Igreja do Evangelho Quadrangular vs Igreja Assembleia de Deus

O Brasil tem testemunhado um crescimento notável do movimento pentecostal ao longo do século XX e início do século XXI, transformando significativamente o panorama religioso do país. Dentro desse cenário dinâmico, a Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ) e a Igreja Assembleia de Deus (AD) emergem como duas das denominações mais proeminentes e influentes. Ambas compartilham raízes no pentecostalismo, um movimento caracterizado pela crença na experiência direta com Deus através do Espírito Santo, manifestada por dons espirituais como o falar em línguas, a cura divina e a profecia.

Este artigo tem como propósito realizar uma análise comparativa abrangente da Igreja do Evangelho Quadrangular e da Igreja Assembleia de Deus no Brasil. Para tanto, serão examinados aspectos cruciais de suas histórias de fundação e desenvolvimento, suas principais doutrinas teológicas, as características de seus cultos e práticas litúrgicas, suas estruturas organizacionais e formas de governo, suas atividades sociais e comunitárias, o perfil de seus membros no contexto brasileiro, sua presença e atuação global, e a identificação de figuras históricas e líderes contemporâneos relevantes em ambas as denominações. A relevância desta comparação reside na compreensão das nuances e da diversidade dentro do próprio movimento pentecostal brasileiro, bem como no impacto significativo que essas duas denominações exercem na sociedade brasileira em múltiplos níveis.

2. A História: Fundações e Desenvolvimentos no Brasil

2.1. A Fundação e o Desenvolvimento da Igreja do Evangelho Quadrangular no Brasil

A história da Igreja do Evangelho Quadrangular no Brasil teve seu início em 15 de novembro de 1951, na cidade de São João da Boa Vista, no interior de São Paulo.¹ Os pioneiros desta empreitada foram o missionário americano Harold Edwin Williams, natural de Los Angeles, e o pastor peruano Jesus Hermirio Vasquez Ramos.¹ Este marco inicial demonstra a natureza transnacional do pentecostalismo desde seus primórdios no Brasil, com influências diretas de movimentos religiosos originários dos Estados Unidos e da América Latina.¹

As primeiras atividades da IEQ no Brasil se concentraram em Poços de Caldas, Minas Gerais, onde os missionários estabeleceram uma escola de inglês como uma forma de alcançar a comunidade local.¹ Posteriormente, a obra se transferiu para São João da Boa Vista, onde foi construído um pequeno templo pelos fundadores.¹ Em 1952, os pastores Williams e Ramos se mudaram para a capital paulista, onde realizaram campanhas evangelísticas a convite de um pastor da Igreja Presbiteriana do Cambuci, marcando o início de sua atuação em um grande centro urbano.¹ As atividades logo se expandiram, passando de um salão alugado para uma tenda de lona no mesmo bairro, e posteriormente para outros locais como a Água Branca e a Rua Brigadeiro Galvão.¹

O uso de tendas para a evangelização se tornou uma característica distintiva da IEQ em seus primeiros anos no Brasil.¹ A primeira dessas tendas, conhecida como “tenda número um”, viajou por diversos bairros e cidades do estado de São Paulo, como Casa Verde, Americana e Limeira, e alcançou outros estados como Vitória (ES) e Curitiba (PR).¹ A própria comunidade da igreja se envolveu na produção dessas tendas, com as senhoras aprendendo a costurá-las, o que gerou um forte senso de participação e colaboração no crescimento da denominação.¹ Cada tenda estabelecida frequentemente dava origem a um novo núcleo de fé, que posteriormente se constituía em uma nova igreja, demonstrando uma estratégia de expansão dinâmica e descentralizada.¹

Na década de 1960, sob a liderança do Pastor George Russell Faulkner, a IEQ estabeleceu a meta de levar sua mensagem a todas as capitais de estado do Brasil.¹ Essa fase foi marcada por um evangelismo dinâmico e, nas décadas de 1970 e 1980, pela construção de templos maiores e mais imponentes, sinalizando um período de consolidação e crescimento institucional.¹ Em 1997, a igreja já contava com 5.530 templos e diversas congregações, totalizando aproximadamente 1,6 milhão de membros.¹ Em 2010, o Censo do IBGE registrou 1.808.389 membros, colocando a IEQ como a 5ª maior denominação protestante do Brasil em número de adeptos.¹ Esse crescimento constante reflete a eficácia de suas estratégias de evangelização e a capacidade de atrair e reter fiéis ao longo das décadas.¹ Atualmente, a IEQ tem adotado uma visão mais inclusiva, buscando dialogar com diferentes segmentos da sociedade.¹

É importante contextualizar a fundação da IEQ no Brasil dentro do cenário internacional da Foursquare Church Gospel, que foi fundada em 1º de janeiro de 1923, com a inauguração de sua sede internacional, o Angelus Temple, em Los Angeles, Califórnia.² A fundadora, Aimée Semple McPherson, conhecida como “Irmã Aimee”, teve um ministério com grande impacto evangelístico.² Após seu falecimento em 1944, seu filho, Rolf K. McPherson, assumiu a liderança do movimento e da Cruzada Internacional de Evangelização, expandindo a denominação de 400 para mais de 10.000 igrejas globalmente.² Em 1948, a Igreja Quadrangular participou da formação da Pentecostal Fellowship of North America, em aliança com outras denominações pentecostais, incluindo as Assembleias de Deus, demonstrando uma postura inicial de colaboração dentro do movimento pentecostal.²

A chegada de Harold e Mary Williams ao Brasil foi motivada por uma forte convicção de levar a Palavra de Deus ao país.² Após passarem por diversos desafios iniciais, incluindo a barreira do idioma português, eles se estabeleceram em Poços de Caldas e, posteriormente, em São João da Boa Vista.² A ideia do ministério itinerante com a tenda surgiu como uma estratégia para alcançar pessoas que não se sentiam à vontade para entrar em igrejas tradicionais.² Essa visão se concretizou com o apoio da liderança da Igreja Quadrangular nos Estados Unidos, levando à instalação da primeira tenda no bairro do Cambuci, em São Paulo.² A partir dessa iniciativa pioneira, a IEQ no Brasil cresceu e se estruturou, alcançando, em quase 70 anos de fundação, mais de 17.000 templos e obras em todo o país, com mais de 30.000 trabalhadores levando suas crenças a mais de dois milhões de pessoas em 22 nações.² As diversas notícias e materiais comemorativos ² atestam a longevidade e o impacto da Igreja do Evangelho Quadrangular no cenário religioso brasileiro.

