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Qual a principal tarefa dos apologetas cristãos?

A principal tarefa dos apologetas cristãos, surgidos no século II d.C., foi a de definir claramente e defender a verdade do cristianismo em resposta a pressões externas e internas. O próprio surgimento da teologia cristã foi impulsionado por essa necessidade de apresentar definições claras e oferecer uma defesa da fé.

No seu trabalho, os apologetas dirigiram suas apologias tanto aos governantes quanto ao público culto. O objetivo imediato era o de suavizar a atitude das autoridades e da população em geral em relação ao cristianismo. Para alcançar esse fim, eles se empenhavam em exibir o verdadeiro caráter da fé cristã e em refutar as acusações que eram lançadas contra os cristãos. Particularmente, eles buscavam tornar a religião cristã aceitável para as classes educadas, enfatizando sua racionalidade. Com essa meta em mente, eles apresentavam o cristianismo como a mais elevada e segura filosofia, dando especial destaque às grandes verdades da religião natural, como Deus, a virtude e a imortalidade. Eles também procuravam mostrar a religião cristã como o cumprimento de toda a verdade encontrada no judaísmo e no helenismo.

A tarefa dos apologetas assumiu um caráter triplo: defensivo, ofensivo e construtivo.

Em sua vertente defensiva, os apologetas se esforçavam para mostrar que não havia provas que sustentassem as acusações feitas contra os seguidores de Cristo. Eles argumentavam que a conduta ofensiva que lhes era atribuída era totalmente incompatível com o espírito e os preceitos do evangelho, e que o caráter e as vidas daqueles que professavam a fé cristã eram marcados pela pureza moral.

No aspecto ofensivo, eles atacavam ativamente o paganismo dominante, expondo a absurdidade de seus mitos e a imoralidade de suas práticas.

Finalmente, na sua tarefa construtiva, os apologetas sentiram a responsabilidade de estabelecer o caráter do cristianismo como uma revelação positiva de Deus. Ao demonstrarem a realidade dessa revelação, eles se apoiaram principalmente no argumento extraído da profecia, mas também, embora em menor grau, no argumento baseado nos milagres. Eles frequentemente apelavam ao notável crescimento da religião cristã apesar de toda a resistência, bem como às vidas e ao caráter transformados de seus adeptos.

Ao exporem o conteúdo doutrinário da revelação divina, os apologetas nem sempre distinguiam claramente entre a revelação geral e a especial, e frequentemente não discriminavam cuidadosamente entre o que era produto da mente humana e o que havia sido revelado sobrenaturalmente. Isso se devia, em parte, ao fato de que eles concebiam exageradamente o cristianismo como uma filosofia, embora a única filosofia verdadeira, superior a todas as demais por estar fundamentada na revelação. Como observou Harnack, para todo apologeta, de Aristides a Minucius Félix, “o cristianismo é filosofia e religião”. Eles o consideravam uma filosofia por conter um elemento racional e responder satisfatoriamente às questões que preocupavam todos os verdadeiros filósofos, mas também o viam como a antítese direta da filosofia, por ser livre de meras noções e opiniões, originando-se de uma revelação sobrenatural.

Na sua apresentação de Deus, os apologetas O descreviam como o Auto-existente, o Imutável, o Eterno, a causa primária do mundo, embora, devido à Sua singularidade e perfeição, Ele fosse melhor descrito em termos negativos. Eles dificilmente ultrapassavam a ideia do Ser divino como ho on, ou seja, existência absoluta e destituída de atributos. Ao se referirem ao Filho, preferiam o uso do termo “Logos”, sem dúvida por ser um termo comum na filosofia, o que atraía as classes cultas. Ao mesmo tempo, o uso desse termo indicava que a atenção da Igreja estava focada no Cristo divino e exaltado, e não em Jesus, o homem. Os apologetas não apresentaram o conceito bíblico do Logos, mas sim um conceito influenciado pela filosofia da época.

No tocante à salvação, a fé era vista como apropriadora de Deus, consistindo em verdadeiro conhecimento, confiança e auto-entrega. Contudo, a relação entre fé e justificação, e entre fé e nova vida, não era claramente entendida, manifestando uma tendência legalista anti-paulina. A fé era muitas vezes considerada apenas o primeiro passo em um caminho de vida, do qual dependia o desenvolvimento moral do indivíduo. Embora o perdão de pecados fosse recebido no batismo pela fé, subsequentemente se acreditava que o homem merecia bênçãos por suas boas obras, que se tornavam um princípio secundário e independente, paralelo à fé. Frequentemente, o cristianismo era apresentado como a nova lex, e o amor, conduzindo a uma nova obediência, assumia o papel principal, com as boas obras, às vezes, sobrepondo-se à graça de Deus. Em suas descrições da bem-aventurança, alguns apologetas mencionavam o reino milenar (Justino).

Apesar de Harnack e Loofs opinarem que os apologetas falharam na correta apreensão do evangelho, buscando a substância do cristianismo unicamente em seu conteúdo racional e helenizando o evangelho, é importante considerar que eles estavam escrevendo apologias, e não tratados doutrinários, e a natureza de uma apologética é sempre influenciada pela oposição enfrentada. Além disso, as verdades que eles enfatizaram também constituem uma parte essencial do sistema de doutrinas cristãs, e seus escritos contêm muitos elementos cristãos positivos que não serviam apenas como apoio para as verdades fundamentais da razão. Em resumo, a obra dos apologetas, embora com suas limitações e influências filosóficas, foi fundamental para defender o cristianismo de ataques externos e internos, buscando apresentá-lo de forma racional e relevante para o mundo greco-romano, marcando os primórdios da teologia cristã.

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