Afirmar que a Bíblia é a fonte primária da teologia, mas não a única, significa reconhecer a sua autoridade singular e fundacional para toda a compreensão da fé cristã, ao mesmo tempo em que se admite a relevância de outras fontes, desde que subordinadas e consistentes com a Escritura.
A primazia da Bíblia decorre de sua natureza como Palavra de Deus inspirada e revelada. Ela contém o testemunho autorizado de Deus sobre Si mesmo, Seus atos na história, Seu plano de salvação e Suas instruções para a vida humana. A teologia bíblica, que precede e fundamenta a teologia sistemática, tem seu conteúdo principal nos escritos do Antigo e do Novo Testamento. A Bíblia é a “Constituição e o fundamento da fé cristã”, a regra definitiva para a fé e a prática. As outras fontes de conhecimento teológico devem ser examinadas e avaliadas à luz da clareza da Escritura.
Contudo, a afirmação de que a Bíblia não é a única fonte reconhece que outros elementos podem influenciar e informar a nossa compreensão teológica. Estas fontes secundárias incluem:
- A Tradição da Igreja: A história da interpretação bíblica e a formulação doutrinária ao longo dos séculos oferecem uma rica fonte de sabedoria. Os credos, as confissões de fé e os escritos de teólogos do passado refletem o entendimento da Igreja sobre as Escrituras em diferentes contextos históricos e culturais. Estudar essa tradição pode auxiliar na compreensão das doutrinas, alertar contra desvios doutrinários e fornecer perspectivas valiosas sobre a aplicação da fé. No entanto, a tradição nunca deve ser colocada em pé de igualdade com a Bíblia, pois sua autoridade é derivada e deve ser sempre julgada pela Palavra de Deus.
- A Razão: A capacidade humana de pensar logicamente, analisar evidências e discernir a verdade é uma ferramenta dada por Deus que pode ser utilizada na reflexão teológica. A razão pode ajudar a organizar os ensinamentos bíblicos de maneira coerente, a identificar inconsistências e a aplicar os princípios bíblicos a novas situações. Contudo, a razão humana é falível e limitada, e deve sempre estar sujeita à autoridade da revelação divina. A teologia não se opõe à razão, mas reconhece que algumas verdades divinas transcendem a plena compreensão racional.
- A Experiência: A experiência pessoal e coletiva dos crentes com Deus e com a comunidade da fé pode iluminar a compreensão das verdades teológicas. A experiência do perdão, da transformação, da comunhão com o Espírito Santo e da vida em comunidade pode trazer uma compreensão mais profunda e pessoal dos ensinamentos bíblicos. No entanto, a experiência subjetiva nunca deve se tornar a base primária para a doutrina, pois pode ser enganosa e variar de pessoa para pessoa. A experiência deve ser sempre avaliada à luz da objetividade da Palavra de Deus.
- Fontes Extrabíblicas: Em certos aspectos, outras fontes de conhecimento podem fornecer informações contextuais ou ilustrativas que ajudam na compreensão da Bíblia. Por exemplo, o conhecimento da história, da cultura e das línguas do mundo bíblico pode enriquecer a interpretação das Escrituras. Da mesma forma, a observação do mundo natural pode, para alguns, refletir aspectos do caráter e do poder de Deus. Contudo, essas fontes nunca devem contradizer ou substituir os ensinamentos claros da Bíblia.
Em resumo, a Bíblia ocupa um lugar único e supremo como a fonte primária e normativa da teologia cristã. Ela é a Palavra autorizada de Deus, e todas as outras fontes devem ser consideradas secundárias e interpretadas à luz de seus ensinamentos. A tradição, a razão, a experiência e outras fontes de conhecimento podem enriquecer e informar a nossa teologia, desde que permaneçam firmemente fundamentadas e consistentes com a verdade revelada nas Escrituras. Essa perspectiva equilibrada reconhece a suficiência final da Bíblia como a revelação especial de Deus, enquanto valoriza as outras ferramentas que Ele nos deu para compreendê-la e aplicá-la em nossas vidas.