Por que Deus Criou o Mundo e os Seres Humanos?
Ao penetrarmos mais profundamente no mistério da divindade, somos conduzidos a uma pergunta que ecoa como um hino em meio à criação: Por que Deus, sendo completo em Si mesmo, escolheu criar este vasto universo e, dentro dele, seres humanos finitos e frágeis? Não se trata de uma questão meramente filosófica, mas de uma exploração que toca diretamente a essência do propósito humano. A resposta, embora revelada nas Escrituras, permanece envolta em reverência e admiração, pois nos confronta com a generosidade e a graça de um Deus que não precisava de nós, mas quis nos ter.
1. Deus criou para manifestar Sua glória
A criação é, acima de tudo, um ato de autorrevelação divina. Deus não criou por necessidade ou carência, pois Ele é plenitude absoluta. Antes, Ele criou para expressar Sua glória, que é o brilho de Seus atributos infinitos. O salmista exclama: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Salmo 19:1). Cada estrela, cada montanha, cada ser vivo reflete algo da majestade e sabedoria de Deus. E, no centro dessa obra, está o ser humano, feito à imagem e semelhança do Criador (Gênesis 1:27).
Somos chamados à grande tarefa de refletir essa glória, não para competir com Deus, mas para participar dela. Isaías escreve: “Toda a terra será cheia do seu louvor” (Isaías 6:3). Aqui reside o primeiro propósito da criação: que toda a criação seja um coro unido, declarando as maravilhas de Deus. Mas, diferentemente das estrelas que apenas brilham e dos mares que apenas rugem, fomos dotados de vontade e capacidade de resposta. Somos convidados a adorá-Lo consciente e voluntariamente, tornando-nos parceiros na exaltação de Seu nome.
2. Deus criou para compartilhar Seu amor
Se Deus é amor (1 João 4:8), então Sua criação é um desdobramento natural desse amor. Ele não precisava de companhia, mas quis partilhar Sua vida e bondade com outros. Imagine uma fonte transbordante cuja água jorra sem cessar: Deus é esse manancial eterno, e a criação é o canal por onde Sua abundância flui. Paulo explica isso ao escrever aos efésios: “Porque Deus nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos” (Efésios 1:4-5). Note que o amor é o motor central aqui. Deus não criou porque estava solitário ou incompleto, mas porque é generoso e desejava expandir Sua comunhão.
Essa verdade ressoa especialmente no coração do ser humano. Fomos criados para relacionamento — com Deus, com nossos semelhantes e até com o restante da criação. Gênesis retrata Adão e Eva andando no jardim com Deus durante a brisa fresca do dia (Gênesis 3:8). Que cena de intimidade! Deus não criou máquinas programadas para obedecer, mas almas vivas capazes de amar e serem amadas. Esse amor, contudo, pressupõe liberdade, pois o amor verdadeiro só existe quando há escolha. Aqui vemos a marca inconfundível da teologia arminiana: Deus criou seres livres, capacitados a responderem ao Seu convite com fé e obediência.
3. Deus criou para cumprir Seu propósito redentivo
Embora a criação tenha sido inicialmente perfeita, o pecado entrou no mundo através da desobediência humana (Gênesis 3:6). No entanto, isso não pegou Deus de surpresa. Desde a eternidade, Ele já havia traçado um plano redentivo para restaurar aquilo que foi perdido. Pedro descreve Cristo como “o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:8, ARC). Em outras palavras, a redenção não foi um plano secundário, mas parte integrante do propósito original de Deus.
Por que Deus permitiu tal possibilidade? Porque Ele valoriza a liberdade moral que nos concedeu. Sem essa liberdade, não poderíamos amá-Lo genuinamente nem rejeitá-Lo deliberadamente. Contudo, ao ver nosso afastamento, Ele demonstrou Sua misericórdia enviando Jesus Cristo para nos reconciliar consigo mesmo. Romanos 5:8 declara: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.” A criação, portanto, não tem como único objetivo a existência de seres perfeitos, mas a manifestação do caráter redentor de Deus.
4. Deus criou para glorificar a humanidade
De todas as criaturas, o ser humano ocupa um lugar especial no coração de Deus. Fomos coroados de honra e glória (Salmo 8:5) e designados como mordomos sobre a Terra (Gênesis 1:28). Essa dignidade não é arbitrária, mas fundamentada na nossa identidade como portadores da imagem de Deus. Essa imagem inclui características como racionalidade, espiritualidade, moralidade e criatividade — reflexos do próprio Criador.
Além disso, Deus nos chamou para colaborar com Ele na execução de Seus propósitos. Paulo escreve aos coríntios: “Porque somos cooperadores de Deus” (1 Coríntios 3:9). Esta é uma verdade profunda e transformadora: Deus não apenas nos criou, mas também nos envolveu em Sua missão. Cada ato de bondade, cada palavra de encorajamento, cada gesto de justiça é uma oportunidade de participar da obra divina.
Conclusão: Um Chamado ao Propósito
Então, por que Deus criou o mundo e os seres humanos? Para manifestar Sua glória, compartilhar Seu amor, executar Sua redenção e enaltecer a humanidade. Mas há algo ainda mais pessoal nessa resposta: Ele criou você, caro leitor, especificamente. Você não é um acidente cósmico nem um mero produto da evolução. Você foi pensado, moldado e trazido à existência por um Deus que viu seus dias antes mesmo de eles começarem (Salmo 139:16).
Que esta verdade ressoe em seu coração como um chamado claro. Deus não criou o mundo simplesmente para ser admirado, mas para ser conhecido. Ele não criou os seres humanos apenas para ocupar este planeta, mas para compartilhar intimidade com Ele. E agora, diante desta realidade tão sublime, cabe a cada um de nós decidir: responderei ao convite de Deus para viver em harmonia com Seu propósito?
“Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemo-nos diante do Senhor, que nos criou” (Salmo 95:6).