Em outubro de mil quinhentos e dezessete, na cidade de Wittenberg, na Alemanha, um professor de teologia, um monge dedicado chamado Martinho Lutero, caminha em direção à porta da Igreja do Castelo.
Em suas mãos, ele carrega um documento com noventa e cinco pontos que ele acredita que precisam ser discutidos. Ele não tem a intenção de iniciar uma revolução, de dividir a igreja ou de se tornar uma das figuras mais importantes do último milênio.
Seu objetivo é muito mais simples e, ao mesmo tempo, infinitamente mais complexo: ele só quer iniciar um debate acadêmico, porque algo dentro de sua própria alma está em chamas, uma angústia que o consome e que ele não consegue mais ignorar.
A história de Martinho Lutero não começa com um martelo e pregos, mas no silêncio de um mosteiro e no barulho de uma consciência atormentada. Para entender a transformação que ele provocou no mundo, primeiro precisamos entender a transformação que aconteceu dentro dele.
Lutero era um homem em busca de paz com Deus. Essa era a sua única e obsessiva meta. Ele se tornou monge em mil quinhentos e cinco, aos vinte e um anos, acreditando que uma vida de rigor, disciplina e renúncia seria o caminho para a salvação.
Sua rotina era esgotante: acordar antes das duas da manhã para orações, cantos, meditação, mais orações, trabalho, mais orações, refeições seguidas de orações, até finalmente se deitar tarde da noite. Ele era, segundo suas próprias palavras, um monge impecável.
O desejo de Lutero era claro: ele queria a certeza de que seus pecados estavam perdoados e que ele estava em paz com o Deus do universo. Ele queria, no fundo, salvar sua alma. E ele estava disposto a fazer absolutamente tudo o que a igreja mandava para alcançar isso.
No entanto, o conflito que o rasgava por dentro só aumentava. Quanto mais ele se esforçava, mais distante Deus parecia. Ele jejuava, orava, se açoitava e seguia cada regra monástica com uma precisão quase desesperada. Mas a paz não vinha. O silêncio que ele esperava encontrar era preenchido pelo eco de suas próprias falhas.
Então, ele se voltou para a confissão. A igreja ensinava que, para obter o perdão, os pecados deveriam ser confessados um por um a um sacerdote. Lutero levou isso ao extremo. Ele passava horas a fio no confessionário, às vezes até seis horas por dia, tentando esvaziar sua alma de toda impureza.
Mas sua mente, sempre ativa e detalhista, transformava a confissão em uma forma de tortura. Ele confessava um pecado e, ao sair, lembrava-se de outro. Ou se preocupava se o seu arrependimento tinha sido sincero o suficiente. Ele tentava lembrar cada pensamento mau, cada palavra dita com raiva, cada ato egoísta, mas era uma tarefa impossível. Quanto mais tentava limpar a casa, mais sujeira parecia encontrar nos cantos.
A confissão, que deveria ser um caminho para o alívio, tornou-se uma fonte de desespero. Seus superiores ficavam exaustos. Johann Staupitz, o vigário-geral de sua ordem, chegou a dizer: “Lutero, traga-me pecados de verdade para confessar. Pare com esses pequenos delitos”. Eles viam a verdade: “Deus não está zangado com você. Você é que está zangado com Deus”.
Em sua busca incessante, Lutero fez uma peregrinação a Roma, o coração da cristandade. Ele esperava encontrar ali a santidade e a paz que lhe escapavam. O que encontrou o deixou chocado e doente. Ele viu uma religiosidade superficial, sacerdotes que viviam abertamente em pecado e um comércio de relíquias sagradas que o enojava.
Em Roma, na Igreja de São João de Latrão, ele se deparou com a Scala Sancta, uma escadaria de vinte e oito degraus que, supostamente, Jesus teria subido no palácio de Pilatos. A promessa era que, se alguém subisse os degraus de joelhos, rezando um “Pai Nosso” em cada um, poderia libertar uma alma do purgatório.
Lutero, ainda desesperado, decidiu fazer isso. Ele subiu de joelhos, beijando cada degrau, recitando as orações. Mas quando chegou ao topo, em vez de sentir alívio, uma pergunta o atingiu como um raio: “E se não for verdade?”. Como um ato mecânico poderia ter o poder de perdoar pecados?
De volta à Alemanha, o conflito de Lutero atingiu o seu auge. Ele começou a ver Deus não como um pai amoroso, mas como um juiz tirano e raivoso, que exigia uma justiça que nenhum ser humano poderia alcançar. Em sua honestidade brutal, ele admitiu mais tarde: “Amar a Deus? Eu o odiava”.
A grande mudança veio de um lugar inesperado. Seu superior, Staupitz, em uma tentativa de tirar Lutero de sua introspecção doentia, o nomeou professor de Bíblia na Universidade de Wittenberg. Ele o forçou a parar de olhar para dentro de si mesmo e a olhar para as Escrituras.