2.2. A Fundação e o Desenvolvimento da Igreja Assembleia de Deus no Brasil

A Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Brasil possui uma história ainda mais antiga, sendo considerada o grupo mais antigo entre as ramificações das Assembleias de Deus, precedendo até mesmo sua principal precursora mundial, as Assembleias de Deus nos Estados Unidos.⁶ Sua fundação ocorreu em 1911, na cidade de Belém, no estado do Pará.⁶ Os responsáveis por esse marco foram os missionários sueco-americanos Gunnar Vingren e Daniel Berg, que eram discípulos do pregador pentecostal americano William Howard Durham.⁶

Vingren e Berg chegaram a Belém em 19 de novembro de 1910, vindos dos Estados Unidos.⁶ Inicialmente, eles frequentaram a Igreja Batista local, da qual ambos faziam parte em seu país de origem.⁶ No entanto, os missionários introduziram na igreja batista a glossolalia – o falar em línguas espirituais – uma manifestação que já estava ocorrendo em reuniões de oração nos Estados Unidos, especialmente no avivamento da Rua Azusa em Los Angeles, liderado por William Joseph Seymour.⁶

A nova doutrina gerou controvérsia entre os batistas. Enquanto um grupo aceitou a glossolalia como uma manifestação legítima do Espírito Santo, outro a rejeitou, preferindo manter as práticas tradicionais da Igreja Batista.⁶ Essa divergência levou à exclusão dos adeptos do pentecostalismo em dois congressos distintos. Em 18 de junho de 1911, foi formalmente fundada a denominação “Assembleia de Deus no Brasil”.⁶

Em 2024, a Assembleia de Deus no Brasil comemorou seu 113º aniversário, relembrando seus humildes começos como Missão da Fé Apostólica, nome que adotou inicialmente antes de ser alterado para Assembleia de Deus em 1918.⁷ Os missionários Vingren e Berg chegaram ao Brasil com uma forte convicção de pregar o evangelho pentecostal, motivados por uma profecia recebida em Chicago.⁷ Apesar de enfrentarem desafios iniciais, como a falta de apoio financeiro e uma base estabelecida, o movimento perseverou.⁷ O primeiro culto pentecostal foi realizado na casa de Celina Albuquerque, que se tornou a primeira brasileira a ser batizada com o Espírito Santo.⁷

A Assembleia de Deus experimentou um crescimento significativo ao longo de sua história, especialmente após a implementação do projeto “Década da Colheita” na década de 1990.⁷ O censo do IBGE registrou um aumento de pouco mais de dois milhões de membros em 1990 para mais de oito milhões em 2000.⁷ Esse crescimento pode ser atribuído a diversos fatores, incluindo a grande importância dada ao Espírito Santo, o forte fervor evangelístico presente na denominação, a ênfase na oração (com a formação de círculos de oração) e a simplicidade do movimento, que encontrou eco nas camadas mais pobres da população brasileira.⁷

Atualmente, a Assembleia de Deus se destaca como a instituição com o maior número de igrejas no Brasil, totalizando cerca de 44.000 templos, superando até mesmo a Igreja Católica em número de locais de culto.⁷ Embora os dados do censo de 2022 sobre religião ainda não estejam disponíveis, estimativas sugerem que a população da Assembleia de Deus no Brasil continua a crescer significativamente, podendo alcançar 30 milhões de membros.⁷ Essa trajetória notável, desde um pequeno grupo com poucos recursos até se tornar uma das maiores forças religiosas do país, marca a história da Assembleia de Deus no Brasil.⁷ Diversos materiais e notícias ⁶ corroboram essa história de fundação e desenvolvimento.

3. Doutrinas em Comparativo: Convergências e Divergências Teológicas

3.1. Principais Doutrinas Teológicas da Igreja do Evangelho Quadrangular

A Igreja do Evangelho Quadrangular fundamenta sua fé em uma série de princípios doutrinários essenciais.¹¹ Acredita na Bíblia Sagrada como a Palavra de Deus verdadeira e imutável, inspirada pelo Espírito Santo.¹¹ Confessa a existência de um único Deus vivo e verdadeiro, o Criador de todas as coisas, que subsiste eternamente como Pai, Filho e Espírito Santo, sendo os três coeternos e iguais em perfeição divina (Trindade).¹¹ A IEQ também ensina sobre a Queda do Homem, ocorrida através da desobediência voluntária, que resultou na transmissão de uma natureza pecaminosa à humanidade.¹¹

No que concerne à salvação, a IEQ crê no Plano de Redenção através da morte expiatória de Jesus Cristo, que, apesar da pecaminosidade humana, morreu para levar os pecados, assumir a maldição e garantir a remissão para todos aqueles que nele creem.¹¹ A Salvação é entendida como um dom gratuito de Deus, concedido pela graça mediante a fé, independentemente de obras ou méritos humanos.¹¹ O Arrependimento e a Aceitação de Jesus Cristo levam à justificação diante de Deus, proporcionando paz e reconciliação com o Criador.¹¹ A doutrina do Novo Nascimento enfatiza a transformação genuína que ocorre no coração e na vida do crente ao receber Cristo e o Espírito Santo, resultando em novas aspirações e uma nova perspectiva de vida.¹¹ A IEQ também prega a importância da Vida Cristã Diária, marcada pelo crescimento em santidade, fé, oração, amor e serviço a Deus e ao próximo.¹¹

