirma que Deus “purifica o coração do pecado e derrama amor a Deus e ao próximo”.1 Esta purificação e amor são vividos e expressos na interconexão do corpo.

1.2. A Necessidade da Organização Eclesial: O Exemplo de Atos 6

O texto de Atos 6:1-7 oferece um estudo de caso fundamental sobre a relação entre organismo e organização. A primeira crise administrativa da Igreja Primitiva não foi vista como uma distração mundana, mas como um desafio que ameaçava a unidade do organismo. A murmuração que surgiu entre os crentes de fala grega (helenistas) e os de fala hebraica por causa de uma percepção de desigualdade na distribuição diária de alimentos às viúvas [v. 1] exigiu uma resposta organizada e espiritual.

Guiados pela sabedoria divina, os apóstolos propuseram uma solução estrutural: a criação de um novo ministério, o diaconato, para lidar com “este importante negócio” [vv. 2-3]. Eles estabeleceram critérios claros para a liderança — homens de “boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria” — e delegaram autoridade através de um ato formal e espiritual de oração e imposição de mãos [v. 6]. A consequência direta dessa organização não foi apenas a resolução do problema social, mas um avanço missionário explosivo: “E crescia a palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o número dos discípulos, e grande parte dos sacerdotes obedecia à fé” [v. 7]. A organização serviu à missão do organismo, liberando os apóstolos para se dedicarem “à oração e ao ministério da palavra” [v. 4].

A tradição da Santidade, com seu forte apelo a uma vida disciplinada, deve estar sempre vigilante contra o perigo do legalismo e do institucionalismo. A organização bíblica é dinâmica e serve à vida do Espírito. O institucionalismo, por outro lado, é rígido, prioriza a forma sobre a função e pode sufocar a vida espiritual. A igreja de Laodiceia serve como uma advertência perpétua: era uma igreja institucionalmente rica e autossuficiente, mas espiritualmente morna e cega, com Cristo do lado de fora, batendo à porta [Ap 3:15-17].

1.3. O Evangelho Quádruplo como Missão Organizacional da Igreja Holiness

Uma organização eclesiástica não existe no vácuo; ela é projetada para cumprir uma missão teológica específica. A estrutura de governo, os departamentos e os ministérios de uma denominação são a “plataforma de lançamento” para sua mensagem central. A identidade da Igreja Holiness é definida pelo “Evangelho Quádruplo”. Portanto, a forma como a igreja se organiza é uma consequência direta do conteúdo que ela prega.

A Korea Evangelical Holiness Church (KEHC) se define por sua teologia do “Evangelho Quádruplo Wesleyano”. A Jesus Korea Holiness Church (JKHC), um ramo da tradição, também se baseia no Evangelho Quádruplo como sua identidade fundamental. A estrutura organizacional da denominação — desde o seminário que treina pastores, passando pelos comitês missionários, até os departamentos da Assembleia Geral — existe para sustentar e propagar esta mensagem. Os quatro pilares da missão da igreja são:

  1. Cristo, nosso Salvador: A organização deve facilitar o evangelismo e a pregação da justificação pela fé.
  2. Cristo, nosso Santificador: Os ministérios de discipulado, pequenos grupos e a própria estrutura de responsabilidade mútua são projetados para ajudar os crentes a buscar a inteira santificação.
  3. Cristo, nosso Médico Divino: A organização de reuniões de oração e o ministério pastoral são canais para a fé na cura divina.
  4. Cristo, nosso Rei Vindouro: A estrutura mantém a igreja focada na esperança escatológica e na urgência da Grande Comissão.

Nessa perspectiva, a organização da igreja não é um “mal necessário”, mas o sistema esquelético que permite ao corpo (organismo) se mover de forma coerente e poderosa para cumprir sua missão quádrupla no mundo.


Parte II: A Estrutura de Governo da Igreja da Santidade (Holiness)

2.1. Raízes Históricas: O Modelo Conexional Wesleyano

O Movimento de Santidade nasceu dentro do Metodismo. John Wesley não apenas pregou uma teologia, mas criou uma estrutura altamente organizada de “sociedades”, “classes” e “bandos”. Esta estrutura, conhecida como

conexionalismo, enfatiza que nenhuma igreja local é uma ilha. Todas as congregações estão conectadas em uma rede de fé, missão e governo, formando uma “conexão”. Os princípios do conexionalismo incluem a responsabilidade mútua entre pastores e igrejas perante uma conferência ou assembleia mais ampla, o compartilhamento de recursos para missões e educação teológica, e a manutenção da unidade doutrinária em todas as igrejas da denominação.

O modelo conexional não é apenas um sistema de governo; é a expressão organizacional da teologia do “Corpo de Cristo”. Se os crentes são um só corpo, suas igrejas não devem viver em isolamento. A interdependência do conexionalismo reflete a interdependência dos membros descrita em 1 Coríntios 12. A história da KEHC, com seu forte impulso missionário desde o início — enviando missionários para a Manchúria, Japão, China e, eventualmente, Brasil — só foi possível por causa de uma estrutura conexional que mobilizou recursos e pessoal de toda a denominação através de um “Conselho Missionário”.

2.2. Análise Comparativa dos Sistemas de Governo Eclesiástico

Ao longo da história, as igrejas protestantes desenvolveram três modelos principais de governo. Compreendê-los ajuda a apreciar as particularidades do sistema da Igreja Holiness.