Lutero começou a preparar aulas sobre os Salmos e, depois, sobre as epístolas aos Romanos e aos Gálatas. Foi durante esse período de estudo intenso, provavelmente em seu escritório na torre do mosteiro, que a luz finalmente rompeu a escuridão.
Ele estava travado em Romanos 1:16-17: “Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego. Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: ‘O justo viverá pela fé'”.
A expressão “justiça de Deus” o aterrorizava. Para ele, significava a justiça pela qual Deus é justo e pune os injustos. Era o padrão impossível que ele vinha tentando alcançar sem sucesso.
Lutero escreveu sobre esse momento: “Noite e dia eu ponderei até que vi a conexão entre a justiça de Deus e a declaração de que ‘o justo viverá pela sua fé’. Então eu entendi que a justiça de Deus é aquela justiça pela qual, através da graça e da pura misericórdia, Deus nos justifica através da fé.
Imediatamente senti que havia nascido de novo e que tinha atravessado portas abertas para o Paraíso. Toda a Escritura assumiu um novo significado. Antes, a ‘justiça de Deus’ me enchia de ódio; agora, tornou-se indizivelmente doce em um amor maior. Esta passagem de Paulo tornou-se para mim um portão para o céu.”
Ele finalmente entendeu. Havia dois tipos de justiça.
A primeira era a justiça do homem, a soma de todas as suas boas obras, orações e rituais. Lutero percebeu que passou anos tentando construir uma escada para o céu com essa justiça. Mas não importava o quão alto ele subisse, sua escada era curta demais. Ele nunca alcançaria Deus.
A segunda era a justiça de Deus, uma justiça perfeita, não exigida de nós, mas oferecida a nós como um presente. Essa justiça foi conquistada por Jesus Cristo em sua vida perfeita e em sua morte na cruz. Não era algo para ser conquistado, mas para ser recebido. A única coisa necessária era estender as mãos vazias da fé e aceitar o presente.
Essa descoberta se tornou a base de tudo. O resultado foi uma transformação completa. A paz que ele buscou por uma década em mosteiros, confissões e peregrinações, ele encontrou em um único instante de compreensão da Palavra de Deus. Essa nova realidade o forçou a reavaliar tudo o que a igreja ensinava e praticava.
Quando um frade chamado Johann Tetzel chegou à Alemanha vendendo indulgências — documentos que prometiam perdão de pecados para os vivos e a libertação de almas do purgatório em troca de dinheiro — Lutero não pôde ficar calado. Se a salvação era um presente gratuito de Deus, recebido pela fé, então ela não poderia, de forma alguma, ser vendida.
As Noventa e Cinco Teses pregadas na porta da igreja foram uma consequência direta de sua descoberta pessoal. Ele estava simplesmente defendendo a verdade que o havia libertado.
A tese número sessenta e dois resume tudo: “O verdadeiro tesouro da igreja é o santíssimo evangelho da glória e da graça de Deus”. O que ele pensou que seria um debate acadêmico tornou-se o estopim da Reforma Protestante, uma faísca que incendiou a Europa e mudou o curso da história mundial.
Tudo porque um monge atormentado finalmente encontrou sua paz, não em seus próprios esforços, mas na graça de Deus.
Aplicação Pessoal
A história de Martinho Lutero, quinhentos anos depois, ainda fala diretamente à nossa condição. É muito fácil, mesmo sem mosteiros ou indulgências, cair na mesma armadilha que ele. Vivemos em um mundo que opera com base no mérito. Trabalhe duro e você será promovido. Comporte-se bem e você será aceito. Acumule boas ações e, talvez, você mereça um lugar no céu. Muitos de nós, secretamente, tentamos construir nossa própria escada para Deus.
Essa escada pode ter degraus de frequência à igreja, de atos de caridade, de moralidade pessoal ou de conhecimento religioso. Acreditamos que, se formos pessoas “boas” o suficiente, Deus terá que nos aceitar. Mas, assim como Lutero, descobrimos que essa é uma busca exaustiva e que nunca traz paz verdadeira. Estamos sempre conscientes de nossas falhas, sempre nos perguntando se fizemos o suficiente.
A descoberta de Lutero é a mensagem central do evangelho: pare de construir. A escada já foi fornecida, mas ela não sobe, ela desce. A justiça de Deus não é um prêmio para os fortes, mas um presente para os que admitem sua fraqueza. É abandonar a confiança em nossa própria capacidade de sermos bons e confiar totalmente no que Cristo fez por nós. É arriscar nossa eternidade não em uma vida que nós vivemos, mas na vida perfeita que Cristo viveu. Não em uma morte que nós merecemos, mas na morte que Ele morreu em nosso lugar. A estrada de Lutero para o céu não foi um caminho de esforço heroico, mas um caminho de rendição simples. E essa mesma estrada está aberta para cada um de nós hoje.
