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A compreensão de Agostinho sobre a relação entre fé e graça é fundamental para a sua teologia da salvação, sendo a graça a força motriz e a fé a resposta capacitada por essa graça. Para Agostinho, a iniciativa na salvação pertence inteiramente a Deus, e a graça divina precede e possibilita a fé salvadora.

Agostinho via o homem em seu estado natural, após a Queda, como totalmente depravado e incapaz de realizar o bem espiritual por si mesmo. Essa incapacidade se estende à própria capacidade de crer genuinamente em Deus. Portanto, a fé não é vista primariamente como um ato autônomo da vontade humana, mas como um dom de Deus, um efeito da graça divina operando no coração do pecador. Shedd é citado afirmando que “a graça é conferida ao homem pecaminoso não porque ele crê, mas para que creia; pois a própria fé é um dom de Deus”.

A graça de Deus, na perspectiva agostiniana, não é meramente uma ajuda externa ou uma oportunidade oferecida, mas uma operação interna e sobrenatural do Espírito Santo que ilumina a mente e inclina a vontade para a santidade. Essa graça é distribuída gratuitamente, de acordo com o beneplácito soberano de Deus, e não com base em quaisquer méritos humanos. Ela precede quaisquer méritos e é a fonte de todo o bem no homem.

Agostinho distingue vários estágios na obra da graça divina, incluindo a “graça preveniente”, a “graça operante” e a “graça cooperadora”. A graça preveniente precede a ação humana, preparando o coração e produzindo um senso de culpa e pecado através da lei. A graça operante é aquela pela qual Deus produz a fé em Cristo e em sua obra expiatória, levando à justificação e à paz com Deus. A graça cooperadora atua posteriormente, quando a vontade renovada do homem coopera com o Espírito na obra de santificação ao longo da vida. Essa distinção, no entanto, não implica que a iniciativa da salvação seja dividida; mesmo na cooperação, a graça divina é fundamental e capacitadora. A regeneração, portanto, é vista como uma obra inteiramente monenergética de Deus, realizada pelo Espírito Santo para renovar a disposição íntima do homem e levá-lo à conformidade com a lei divina.

No que diz respeito à fé, Agostinho a concebia primariamente como uma anuência intelectual à verdade. Ele fazia distinção entre a fé em geral e a fé cristã, entre crer no que Cristo diz e crer em Cristo. A verdadeira fé em Cristo envolveria amá-Lo e fixar nEle a esperança. Ele reconhecia que a fé cristã atua pelo amor. No entanto, é apontado que a concepção de fé de Agostinho não dava plena proeminência àquela confiança singela em Cristo que é o elemento essencial da fé salvadora.

A fé, para Agostinho, é operante na justificação do pecador, pois o homem é justificado pela fé, ou seja, pela fé se obtém a justificação. Contudo, sua compreensão da justificação não era puramente forense, mas incluía o perdão dos pecados e a transformação da natureza íntima do pecador. Ele não distinguia claramente entre justificação e santificação, incorporando esta última na primeira.

A importância da graça é tal no sistema de Agostinho que tudo é atribuído a ela. A fé, embora necessária, é em si mesma um dom da graça e um meio pelo qual os benefícios da redenção, concedidos pela graça, são apropriados. A relação, portanto, é de dependência completa da fé em relação à graça divina. Sem a operação prévia e contínua da graça de Deus, o homem não teria a capacidade nem a inclinação para crer em Cristo para a salvação.

É importante notar que, apesar da ênfase de Agostinho na graça soberana de Deus, alguns elementos em seu pensamento pareciam apontar para uma dependência da Igreja e de seus sacramentos na administração da graça. Além disso, a possibilidade de perder a graça da regeneração também foi levantada em seus escritos. No entanto, a corrente principal de seu pensamento enfatizava que a graça de Deus é a causa eficiente da salvação, levando à sua doutrina da predestinação. Inicialmente, ele tendeu a ver a predestinação como contingente à presciência divina, mas posteriormente reconheceu que a própria fé e a escolha humana do bem eram efeitos da graça divina.

Em resumo, Agostinho entendia a fé como uma resposta humana capacitada pela graça divina. A graça é primária, antecedente e essencial para a existência da fé salvadora. Deus, por sua graça soberana, renova o coração do pecador, possibilitando-lhe crer em Cristo. A fé, embora envolvendo anuência intelectual e confiança, é fundamentalmente um dom de Deus e o meio pelo qual os benefícios da salvação, oferecidos graciosamente, são apropriados. A relação entre fé e graça é, portanto, uma relação de dependência, onde a graça divina é a fonte e o poder por trás da fé salvadora.

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