mightydan photo close up portrait of a native chief with war p a409436a d214 43ab 98ca 6a6f1ebc68e9

Sim, houve significativas vozes de protesto e defesa dos direitos dos indígenas entre os próprios espanhóis e religiosos da época. As fontes destacam vários indivíduos e a atuação de ordens religiosas que se opuseram à exploração e à violência contra os povos nativos das Américas.

A Ordem Dominicana, em particular, emergiu como uma forte defensora dos direitos indígenas. Já em 1511, Frei Antonio de Montesinos proferiu um sermão contundente na Hispaniola, denunciando os pecados dos encomenderos e questionando a legitimidade das guerras e da exploração dos indígenas. Ele questionou com veemência o direito dos espanhóis de fazer guerra contra povos que viviam em paz em suas próprias terras, a destruição de inúmeros indígenas, a opressão e a exploração sem sequer fornecer-lhes sustento adequado ou cuidados de saúde. Montesinos afirmou que os encomenderos viviam e morriam em pecado mortal por causa da crueldade e tirania infligidas aos inocentes, questionando se os indígenas não eram humanos e se os espanhóis não eram obrigados a amá-los como a si mesmos. Essa pregação causou grande impacto e indignação entre os colonos, que exigiram uma retratação. No entanto, os dominicanos da Hispaniola apoiaram Montesinos, e seu vigário, Pedro de Cordoba, chegou a ameaçar de excomunhão os encomenderos que não libertassem seus indígenas.

A figura mais proeminente na defesa dos indígenas foi Frei Bartolomé de Las Casas, também um dominicano. Inicialmente, Las Casas possuía uma encomienda, mas renunciou a ela em protesto contra os abusos do sistema. Ele dedicou sua vida à causa indígena, viajando repetidamente entre a Espanha e a América para pleitear a proteção dos nativos perante a corte real. Las Casas argumentava que os indígenas deveriam ser evangelizados por persuasão e não pela força. Ele escreveu extensamente sobre a crueldade dos espanhóis, como em sua famosa obra “Brevíssima Relação da Destruição das Índias”, descrevendo detalhadamente as massacres e a violência perpetrada contra os povos originários. Suas denúncias tiveram influência na aprovação das Novas Leis em 1542-43, que visavam limitar o controle espanhol e os abusos contra os indígenas, embora sua aplicação tenha sido limitada. Las Casas participou de um famoso debate com Juan Ginés de Sepúlveda em 1550-1551, onde defendeu a humanidade e a capacidade dos indígenas para a civilização contra os argumentos de Sepúlveda, baseados em Aristóteles, de que eram inferiores e escravos por natureza. Las Casas insistia na igualdade da raça humana e na capacidade de todos os povos, por mais rústicos que fossem, de serem persuadidos e trazidos a uma boa ordem de vida. Ele argumentava que a subjugação e a violência impediam a conversão genuína dos pagãos, que deveriam ser abordados com mansidão, humildade e boa vontade.

Outros religiosos também se destacaram na defesa dos indígenas. No Chile, o dominicano Gil Gonzalez de San Nicholas declarou que qualquer um que fizesse guerra contra os nativos para tomar suas terras deveria ser excomungado. Os franciscanos apoiaram essa posição, o que chegou a prejudicar o esforço de guerra espanhol. No Paraguai, os jesuítas armaram os indígenas e os organizaram em um exército para se defenderem dos caçadores de escravos.

Figuras como Juan de Zumárraga, o primeiro bispo do México, também atuaram como “protetor dos índios”, denunciando a crueldade da Audiencia (conselho governante) e fundando escolas para crianças indígenas. Luís Beltrán, o primeiro santo das Américas, protestou contra o mau tratamento dos indígenas na Nueva Granada (Colômbia). Pedro Claver, um jesuíta, dedicou sua vida a ministrar aos escravos africanos em Cartagena, Colômbia, proclamando-se “escravo dos negros para sempre” e batizando milhares deles.

Além dos religiosos, houve debates significativos na Espanha sobre os direitos dos indígenas. Francisco de Vitoria, um professor dominicano da Universidade de Salamanca, defendeu os nativos como legítimos proprietários de suas terras e bens.

Apesar dessas vozes de protesto e dos esforços de indivíduos e ordens religiosas, a exploração e a violência contra os indígenas continuaram sendo uma realidade na colonização das Américas. As leis de proteção muitas vezes não eram obedecidas devido à ganância dos colonos e à dificuldade de fiscalização. No entanto, a existência dessas vozes de defesa demonstra que nem todos os espanhóis e religiosos da época apoiavam ou ignoravam os abusos cometidos em nome da Coroa e da fé cristã. Eles representaram uma “luz na escuridão” de um período marcado por imensa crueldade e injustiça.

Gosta deste blog? Por favor, espalhe a palavra :)

Posts Similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *