Rute 3:9 NVT
“Quem é você?”, perguntou ele.
“Sou sua serva Rute”, respondeu ela. “Estenda as abas de sua capa sobre mim, pois o senhor é o resgatador de minha família.”
Você já parou para pensar no que significa ser resgatado? Não estou falando de algo distante ou teórico, mas daquele momento em que alguém olha para o abismo da sua vida e decide entrar nele com você, carregando o peso, enfrentando o custo, simplesmente porque você importa. Em um mundo saturado de histórias previsíveis e amores superficiais, o livro de Rute nos oferece algo profundamente diferente. Ele nos leva a um campo de trigo discreto, onde uma narrativa de coragem e amor surge para desestabilizar nossas crenças mais arraigadas.
Essa não é apenas uma história de um homem generoso ou de uma mulher corajosa. É uma história de compromisso que desafia a lógica, de um amor que não se rende às expectativas, mas as transforma. Quando Boaz estende a mão para Rute, ele não apenas a resgata; ele se torna parte de uma história que atravessa gerações e culmina na manjedoura de Belém. É estranho, não é? Que uma mulher estrangeira e um homem improvável, unidos por um ato tão arriscado, estejam no cerne da genealogia da esperança.
E talvez você pense que já sabe como essa história termina. Mas espere. Porque o que está por vir não é apenas uma resolução; é uma reviravolta. O livro de Rute é mais do que uma sucessão de eventos; é um prenúncio, um eco que ressoa até o primeiro Natal. Advento não é apenas sobre velas e hinos, mas sobre um grito que rompe o céu, uma expectativa ousada de que algo divino está se aproximando.
Na primeira semana, vimos Rute, uma jovem que ousa escolher a fé quando tudo parece contra ela. Ela caminha para Belém, trazendo consigo a promessa de uma criança que mudaria o mundo. Na segunda semana, encontramos Boaz, um homem cuja bondade e provisão refletem aquele que um dia ofereceria refúgio a todos que o buscassem. Agora, nesta terceira semana, nos deparamos com o coração da história: um resgate que desafia convenções e exige um custo que poucos estariam dispostos a pagar.
Imagine Noemi, outrora cheia de sonhos, agora vazia e amarga. Ela retorna a Belém acompanhada de Rute, uma jovem viúva moabita, cujo coração ousa sonhar em meio à desolação. Rute, andando pelos campos de trigo de Boaz, sabe que a colheita terminou e tudo que resta é incerteza. Boaz, justo e generoso, é a peça final deste quebra-cabeça, mas para que eles se unam, será necessário um ato de audácia.
E então vem o plano de Noemi, algo tão arriscado que quase soa escandaloso. Vá até a eira à noite, ela diz. Não de dia, porque os olhos da sociedade são rápidos para julgar. Mas não vá de qualquer forma. Prepare-se. Lave-se, perfume-se, vista-se como quem entende que está prestes a reivindicar algo mais profundo do que um direito. Rute obedece. E no silêncio da noite, em meio ao cheiro de cevada, ela se deita aos pés de Boaz, um gesto que carrega mais do que vulnerabilidade; é um clamor por redenção.
Boaz desperta. Quem é você?, ele pergunta, não porque não saiba, mas porque precisa ouvir de Rute o que ela veio buscar. Sou sua serva, ela responde, mas suas palavras vão além: estenda sua capa sobre mim, pois você é o meu parente-redentor. E assim, o que era vulnerabilidade torna-se súplica, e a súplica transforma-se em promessa.
Boaz responde com ternura. Que o Senhor a abençoe, minha filha, ele diz. Em vez de reprovação, ele oferece reconhecimento. Ele vê nela algo que outros ignorariam: coragem, bondade, lealdade. E ele promete fazer tudo o que ela pede, porque Rute merece mais do que aceitação; ela merece redenção.
Mas há um obstáculo. Existe outro parente-redentor mais próximo, alguém com o direito de reivindicar Rute antes dele. Boaz não hesita. Amanhã cedo, ele diz, resolverei essa questão. Enquanto isso, ele protege Rute, enviando-a de volta com seis medidas de cevada, um sinal de sua provisão e intenção.
Quando Rute retorna para Noemi, não traz apenas alimento, mas esperança. Noemi, antes resignada à amargura, agora enxerga o movimento da providência divina. Espere, minha filha, ela diz, porque esse homem não descansará enquanto não resolver isso. E assim, uma noite de incerteza transforma-se em uma manhã de expectativa.
Boaz não apenas age com justiça, mas com amor. Ele resolve o impasse no portão da cidade, enfrentando o outro parente-redentor, que recua ao perceber o custo envolvido. E, num gesto simbólico, o homem entrega sua sandália, transferindo seus direitos a Boaz. Sem hesitação, Boaz declara diante dos anciãos: Eu redimo Rute. Ele não faz isso porque é fácil, mas porque é certo.
E aqui está o ponto: Boaz é um reflexo daquele que viria depois. Como ele, Jesus proclamou publicamente sua intenção de nos resgatar. Sua morte na cruz foi a prova definitiva de sua promessa. Ele não recuou, não negociou, não buscou a saída mais fácil. Pagou o preço total para nos tornar filhos de Deus.
E você? Reconhece sua necessidade de redenção? A graça que Jesus oferece é suficiente. Ele estende sua capa sobre você e diz: Eu pago o preço. Tudo o que resta é aceitar essa oferta e viver na liberdade que ela nos concede, proclamando como os anciãos: “Seja esta redenção conhecida em toda a história.”
Oração:
Senhor,
Obrigado por Tua graça incompreensível, que nos alcança mesmo quando tudo parece perdido. Obrigado porque, assim como Boaz não hesitou em resgatar Rute, Jesus não hesitou em pagar o preço por nós. Ensina-nos a reconhecer nossa necessidade de redenção, a confiar em Tua provisão e a viver na liberdade que Tua graça nos concede. Ajuda-nos a proclamar essa redenção com nossas vidas, para que outros também vejam em nós o reflexo do Teu amor.
Em nome de Jesus, o verdadeiro Redentor, oramos. Amém.