As ordenanças da igreja incluem o Batismo nas águas, realizado por imersão em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, como um símbolo externo da obra interna de regeneração.¹¹ A Santa Ceia é celebrada como uma memorial da morte e ressurreição de Jesus Cristo, através da participação no pão e no vinho, que simbolizam o corpo e o sangue do Senhor.¹¹ A IEQ também pratica a Apresentação de Crianças, um ato de consagração a Deus, seguindo o exemplo da apresentação de Jesus no templo.¹¹

Um aspecto central da teologia pentecostal da IEQ é a crença no Batismo no Espírito Santo, entendido como o recebimento do Consolador prometido por Jesus, que capacita os crentes a glorificar a Cristo, viver uma vida santa e testemunhar o Evangelho com poder.¹ A IEQ também enfatiza a importância de uma Vida Cheia do Espírito Santo, permitindo que o Espírito Santo se manifeste de diversas maneiras na vida do crente, guiando-o em serviço constante a Deus através da oração, paciência, amor e verdade.¹¹ Os Dons e Frutos do Espírito são reconhecidos como ferramentas e características essenciais para a edificação e o fortalecimento do Corpo de Cristo (a Igreja).¹¹ A Moderação é ensinada como um princípio fundamental na vida do crente, refletindo um comportamento equilibrado e um testemunho cristão autêntico.¹¹

A IEQ também professa a crença na Cura Divina como uma manifestação do poder de Jesus Cristo para sarar enfermidades em resposta à oração e à fé.¹ A doutrina da Segunda Vinda de Cristo é uma esperança viva na IEQ, crendo que Jesus retornará em glória para buscar a sua Igreja e estabelecer o seu reino eterno.¹ A IEQ valoriza as Relações para com a Igreja, entendendo que a membresia é um dever sagrado para adoração, comunhão e serviço mútuo.¹¹ Reconhece a autoridade do Governo civil como estabelecida por Deus para a ordem e o bem-estar da sociedade, incentivando a oração e a obediência às leis, exceto quando estas se opõem aos princípios bíblicos.¹¹ A IEQ também crê no Juízo Final, onde todos os seres humanos comparecerão diante de Deus para receber a justa recompensa por suas ações, resultando em vida eterna para os salvos e punição eterna para os impenitentes.¹¹ A doutrina do Céu descreve-o como a morada gloriosa de Deus e o lar eterno dos crentes renascidos, um lugar de alegria e ausência de sofrimento.¹¹ Em contraste, o Inferno é descrito como um lugar de trevas e sofrimento eterno, preparado para Satanás e seus anjos, e para aqueles que rejeitam a graça de Deus em Cristo.¹¹ A IEQ enfatiza o Evangelismo como a missão primordial da Igreja na terra, buscando levar a mensagem de salvação a todas as pessoas.¹¹ Finalmente, a prática dos Dízimos e Ofertas é ensinada como um mandamento de Deus para o sustento da igreja, a expansão do Evangelho e a liberação de bênçãos.¹¹

A teologia da Igreja do Evangelho Quadrangular é distintamente pentecostal, resumida no conceito do “Evangelho Pleno” ou “Foursquare Gospel”.¹ Esse conceito é simbolizado pelo emblema da igreja e representa quatro aspectos chave do ministério de Jesus Cristo: Jesus Cristo como o Salvador (representado pela Cruz e associado ao Evangelho de Lucas, cor escarlate/vermelha), Jesus Cristo como o Batizador no Espírito Santo (representado pela Pomba e associado ao Evangelho de João, cor dourada/amarela), Jesus Cristo como o Médico dos Médicos (representado pelo Cálice e associado ao Evangelho de Marcos, cor azul-celeste/azul clara), e Jesus Cristo como o Rei que Voltará (representado pela Coroa e associado ao Evangelho de Mateus, cor púrpura).¹ O lema bíblico da Igreja do Evangelho Quadrangular, encontrado em Hebreus 13:8 (“Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e para sempre”), reforça a crença na constância e na imutabilidade de Jesus em todas as suas manifestações.¹

3.2. Principais Doutrinas Teológicas da Igreja Assembleia de Deus

A Igreja Assembleia de Deus, em suas diversas denominações, adere a documentos confessionais que podem variar em extensão, mas compartilham um núcleo de crenças fundamentalmente protestante e pentecostal.⁶ A Declaração de Verdades Fundamentais das Assembleias de Deus, um documento de seis páginas produzido pelo Concílio Geral das Assembleias de Deus nos EUA, estabelece dezesseis doutrinas consideradas inegociáveis para seus membros.¹³

Quatro dessas dezesseis doutrinas são consideradas fundamentais e servem como guia central para a teologia da AD: Salvação, Batismo no Espírito Santo, Cura Divina e a Segunda Vinda de Cristo.¹³ As dezesseis Verdades Fundamentais abrangem uma gama de crenças, incluindo a inspiração das Sagradas Escrituras, a existência de um único Deus verdadeiro, a deidade do Senhor Jesus Cristo, a queda do homem, a salvação do homem pela graça mediante a fé em Jesus Cristo, as ordenanças da igreja (batismo nas águas e Santa Ceia), o batismo no Espírito Santo, a evidência física inicial do batismo no Espírito Santo (tradicionalmente entendida como o falar em línguas), a santificação como um processo de separação do pecado e consagração a Deus, a igreja e sua missão de evangelizar o mundo, o ministério pastoral e apostólico, a cura divina como parte da expiação de Cristo, a esperança bem-aventurada do arrebatamento da Igreja, o reino milenar de Cristo na terra, o Juízo Final e a criação de novos céus e uma nova terra.¹³

A Assembleia de Deus, seguindo a tradição batista de seus fundadores, pratica o credobatismo, ou seja, o batismo de crentes por imersão, como um testemunho público de sua fé em Cristo.⁶ A Santa Ceia é vista como um memorial da morte de Cristo, um momento de comunhão e lembrança de seu sacrifício.⁶ O domingo é observado como o dia do Senhor, dedicado ao culto e ao descanso.⁶

É importante notar que, dentro do amplo movimento da Assembleia de Deus no Brasil, existem diferentes vertentes teológicas. Algumas igrejas têm se alinhado com o Neopentecostalismo, como a Assembleia de Deus Vitória em Cristo, liderada pelo televangelista Silas Malafaia, que adere à Teologia da Prosperidade, enfatizando bênçãos materiais e sucesso financeiro como sinais do favor divino.⁶ Essas igrejas também tendem a utilizar intensamente a mídia e a ter um engajamento político mais ativo.⁶ Por outro lado, outras igrejas da Assembleia de Deus, como a Assembleia de Deus dos Últimos Dias, liderada pelo pastor Marcos Pereira, adotam uma postura mais tradicional e conservadora, com um forte foco em proibições relacionadas a usos e costumes, abrangendo desde vestimentas e adornos até o consumo de certos alimentos e bebidas, e o uso de tecnologias como televisão e computadores.⁶ Essa diversidade interna demonstra a complexidade do movimento pentecostal no Brasil.

