Durante as viagens de Cristóvão Colombo e sua tripulação, diversas práticas religiosas eram observadas, refletindo a profunda fé que permeava tanto o Almirante quanto muitos de seus homens.
Um dos ritos religiosos regulares a bordo era a observância do tempo com uma oração. A cada meia hora, quando a ampulheta era virada – seu principal meio de controle do tempo – a tripulação exclamava: “Bendita seja a hora do nascimento de nosso Salvador / bendita seja a Virgem Maria que o gerou / e bendito seja João que o batizou”. Essa prática constante lembrava a centralidade da fé cristã em suas vidas e a importância dos eventos sagrados.
Além disso, a tripulação terminava cada dia cantando vésperas juntos. Embora haja relatos de que nem sempre cantavam em perfeita harmonia, o ato de se reunirem para louvar a Deus ao final do dia demonstrava uma disciplina religiosa coletiva e um reconhecimento da providência divina ao longo de sua jornada.
O próprio Cristóvão Colombo era um homem de excepcional piedade. Seus diários e cartas estão repletos de orações, invocações aos nomes de Cristo, Maria e os santos, e solenes louvores a Deus. Era comum para os marinheiros espanhóis recitarem diariamente o “Pai Nosso” e outras orações, e os homens de Colombo também o faziam. No entanto, a devoção de Colombo ia além da prática convencional.
Seu filho Fernando escreveu que Colombo era tão estrito em assuntos de religião que, por seus jejuns e orações, poderia ter sido tomado por um membro de uma ordem religiosa. Ele conhecia profundamente a Bíblia Vulgata e provavelmente a levava consigo, ou uma coleção de Escrituras, em suas viagens. Em momentos de adversidade, como tempestades, trombas d’água ou rebeliões da tripulação, Colombo fazia votos a Deus, buscando na religião seu primeiro refúgio.
Colombo iniciava quase tudo que planejava ou realizava com as palavras “Em nome da Santíssima Trindade farei isto ou cuidarei daquilo”. Ele jejuava observadoramente em todos os dias de jejum da igreja, participava frequentemente da confissão e da Comunhão, e orava em todas as horas canônicas diárias, como os sacerdotes e monges. Sua profunda ânsia era pela honra e glória de Deus e pela evangelização dos povos que encontrasse, desejando o plantio e florescimento da fé em Jesus Cristo em todos os lugares.
As cruzes ostensivamente exibidas nas velas de seus navios no início da primeira viagem simbolizavam a natureza da missão, que Colombo via como parte de um plano divino maior. Ele sentia que o próprio Deus Todo-Poderoso havia diretamente provocado sua jornada, abrindo sua mente para a possibilidade da viagem e movendo sua vontade a desejá-la. Ele acreditava que haveria algo de milagroso em sua empresa às Índias.
Em momentos críticos, como na noite anterior ao avistamento de terra, Colombo instruiu sua tripulação a manter uma vigília cuidadosa enquanto cantavam a Salve Regina (“Salve, Rainha”). Esse hino mariano era um pedido de proteção e uma expressão de esperança.
Colombo interpretava eventos durante as viagens sob uma lente religiosa. Por exemplo, quando a nau capitânia, Santa María, encalhou na manhã de Natal, ele não viu isso como uma calamidade, mas como “uma grande bênção e o propósito expresso de Deus”, pois forneceria madeira para construir um forte e deixar alguns de seus homens.
Durante uma terrível tempestade a caminho de casa, Colombo e sua tripulação se reuniram no convés para orar e fazer votos. Eles realizaram um sorteio com grãos de bico em uma touca para determinar quem faria uma peregrinação a um santuário da Virgem Maria se chegassem em segurança. O próprio Colombo tirou o grão marcado com uma cruz. Acredita-se que, naquele dia, ele também ouviu uma voz celestial que o assegurou de que Deus o levaria em segurança.
Ao retornarem à Espanha, o sino da igreja tocou em Palos, e na corte de Barcelona, após o relato de Colombo, o rei e a rainha se ajoelharam em profunda gratidão a Deus, enquanto os cantores da capela real cantavam o “Te Deum laudamus”, um hino de louvor e ação de graças. Esse evento foi visto como um momento de comunhão com todas as alegrias celestiais.
A própria assinatura de Colombo, um misterioso signet de pontos e letras que ele começou a usar após sua primeira viagem, continha na linha inferior uma construção greco-latina de seu primeiro nome, enfatizando que Cristóvão literalmente significa “portador de Cristo”. Bartolomé de Las Casas observou que Colombo frequentemente assinava seu nome dessa maneira, pois ele foi o primeiro a abrir as portas do Mar Oceano para levar nosso Salvador Jesus Cristo sobre as ondas àqueles reinos e terras remotas.
Em suma, as práticas religiosas observadas por Colombo e sua tripulação eram uma parte integrante de suas vidas durante as viagens, permeando suas atividades diárias, seus momentos de alegria e seus tempos de crise, refletindo uma cosmovisão profundamente enraizada na fé cristã da época.