Conclusão
Onde estamos em relação ao que Martinho Lutero acreditava? A resposta é simples. Acreditamos no que Martinho Lutero acreditava há 508 anos. Cremos que quando uma pessoa vem ao Senhor Jesus Cristo, ela é justificada, não por causa de qualquer coisa que tenha feito, mas por causa do que Jesus Cristo fez. Quando Martinho Lutero descobriu essa verdade, ela abriu a porta do céu para ele.
Essa doutrina se tornou o grito de guerra da Reforma Protestante: Sola Fide, que significa “somente pela fé”.
Somente a fé! Não por obras da lei.Somente a fé! Não por obediência à Igreja.Somente a fé! Não pela justiça humana.Somente a fé! Não pelo batismo.Somente a fé! Não por boas intenções.Somente a fé! Não pelos sacramentos.Somente a fé! Não por atos de caridade.Somente a fé! Mais nada e menos nada!
Justiça é o que precisamos, mas não temos. Porque Deus sabia que nunca poderíamos ser justos por conta própria, ele providenciou uma justiça que desce do céu acima. Não é merecido ou merecido, mas é dado por Deus como um presente gratuito.
Lutero resumiu a verdade desta forma:
“A lei diz: ‘Faça isso!’ e nunca é suficiente. A graça diz: ‘Acredite neste homem!’ e imediatamente tudo está feito. (Citado por Erwin Lutzer, Resgatando o Evangelho, p. 50.)
Algumas pessoas que lêem essas palavras estão de volta onde Martinho Lutero estava no início. Você está confiando em sua religião, ou está confiando em suas boas obras, ou está confiando em seu batismo. Meu amigo, se você está confiando na religião, nas boas obras ou no batismo, você está no caminho errado. Nunca levará ao céu. Você nunca vai conseguir.
Mas você não precisa ir por esse caminho. Deus já fez tudo o que era necessário para você ir para o céu. Ele lhe dará crédito com a justiça de Cristo se você estender a mão e abraçar seu Filho pela fé.
Você está na estrada para o céu?
Todo mundo está em uma estrada ou outra. Ou você está na estrada para o céu pela fé em Jesus Cristo, ou você está na estrada que leva ao inferno. O caminho das boas obras leva à destruição porque você nunca pode ser bom o suficiente ou orar o suficiente ou dar dinheiro suficiente para ter seus pecados perdoados.
Se você está nessa estrada, é hora de mudar de direção e pegar a estrada para o céu. Convido você a se juntar a nós para seguir o caminho de Martinho Lutero e milhões de outras pessoas que sabem que a única maneira de estar bem com Deus é confiando em Jesus Cristo e somente nele.
Você diz, é possível? Absolutamente. Estenda suas mãos vazias para Jesus Cristo. Olhe para a cruz e veja-o morrendo lá. Abra seu coração e sua vida para Jesus Cristo, e ele entrará.
Alguém resumiu essa verdade desta forma:
Em uma vida que eu não vivi,
Em uma morte eu não morri,
eu arrisco toda a minha eternidade.
A “vida que não vivi” é a vida de Jesus e a “morte que não morri” é sua morte na cruz. Quando confiamos em Cristo, estamos “arriscando a eternidade” nele. Ser cristão significa confiar tanto em Cristo que você arrisca sua eternidade no que ele fez por você em sua vida e morte.
Confiar em Jesus para a salvação significa confiar nele tão completamente que, se ele não puder levá-lo para o céu, você não irá para lá. Você está disposto e pronto para fazer isso?
Uma oração para pessoas que precisam fazer o que Martinho Lutero fez
Alguns de vocês estão tentando chegar ao céu, mas nunca encontraram a estrada certa.
Você tentou a religião e ela não satisfaz.Você tentou ser bom, mas não pode ser bom o suficiente.Você foi batizado, mas sabe que tem que haver mais.Se essa é a sua história, exorto-o a vir ao Senhor Jesus Cristo.
Posso sugerir uma oração simples para você orar? A oração não é mágica, como o próprio Martinho Lutero seria o primeiro a afirmar. Mas a oração é significativa quando expressa o desejo do seu coração.
Senhor Jesus, por muito tempo eu te mantive fora da minha vida. Eu sei que sou um pecador e que não posso me salvar. Pela fé recebo com gratidão o dom da salvação. Eu acredito que você é o Filho de Deus que morreu na cruz pelos meus pecados e ressuscitou dos mortos no terceiro dia. Obrigado por carregar meus pecados e me dar o dom da vida eterna. Acredito que suas palavras são verdadeiras. Entre em meu coração, Senhor Jesus, e seja meu Salvador. Amém.
Você fez a oração? Se você orou e realmente quis dizer isso, bem-vindo à família de Deus. Junte-se a nós enquanto seguimos pela estrada para o céu.