3.3. Análise Comparativa de Convergências e Divergências Doutrinárias

Em termos de convergências doutrinárias, tanto a Igreja do Evangelho Quadrangular quanto a Igreja Assembleia de Deus compartilham um núcleo de crenças fundamentalmente pentecostal. Ambas as denominações creem na Trindade, na autoridade e inerrância das Escrituras Sagradas, na salvação pela graça mediante a fé em Jesus Cristo, no batismo no Espírito Santo como uma experiência distinta da conversão, na realidade da cura divina e na esperança da segunda vinda de Cristo. Essa base teológica comum as coloca dentro do espectro do pentecostalismo clássico.

No entanto, existem divergências doutrinárias significativas entre as duas denominações. Uma das principais diferenças reside no arcabouço teológico distintivo da IEQ, o “Evangelho Pleno” ou “Foursquare Gospel”, que enfatiza quatro aspectos específicos do ministério de Jesus Cristo, cada um simbolizado por um elemento e associado a um dos Evangelhos. Essa estrutura não é formalmente adotada pela Assembleia de Deus, embora a AD também creia nos quatro aspectos destacados pela IEQ.

Outra diferença notável diz respeito à ênfase na evidência inicial do batismo no Espírito Santo. Tradicionalmente, a Assembleia de Deus tem dado grande importância ao falar em línguas como a evidência física primária e imediata do batismo no Espírito Santo.⁶ Embora a Igreja do Evangelho Quadrangular também creia no batismo no Espírito Santo e na manifestação de dons espirituais, a ênfase no falar em línguas como a evidência inicial pode ser menos proeminente em sua teologia e prática, conforme sugerido pelos materiais fornecidos.

Além disso, a Assembleia de Deus demonstra uma maior amplitude de expressões teológicas dentro de suas diversas congregações e convenções. A coexistência de igrejas alinhadas com o Neopentecostalismo e a Teologia da Prosperidade, juntamente com aquelas que mantêm uma postura mais tradicional e um código de conduta estrito, revela uma diversidade interna mais acentuada em comparação com a Igreja do Evangelho Quadrangular, que, embora tenha evoluído para uma visão mais inclusiva, parece manter uma maior coesão doutrinária centralizada no “Foursquare Gospel”.

Para ilustrar essas convergências e divergências de forma mais clara, a seguinte tabela apresenta uma comparação de alguns pontos doutrinários chave:

4. O Som do Culto: Práticas Litúrgicas e Estilos de Adoração

4.1. Características dos Cultos e Práticas Litúrgicas na Igreja do Evangelho Quadrangular

Os cultos na Igreja do Evangelho Quadrangular no Brasil são caracterizados por uma atmosfera geralmente vibrante e entusiástica.² A música desempenha um papel central, com um repertório que inclui tanto canções congregacionais tradicionais quanto músicas de louvor e adoração contemporâneas.¹⁷ É comum a participação ativa da congregação através do canto, palmas e expressões de fé espontâneas. A pregação geralmente se concentra nas mensagens bíblicas, com ênfase nos quatro aspectos do “Evangelho Pleno”: salvação, batismo no Espírito Santo, cura divina e a segunda vinda de Cristo.²²

As práticas litúrgicas na IEQ tendem a ser flexíveis, buscando adaptar-se ao contexto cultural e às necessidades da comunidade local.¹¹ Além dos cultos regulares, a igreja realiza eventos especiais como o “Culto da Virada” ¹⁶, que marca a passagem do ano com oração e celebração. A utilização de plataformas online para a transmissão de cultos, como o “Mega Culto Online” ²⁴, demonstra a abertura da IEQ ao uso de tecnologias para alcançar um público mais amplo.

A adoração na IEQ reflete a centralidade da figura de Jesus Cristo em seus quatro papéis principais.²² As orações frequentemente invocam Jesus como Salvador, buscando perdão e reconciliação; como Batizador, anelando pelo poder e pela unção do Espírito Santo; como Curador, clamando por saúde física e emocional; e como Rei que voltará, expressando a esperança na sua segunda vinda. A espontaneidade e a expressividade são marcas da adoração na IEQ, com membros frequentemente levantando as mãos, proferindo palavras de louvor e gratidão, e participando ativamente dos momentos de oração e ministração da Palavra. A música, com suas letras que frequentemente abordam os temas do “Evangelho Pleno”, também contribui para criar um ambiente de adoração fervoroso e alegre.

4.2. Características dos Cultos e Práticas Litúrgicas na Igreja Assembleia de Deus

Os cultos na Igreja Assembleia de Deus no Brasil geralmente seguem uma liturgia mais tradicional em comparação com a IEQ, embora também incorporem elementos contemporâneos em algumas de suas congregações.⁶ A música sempre teve um papel fundamental, com forte ênfase nos hinos da “Harpa Cristã”, o hinário oficial da denominação, que contém uma vasta coleção de cânticos com letras que abordam diversos temas bíblicos e doutrinários.²⁹ Em muitas congregações, especialmente as mais tradicionais, o canto congregacional dos hinos da “Harpa Cristã” ainda é predominante, criando um senso de unidade e tradição na adoração. No entanto, muitas Assembleias de Deus também incorporam músicas de louvor e adoração contemporâneas em seus cultos, buscando alcançar as novas gerações e diversificar suas formas de expressão musical.

