As estruturas políticas e sociais do Império Romano tiveram um impacto significativo na Palestina durante o século I d.C.
Influências Políticas:
- Domínio Romano: A Palestina fazia parte do Império Romano desde o século I a.C., o que significava que estava sujeita ao poder e à administração de Roma. Pompeu subjugou a Palestina em 63 a.C., tornando-a um estado vassalo. Posteriormente, foi integrada à província da Síria.
- Administração Imperial: Roma exerceu controle direto sobre a Palestina através de governadores ou procuradores. Esses funcionários imperiais possuíam poderes civis, militares e judiciais. Pôncio Pilatos é um exemplo de procurador da Judeia no tempo de Tibério César. Eles residiam habitualmente em Cesareia Marítima, mas se deslocavam a Jerusalém durante as grandes festas devido ao grande número de peregrinos e ao potencial para tumultos.
- Regime Herodiano: Roma utilizou a dinastia Herodiana para governar a Palestina indiretamente. Herodes, o Grande, ascendeu ao poder com o apoio romano. Seu reinado e o de seus sucessores (Arquelau, Herodes Antipas, Herodes Filipe, Herodes Agripa I e II) dependiam da aprovação e do beneplácito das autoridades romanas. Roma frequentemente intervinha na sucessão e administração herodiana.
- Legislação e Decretos Romanos: Roma promulgou decretos que afetavam a vida dos judeus na Palestina. Júlio César e Augusto emitiram disposições reconhecendo Hircano II como etnarca e sumo sacerdote e garantindo aos judeus o direito de seguir seus próprios costumes e enviar ofertas sagradas a Jerusalém. Foram concedidas isenções do serviço militar devido a escrúpulos religiosos relacionados ao sábado e às restrições alimentares. Esses decretos estabeleceram um estatuto especial para os judeus dentro do Império, reconhecendo seu direito peregrino especial e fundando o estatuto de religio licita para o judaísmo.
- Impostos Romanos: A Palestina estava sujeita a diversas formas de tributação romana, incluindo o tributum soli (imposto sobre a terra) e o tributum capitis (imposto sobre a renda mobiliária) nas áreas de administração direta. Impostos indiretos também existiam, como taxas sobre vendas e direitos alfandegários (portoria). A cobrança de impostos era frequentemente terceirizada a publicanos, financistas que contratavam coletores locais, o que gerava descontentamento entre a população judaica.
- Infraestrutura Romana: O Império Romano construiu um sistema rodoviário extenso, embora nem sempre pavimentado, com fins essencialmente estratégicos. Essas estradas também eram utilizadas pelo correio imperial (cursus publicus).
- Interferência Religiosa: Embora Roma geralmente permitisse a prática da religião judaica, houve momentos de tensão, como a tentativa de Calígula de erigir uma estátua de si mesmo no Templo de Jerusalém, que foi evitada por sua morte. O imperador romano também mandava sacrificar animais diariamente no Templo, embora a oferenda fosse feita ao Deus de Israel e não ao imperador diretamente. A nomeação e deposição de sumos sacerdotes pelas autoridades romanas também demonstravam a influência política sobre as instituições religiosas judaicas.
Influências Sociais:
- Cultura Greco-Romana: A presença romana expôs a população da Palestina à cultura greco-romana. Isso gerou tensões, pois muitos judeus ortodoxos viam certos aspectos dessa cultura como incompatíveis com seus valores religiosos e tradições. Havia uma oposição ao desprezo pelo trabalho manual, ao gosto por espetáculos como teatro e anfiteatro, à prática de frequentar ginásios e banhos públicos, e à arte grega, especialmente a estatuária. O culto ao imperador era particularmente ofensivo ao monoteísmo judaico.
- Hierarquia Social: A sociedade judaica no século I já possuía sua própria hierarquia, com o clero (sumos sacerdotes, sacerdotes, levitas), anciãos, a classe média, o povo e os miseráveis. A administração romana, no entanto, interagia principalmente com as elites judaicas, como os sumos sacerdotes e os anciãos, muitas vezes pertencentes ao partido saduceu, utilizando-os para manter a ordem e cobrar impostos. Isso criou uma dinâmica social onde a colaboração com o poder romano podia trazer benefícios para certas camadas da sociedade judaica.
- Grupos Político-Religiosos: O contexto do domínio romano e a influência da cultura greco-romana contribuíram para o surgimento e a dinâmica de diversos grupos político-religiosos dentro da sociedade judaica, como saduceus, fariseus, essênios, zelotas e herodianos. As atitudes em relação ao domínio romano variavam amplamente entre esses grupos, desde a colaboração (herodianos, certos saduceus) até a resistência ativa (zelotas) ou a busca por preservação religiosa através do estudo da Lei (fariseus).
- Reconhecimento Legal da Identidade Judaica: Apesar do domínio político, Roma, através de seus decretos, reconheceu a especificidade religiosa e cultural dos judeus, permitindo-lhes, em grande medida, viver de acordo com suas tradições e leis ancestrais. Isso contribuiu para a manutenção da identidade judaica sob o domínio estrangeiro. No entanto, essa coexistência era frequentemente marcada por tensões e revoltas.
- Mobilidade Social Limitada: A sociedade judaica era em grande parte estática, com o nascimento determinando a posição social. No entanto, o surgimento dos escribas como uma classe de intelectuais permitiu alguma mobilidade social baseada no conhecimento da Lei. A influência romana não parece ter alterado fundamentalmente essa estrutura social, mas sim interagido com ela.
Em resumo, o Império Romano exerceu um controle político abrangente sobre a Palestina no século I, influenciando sua administração, legislação, economia e até mesmo aspectos religiosos. Socialmente, a presença romana gerou tensões culturais e contribuiu para a diversidade de grupos dentro da sociedade judaica, ao mesmo tempo em que Roma reconhecia legalmente alguns dos seus particularismos.