  1. Episcopal: A autoridade final reside nos bispos (episkopos), que governam dioceses ou regiões. É um sistema hierárquico, de cima para baixo, encontrado em denominações como a Católica Romana, Ortodoxa, Anglicana e algumas Metodistas.
  2. Congregacional: A autoridade final reside em cada congregação local, que é autônoma. Decisões importantes são tomadas por votação dos membros. Este modelo é seguido por Igrejas Batistas e muitas igrejas pentecostais e não denominacionais.
  3. Presbiteral: A autoridade é exercida por presbíteros (presbyteros) eleitos, que governam em conselhos ou assembleias em vários níveis (local, regional, nacional). É um sistema de governo representativo, característico das Igrejas Presbiterianas e Reformadas.

2.3. O Sistema de Governo da Korea Evangelical Holiness Church (KEHC)

O governo da Igreja Holiness não se encaixa perfeitamente em um único modelo, mas combina elementos do conexionalismo Wesleyano com uma estrutura presbiteral de governo por assembleias.

A KEHC é governada por uma Assembleia Geral (em coreano, Chonghoe), que funciona como o mais alto corpo legislativo e judicial da denominação. Esta Assembleia Geral é composta por representantes (pastores e leigos) eleitos pelos distritos ou conferências regionais. Ela elege líderes, como um Presidente ou Moderador, que supervisionam a administração da denominação. A ordenação de novos ministros é um ato da denominação, geralmente realizado sob a autoridade de um superintendente distrital ou de conferência, e não um ato de uma igreja local isolada.

As decisões da Assembleia Geral sobre doutrina, a constituição da igreja e a estratégia missionária são obrigatórias para todas as igrejas locais. Isso demonstra a natureza conexional e não-congregacional do sistema. A divisão temporária da denominação em 1961 sobre a filiação a conselhos ecumênicos é um exemplo poderoso desse sistema em ação. A questão foi debatida e decidida em nível de Assembleia Geral, e a subsequente reunião em 1965 foi também um ato conciliar, demonstrando que as decisões mais importantes são tomadas coletivamente e de forma representativa.

Tabela: Comparativo de Modelos de Governo Eclesiástico

CaracterísticaEpiscopalCongregacionalPresbiteralConexional-Presbiteral (Holiness)
Fonte de AutoridadeBispos (em sucessão)Congregação localConcílios de PresbíterosAssembleia Geral (representativa)
Liderança LocalSacerdote/Pastor nomeado pelo bispoPastor eleito pela congregaçãoConselho de Presbíteros (Sessão)Pastor nomeado em consulta com a liderança distrital/denominacional
Autonomia LocalLimitada; sujeita à dioceseTotal; autônomaInterdependente; sujeita ao presbitérioInterdependente; sujeita à Assembleia Geral e à Constituição
ExemplosAnglicana, CatólicaBatista, Igrejas de CristoPresbiteriana, ReformadaIgreja Holiness, Metodista

Parte III: Aplicação Prática para a Igreja Holiness Coreana de São Paulo

3.1. Vivendo como Organismo Organizado em Nosso Contexto

A realidade da igreja como organismo se manifesta na comunhão sincera, no exercício dos dons espirituais nos ministérios, na participação em pequenos grupos de oração e estudo bíblico, e no cuidado mútuo nas alegrias e dificuldades.

A realidade da igreja como organização se manifesta no serviço voluntário nos diversos departamentos (ensino, louvor, diaconia), na fidelidade nos dízimos e ofertas que sustentam a estrutura local e a obra missionária mais ampla, e no respeito e submissão à liderança pastoral e às decisões tomadas pelos órgãos governamentais da igreja [Hb 13:17].

3.2. Nossa História: Da Coreia a São Paulo, uma Missão Organizada

A história da Igreja Holiness no Brasil não é um acidente, mas um exemplo prático de como uma estrutura conexional responde a movimentos populacionais. A diáspora coreana após a Guerra da Coreia 8 criou uma necessidade espiritual que a KEHC, como uma organização missionária, estava estruturada para atender. A fundação da igreja em São Paulo não foi uma iniciativa isolada, mas uma extensão planejada da missão da denominação-mãe.

A KEHC estabeleceu uma igreja em São Paulo em outubro de 1965, no contexto da imigração coreana para o Brasil. A denominação, através de sua Assembleia Geral, criou comitês locais para supervisionar a obra missionária em diferentes partes do mundo, incluindo as Américas. A nossa igreja em São Paulo (CNPJ 46.363.438/0001-35), oficialmente fundada em 1981 22, é um fruto direto dessa visão missionária organizada.

É valioso notar que a nossa igreja faz parte da missão da Korea Evangelical Holiness Church. Existe outra denominação no Brasil, a “Igreja Evangélica Holiness do Brasil”, que tem uma história distinta, tendo sido fundada por missionários do Japão em 1925. Conhecer essa linhagem específica fortalece a nossa identidade denominacional.

3.3. Conclusão e Desafios

A Igreja é um organismo vivo. Contudo, como toda estrutura viva, precisa ser organizada. A organização saudável não sufoca o Espírito; pelo contrário, ela cria os canais através dos quais a vida do Espírito pode fluir de forma ordenada e eficaz para a edificação do corpo e a salvação do mundo.

Os membros da Igreja Holiness Coreana de São Paulo são chamados a ser participantes fiéis tanto do organismo quanto da organização. Isso implica amar os irmãos, servir com os dons, honrar a estrutura que Deus estabeleceu e, juntos, buscar a santidade e proclamar a Cristo como Salvador, Santificador, Médico e Rei que em breve voltará.

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