A pregação na AD é central e geralmente expositiva, com pastores dedicando tempo para explicar e aplicar as Escrituras Sagradas à vida dos fiéis. A ênfase doutrinária nas mensagens tende a ser forte, abordando temas como a salvação, o batismo no Espírito Santo (com a tradicional ênfase no falar em línguas), a cura divina, a santificação e a segunda vinda de Cristo. As práticas litúrgicas podem variar entre as diferentes convenções e ministérios da AD, mas geralmente incluem momentos de oração (coletiva e individual), leitura bíblica, cânticos e a celebração das ordenanças do batismo nas águas e da Santa Ceia.³²

A adoração na Assembleia de Deus é frequentemente marcada por um senso de reverência e temor a Deus.³¹ As orações podem ser fervorosas e acompanhadas de manifestações espirituais, como o levantar das mãos e expressões verbais de louvor e súplica. A leitura da Bíblia e a pregação da Palavra são vistas como momentos cruciais para a edificação espiritual e o crescimento na fé. A “Harpa Cristã” desempenha um papel significativo na condução da adoração, com seus hinos que expressam uma variedade de emoções e experiências espirituais. Embora a música contemporânea também esteja presente em muitas igrejas da AD, a tradição dos hinos clássicos permanece forte, especialmente entre os membros mais antigos. A utilização de rádios e plataformas online ²⁷ para a transmissão de cultos e mensagens também é uma prática comum na AD, buscando alcançar um público mais amplo e manter os fiéis conectados com a igreja.

4.3. Uma Análise Comparativa dos Estilos de Adoração

Ambas as denominações, sendo de origem pentecostal, compartilham algumas características em seus estilos de adoração. A expressividade na oração, a crença na manifestação de dons espirituais e a centralidade da música são elementos comuns. No entanto, algumas diferenças notáveis podem ser observadas.

A Igreja do Evangelho Quadrangular parece ter uma maior inclinação para a música de louvor e adoração contemporânea, com letras que frequentemente refletem os quatro pilares do “Evangelho Pleno”. Embora também utilizem cânticos congregacionais mais tradicionais, a ênfase na contemporaneidade pode ser mais marcante. A liturgia tende a ser mais flexível e adaptável ao contexto.

Por outro lado, a Igreja Assembleia de Deus, especialmente em suas vertentes mais tradicionais, mantém uma forte ligação com os hinos da “Harpa Cristã”, que representam um patrimônio musical e teológico significativo para a denominação. Embora a música contemporânea também esteja presente, a tradição dos hinos clássicos ainda exerce uma grande influência. A liturgia pode ser percebida como um pouco mais estruturada em algumas congregações.

É importante ressaltar que, em ambas as denominações, há uma variedade de estilos de adoração entre as diferentes igrejas locais. Fatores como a idade dos membros, o contexto cultural e a liderança pastoral podem influenciar as práticas litúrgicas e os estilos musicais adotados. No entanto, as tendências gerais apontam para as diferenças mencionadas, com a IEQ talvez demonstrando uma maior abertura à inovação e à contemporaneidade em seus cultos, enquanto a AD preserva mais fortemente suas raízes musicais tradicionais, embora também abrace novas formas de expressão em muitos de seus ministérios.

5. Governando o Rebanho: Estruturas Organizacionais

5.1. Estrutura Organizacional e Forma de Governo da Igreja do Evangelho Quadrangular

A Igreja do Evangelho Quadrangular no Brasil opera com uma estrutura organizacional hierárquica e bem definida, que se manifesta em níveis local, regional e nacional.¹ Em nível local, cada igreja é liderada por um pastor titular, que geralmente é supervisionado por instâncias superiores da denominação.

A progressão ministerial na IEQ é estruturada em categorias, com membros interessados em se tornar pastores passando pelas etapas de Obreiro Credenciado e Aspirante ao Ministério antes de serem ordenados como Ministro do Evangelho.¹ A concessão de postos e cargos ministeriais é realizada pelos Conselhos da Igreja em diferentes níveis geográficos: país, estado, município ou região.¹ Essa estrutura sugere um sistema de avaliação e reconhecimento do ministério em diferentes esferas da organização.

No nível nacional, a principal instância de governo é o Conselho Nacional de Diretores da Igreja do Evangelho Quadrangular.¹ Este órgão é responsável pela administração geral da denominação no Brasil, tomando decisões e estabelecendo diretrizes para todas as igrejas e ministérios.¹⁵ Os membros do Conselho Nacional de Diretores são denominados Reverendos, um título reservado aos Ministros do Evangelho.¹ O Conselho Nacional de Diretores é auxiliado por Secretarias e Coordenadorias Nacionais, que atuam em áreas específicas da administração eclesiástica.¹⁵

Em nível regional, existem os Conselhos Estaduais, os Superintendentes e os Diretores de Campo, que atuam como elos de ligação entre as igrejas locais e a direção nacional.¹⁵ Esses líderes regionais são responsáveis por supervisionar e apoiar as igrejas em suas respectivas áreas geográficas, garantindo a implementação das diretrizes nacionais e promovendo o crescimento da denominação.³⁸ A Igreja do Evangelho Quadrangular também investe na formação de seus líderes através do Instituto Teológico Quadrangular (ITQ) e do Centro de Treinamento Missionário Quadrangular (CTMQ), demonstrando a importância da educação teológica e do preparo missionário para o desenvolvimento de sua liderança.¹ A sede do Conselho Nacional de Diretores está localizada em São Paulo.¹⁵ A existência de um Presidente e Vice-Presidentes ³⁸ também indica uma estrutura de liderança formal e hierárquica no nível nacional.

5.2. Estrutura Organizacional e Forma de Governo da Igreja Assembleia de Deus

A estrutura organizacional da Igreja Assembleia de Deus no Brasil apresenta uma característica distintiva: ela não constitui uma única entidade jurídica, mas sim um conjunto de denominações protestantes pentecostais autônomas, que se agrupam em torno de diferentes convenções e ministérios.⁶ Essa descentralização é uma marca histórica do movimento da Assembleia de Deus no Brasil.

A Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) é a maior dessas convenções nacionais, com o propósito de unir e coordenar as igrejas Assembleias de Deus em todo o país.⁴⁰ No entanto, a CGADB não exerce um controle hierárquico direto sobre todas as igrejas filiadas, que mantêm sua autonomia administrativa e financeira. A CGADB atua mais como um fórum de discussão, um provedor de recursos (através da Casa Publicadora das Assembleias de Deus – CPAD) e um órgão que busca promover a unidade e a cooperação entre as diversas Assembleias de Deus no Brasil.⁴⁰

A CGADB possui uma estrutura de liderança, sendo presidida atualmente pelo Pastor José Wellington Costa Junior.⁴⁰ Sua história remonta a 1930, quando pastores nacionais decidiram criar uma organização para discutir questões importantes para o crescimento da denominação, que até então estava sob a responsabilidade de missionários suecos.⁴⁰ As primeiras assembleias gerais da CGADB, na década de 1930, foram marcadas por debates sobre doutrina e os chamados “usos e costumes”.⁴⁰

Além da CGADB, existem outras convenções e ministérios regionais e estaduais da Assembleia de Deus no Brasil, que também possuem suas próprias estruturas de governo e liderança.⁴² Essa multiplicidade de organizações reflete a história do movimento, que se expandiu de forma orgânica e descentralizada a partir de seus primeiros núcleos em Belém.⁶ Cada convenção ou ministério pode ter suas próprias normas e regulamentos internos, o que leva a uma certa diversidade de práticas e ênfases entre as diferentes Assembleias de Deus no Brasil.⁴² A formação de líderes na Assembleia de Deus ocorre em diversos níveis, desde o treinamento local nas próprias igrejas até instituições teológicas ligadas às diferentes convenções.⁴³

5.3. Contrastando as Estruturas Organizacionais

Ao comparar as estruturas organizacionais da Igreja do Evangelho Quadrangular e da Igreja Assembleia de Deus no Brasil, emerge uma diferença fundamental no grau de centralização e autonomia. A IEQ apresenta um modelo mais centralizado, com uma hierarquia clara que culmina no Conselho Nacional de Diretores, responsável pela administração e pelas decisões em nível nacional. Existe uma progressão ministerial definida e conselhos em diferentes níveis geográficos que garantem a implementação das diretrizes nacionais.

Em contraste, a AD no Brasil opera de forma mais descentralizada, constituindo um conjunto de denominações autônomas reunidas em torno de diversas convenções e ministérios. A CGADB, a maior dessas convenções, tem um papel de coordenação e provisão de recursos, mas não exerce controle direto sobre a autonomia das igrejas locais e de outros ministérios. Essa estrutura permite uma maior flexibilidade e adaptação regional, mas também pode resultar em uma maior diversidade de práticas e interpretações doutrinárias entre as diferentes Assembleias de Deus.

Essa diferença na estrutura organizacional pode influenciar a forma como cada denominação aborda questões de unidade, tomada de decisões em nível nacional e implementação de políticas. A centralização da IEQ pode facilitar uma maior uniformidade em doutrina e prática, enquanto a descentralização da AD permite uma maior diversidade e autonomia local.

Para melhor visualizar essa comparação, a seguinte tabela resume as principais diferenças nas estruturas organizacionais:

6. Além do Púlpito: Engajamento Social e Comunitário

6.1. Atividades Sociais e Comunitárias da Igreja do Evangelho Quadrangular

A Igreja do Evangelho Quadrangular no Brasil demonstra um engajamento ativo em diversas atividades sociais e comunitárias, buscando estender sua atuação para além dos serviços religiosos tradicionais.¹⁴ A denominação desenvolve uma variedade de projetos com o objetivo de atender às necessidades de diferentes grupos da população.⁴⁶

Um aspecto importante da ação social da IEQ é a assistência a pessoas em situação de vulnerabilidade. São realizadas visitas a hospitais e lares, levando apoio espiritual e, em alguns casos, assistência material.⁴⁷ Projetos como o “SOS Minas” ⁴⁸ demonstram a mobilização da igreja em resposta a crises e em apoio a comunidades carentes, oferecendo tanto suporte espiritual quanto prático. A própria identidade da IEQ é por vezes associada à prática do “Evangelho verdadeiro” através de ações sociais concretas.⁴⁹ Diversas igrejas locais também desenvolvem seus próprios ministérios de ação social, adaptados às necessidades específicas de suas comunidades.

6.2. Atividades Sociais e Comunitárias da Igreja Assembleia de Deus

A Igreja Assembleia de Deus no Brasil também possui uma longa história de envolvimento em atividades sociais e comunitárias.⁴² Diferentes convenções e ministérios da AD desenvolvem projetos sociais em diversas áreas, como educação, saúde e assistência social.⁵² Essa atuação reflete o entendimento de que o serviço ao próximo é uma expressão fundamental da fé cristã, seguindo o exemplo de Jesus Cristo.⁵⁵

As ações sociais da AD abrangem desde o apoio a famílias em situação de pobreza e risco social até iniciativas de evangelização que também oferecem suporte prático às comunidades.⁵⁶ Acredita-se que investir em projetos sociais é uma forma de demonstrar o amor de Deus de maneira tangível e de contribuir para a transformação da sociedade.⁵⁴ A descentralização da AD permite que diferentes igrejas e convenções desenvolvam projetos específicos, adaptados aos seus contextos locais e às suas prioridades.⁵⁷ A Assembleia de Deus Vitória em Cristo, por exemplo, possui seus próprios projetos sociais.⁵²

6.3. Comparando a Atuação Social

Ambas as denominações demonstram um compromisso significativo com atividades sociais e comunitárias no Brasil, refletindo uma característica comum entre as igrejas pentecostais de buscar um impacto positivo na sociedade para além do âmbito estritamente religioso. Tanto a IEQ quanto a AD desenvolvem projetos de assistência social, apoio a comunidades carentes e outras iniciativas voltadas para o bem-estar social.

A diferença pode residir na forma como essas atividades são organizadas e divulgadas. A IEQ, com sua estrutura mais centralizada, pode ter uma maior coordenação de projetos sociais em nível nacional, como exemplificado pelo “Projeto SOS Minas”. Já a AD, com sua natureza mais descentralizada, pode apresentar uma maior variedade de iniciativas locais e regionais, refletindo a autonomia de suas diversas convenções e ministérios. No entanto, em ambas as denominações, a motivação para o engajamento social parece ser intrínseca à sua fé e à compreensão do Evangelho como uma mensagem que transforma vidas e comunidades.

7. Perfil dos Membros

7.1. Perfil Demográfico e Social dos Membros da Igreja do Evangelho Quadrangular

Em termos de perfil de membros, a Igreja do Evangelho Quadrangular no Brasil tem apresentado um crescimento constante ao longo de sua história. Em 2010, contava com mais de 1,8 milhão de membros, sendo a quinta maior denominação protestante do país.¹ Esse crescimento de mais de 22% em dez anos (entre 2000 e 2010) demonstra sua capacidade de atrair e reter fiéis.¹

No entanto, as informações específicas sobre o perfil demográfico e social dos membros da IEQ no Brasil nos materiais fornecidos são limitadas. Sabe-se que a denominação tem buscado adotar uma visão mais inclusiva ¹, o que pode indicar uma tentativa de alcançar diferentes segmentos da sociedade. Estudos sociológicos mais aprofundados seriam necessários para traçar um perfil detalhado dos membros da IEQ em termos de idade, escolaridade, renda, distribuição geográfica e outros fatores relevantes. As informações genéricas sobre o crescimento do número de evangélicos no Brasil ⁵⁹ não oferecem detalhes sobre a composição específica da IEQ.

7.2. Perfil Demográfico e Social dos Membros da Igreja Assembleia de Deus

A Igreja Assembleia de Deus, por sua vez, possui uma base de membros muito maior no Brasil. Em 2000, já contava com mais de oito milhões de membros ⁷, e estimativas recentes sugerem que esse número pode ter alcançado a marca de 30 milhões.⁷ Historicamente, a AD tem demonstrado uma forte capacidade de alcançar e atrair as camadas mais pobres da população brasileira, o que contribuiu significativamente para o seu crescimento.⁷

Assim como no caso da IEQ, os materiais fornecidos não detalham exaustivamente o perfil demográfico e social dos membros da Assembleia de Deus no Brasil. A informação de que a simplicidade do movimento ressoou com os segmentos mais pobres ⁷ sugere uma forte presença entre essa parcela da população. No entanto, dada a sua vasta extensão e a diversidade de suas congregações, é provável que o perfil de membros da AD varie significativamente entre diferentes regiões e contextos sociais. Estudos sociológicos específicos seriam necessários para obter um quadro mais completo da composição demográfica e social da Assembleia de Deus no Brasil. As informações gerais sobre o crescimento evangélico e seu impacto social ⁶⁰ não fornecem detalhes sobre o perfil interno da AD.

7.3. Uma Visão Demográfica Comparativa

Ambas as denominações possuem uma presença significativa no Brasil, com a Assembleia de Deus apresentando um número de membros consideravelmente maior do que a Igreja do Evangelho Quadrangular. A AD historicamente demonstrou uma forte capacidade de atrair membros das camadas mais populares da sociedade, enquanto a IEQ tem buscado uma postura mais inclusiva, o que pode se refletir em seu perfil de membros. No entanto, a ausência de dados demográficos detalhados nos materiais fornecidos impede uma comparação mais precisa e aprofundada dos perfis dos membros de ambas as igrejas. É importante reconhecer que o cenário religioso brasileiro é dinâmico e que o perfil dos membros dessas denominações pode estar em constante evolução.

8. Presença e Atuação Global

8.1. Presença e Atividades Globais da Igreja do Evangelho Quadrangular

A Igreja do Evangelho Quadrangular é uma denominação com presença global significativa. A Foursquare Church internacional possui igrejas em todos os estados dos Estados Unidos e em mais de 146 outros países.² Em 2022, a denominação contava com 67.500 igrejas e 8,8 milhões de membros em 150 países.⁶¹

A Igreja do Evangelho Quadrangular no Brasil desempenha um papel ativo nessa presença global. Estima-se que mais de 30.000 trabalhadores da IEQ no Brasil estejam envolvidos em levar seus ensinamentos a mais de dois milhões de pessoas em 22 nações, incluindo o próprio Brasil.² A denominação possui um braço missionário internacional bem estabelecido, a Foursquare Missions International (FMI), que coordena atividades missionárias em diversas partes do mundo, incluindo a África, com presença em países da África Oriental, Central, Ocidental e Meridional.⁶² A IEQ também participa de iniciativas como o Foursquare Disaster Relief, atuando em resposta a crises humanitárias globais.⁶⁴ A estrutura organizacional da Foursquare Church inclui oficiais internacionais e delegados de diversas nações, demonstrando a natureza global da denominação.⁶¹

8.2. Presença e Atividades Globais da Igreja Assembleia de Deus

A Igreja Assembleia de Deus também é um movimento com alcance mundial expressivo. A World Assemblies of God Fellowship (WAGF), uma organização cooperativa global, reúne mais de 180 denominações nacionais, representando mais de 442.000 igrejas e 85 milhões de adeptos em todo o mundo.⁶⁶ Em 2024, estima-se que a Assembleia de Deus globalmente possua mais de 450.000 igrejas e 86,1 milhões de membros e adeptos.⁶⁷

O Brasil se destaca como um dos maiores centros da Assembleia de Deus no mundo, com mais de 21 milhões de crentes.⁶⁸ A denominação tem uma longa história de envolvimento em missões internacionais, com um forte compromisso com a evangelização global.⁶⁸ A fundação da WAGF em 1989 formalizou a cooperação entre as diversas Assembleias de Deus nacionais, buscando promover a evangelização mundial, coordenar esforços de ajuda humanitária e utilizar recursos tecnológicos para a propagação do Evangelho.⁶⁷ A Assembleia de Deus possui uma presença significativa em diversos países, com um crescimento notável em regiões como a Coreia do Sul e a África.⁶⁸

8.3. Uma Comparação Global

Ambas as denominações, Igreja do Evangelho Quadrangular e Igreja Assembleia de Deus, são atores importantes no cenário do pentecostalismo global, com presença em numerosos países e milhões de membros em todo o mundo. A Assembleia de Deus, no entanto, aparenta ter uma presença global mais extensa em termos de número total de adeptos e igrejas, com o Brasil sendo um de seus maiores bastiões mundiais. Ambas as denominações possuem programas de missões internacionais ativos e demonstram um compromisso com a expansão do Evangelho em escala global. A história de suas origens internacionais (IEQ nos EUA, AD com forte influência dos EUA e Suécia no Brasil) moldou suas estratégias e redes de expansão global.

9. Figuras Históricas e Contemporâneas

9.1. Líderes Históricos e Contemporâneos Relevantes na Igreja do Evangelho Quadrangular no Brasil

A história da Igreja do Evangelho Quadrangular no Brasil foi marcada pela liderança de figuras importantes. Os fundadores, Harold Edwin Williams e Jesus Hermirio Vasquez Ramos ¹, foram os pioneiros que plantaram a semente da IEQ no país. O Pastor George Russell Faulkner também desempenhou um papel crucial na expansão da denominação na década de 1960.¹ Em nível internacional, Aimée Semple McPherson, a fundadora da Foursquare Church, e seu filho Rolf K. McPherson são figuras históricas centrais para a identidade da IEQ globalmente.²

Entre os líderes contemporâneos no Brasil, destaca-se a figura do Presidente da Igreja do Evangelho Quadrangular no Brasil ³⁹, sendo que Guaracy Silveira é mencionado como um pastor relevante na denominação.³⁹ A existência de crises de liderança regionais, como a mencionada no Pará ⁷¹, também indica a presença de pastores com grande influência em suas respectivas áreas.

9.2. Líderes Históricos e Contemporâneos Relevantes na Igreja Assembleia de Deus no Brasil

A Igreja Assembleia de Deus no Brasil tem sua história intrinsecamente ligada aos seus fundadores, os missionários sueco-americanos Gunnar Vingren e Daniel Berg.⁶ Suas trajetórias e o legado de sua obra missionária são fundamentais para a identidade da denominação. Ao longo dos anos, diversas figuras se destacaram na liderança da AD em suas diferentes convenções e ministérios.

Atualmente, o Pastor José Wellington Costa Junior preside a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), a maior convenção da denominação no país.⁴⁰ Outras figuras contemporâneas de destaque incluem o televangelista Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e o Pastor Marcos Pereira, da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, representando diferentes vertentes teológicas dentro do movimento.⁶ Abraão de Almeida também é mencionado como uma figura relevante na história da AD.⁴⁰

9.3. Comparando as Lideranças

Ambas as denominações foram fundadas por missionários que tiveram um papel crucial em seu estabelecimento e crescimento no Brasil. A IEQ teve em Harold Williams e Jesus Ramos seus pioneiros, enquanto a AD teve em Gunnar Vingren e Daniel Berg seus fundadores. Ambas também tiveram líderes que supervisionaram períodos de expansão significativa. No cenário contemporâneo, ambas possuem líderes nacionais com grande influência, como o Presidente da IEQ Brasil e o Presidente da CGADB. A AD, com sua estrutura mais descentralizada e sua longa história, parece ter um número maior de figuras proeminentes em diferentes níveis e representando diversas correntes teológicas dentro do movimento.

10. Conclusão:

A análise comparativa entre a Igreja do Evangelho Quadrangular e a Igreja Assembleia de Deus no Brasil revela tanto semelhanças quanto diferenças significativas entre essas duas importantes denominações pentecostais. Ambas compartilham raízes no movimento pentecostal e creem em doutrinas fundamentais como a Trindade, a autoridade bíblica, a salvação pela fé, o batismo no Espírito Santo, a cura divina e a segunda vinda de Cristo. No entanto, suas histórias de fundação, estruturas organizacionais, ênfases doutrinárias e estilos de adoração apresentam características distintas.

A IEQ, fundada posteriormente no Brasil, possui uma estrutura organizacional mais centralizada, com uma liderança nacional coesa e uma identidade teológica bem definida em torno do “Evangelho Pleno” ou “Foursquare Gospel”. Seus cultos tendem a ser mais contemporâneos em estilo musical e litúrgico. A AD, com sua fundação mais antiga e sua natureza descentralizada, congrega uma variedade de convenções e ministérios autônomos, o que resulta em uma maior diversidade teológica e de práticas, com forte ênfase tradicional na “Harpa Cristã” e na evidência inicial do falar em línguas para o batismo no Espírito Santo, embora também abrace expressões contemporâneas.

Ambas as denominações demonstram um engajamento ativo em atividades sociais e comunitárias, buscando impactar a sociedade de forma positiva. Em termos de presença global, ambas são significativas, com a AD apresentando um número maior de adeptos e igrejas em todo o mundo. Suas lideranças históricas e contemporâneas desempenharam e continuam a desempenhar um papel fundamental na formação e direção desses movimentos religiosos no Brasil.

Em conclusão, tanto a Igreja do Evangelho Quadrangular quanto a Igreja Assembleia de Deus são pilares do pentecostalismo brasileiro, cada uma com sua própria trajetória, identidade e impacto na vida religiosa e social do país. Compreender suas semelhanças e diferenças é essencial para uma análise aprofundada do cenário religioso brasileiro e da dinâmica do movimento pentecostal em particular.

Fontes citadas

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72. Confira fortunas dos 3 pastores mais ricos do Brasil – Jornal Opção https://www.jornalopcao.com.br/economia/confira-fortunas-dos-3-pastores-mais-ricos-do-brasil-568740/