A principal pergunta que devemos fazer ao nos depararmos com o Antigo Testamento não é, primeiramente, “O que essa passagem nos fala a respeito de nós mesmos?”, mas sim: “Como essa passagem testifica de Cristo?”. Jesus enfatizou de forma incontestável que as Escrituras do Antigo Testamento testificavam dEle. Embora o Antigo Testamento aborde diversos temas como piedade, fidelidade, progresso e retrocesso do povo de Deus, pecado e julgamento, Jesus, os apóstolos e outros escritores do Novo Testamento destacam que, acima de tudo, o Antigo Testamento é sobre Ele.
Sempre devemos começar pela pergunta sobre como o Antigo Testamento testifica de Cristo, porque apenas Jesus Cristo, aquele que cumpre o Antigo Testamento, define a vida do cristão. Se o Antigo Testamento não apontar para Cristo, também não aponta de forma autêntica e cristã para nós. Um sermão, para ser genuinamente centrado nas pessoas de maneira cristã, deve primeiro ser cristocêntrico. Aprendemos muito com os homens e mulheres do Antigo Testamento, sejam eles bons ou maus, mas na análise final, é Cristo quem define como esses indivíduos foram bons ou maus. Nosso crescimento como cristãos provém de nos tornarmos mais parecidos com Cristo, e não primariamente com Abraão, Davi ou Daniel.
Mark Dever explora essa conexão entre o Antigo e o Novo Testamento de várias maneiras. Uma delas é isolar o tema principal de um livro específico do Antigo Testamento e, em seguida, extrair esses temas por meio de referências diretas no Novo Testamento ou dos mesmos temas teológicos encontrados em Cristo. Isso significa começar com os temas teológicos presentes no Antigo Testamento e avançar para a explicação desses temas através do evangelho de Cristo.
Outro método envolve seguir a direção dada pelas alusões e citações do Antigo Testamento no Novo Testamento. Estima-se que o Novo Testamento faça cerca de 1,6 mil dessas referências. Quase todos os livros do Novo Testamento tornam essas conexões claras, sendo em sua maioria teológicas e não meramente analógicas.
O terceiro método é tipológico. A tipologia se baseia no fato de que Deus revelou a si mesmo e seus propósitos salvadores nas Escrituras em estágios progressivos. O Antigo Testamento era a única Bíblia de Jesus e dos apóstolos, e a igreja, desde o início, o reconheceu como Escritura cristã porque as pessoas do Novo Testamento entenderam que tudo o que Deus disse e fez ao longo da história de Israel preparava o caminho para a vinda do Messias, Jesus Cristo, nosso Senhor. Essa preparação se alcança especificamente pela prefiguração da verdade que seria totalmente revelada em Jesus.
O Novo Testamento nos apresenta o cumprimento das promessas de Deus, enquanto o Antigo Testamento nos conta as promessas que Ele fez. Em outras palavras, se não entendermos o que o Antigo Testamento ensina, nunca entenderemos plenamente a Cristo. Deus não desperdiça palavras, e um Testamento precisa do outro. Se compreendermos a questão que o Antigo Testamento deixou sem resposta, seremos mais capazes de entender a cruz de Cristo, pois a cruz é a resposta.
Ignorar o Antigo Testamento significa deixar de lado a base e o fundamento do Novo. O Antigo Testamento fornece o contexto essencial para a compreensão da pessoa e da obra de Cristo. A obra da criação, a rebelião humana, a morte como consequência do pecado, a eleição de um povo específico, a revelação do pecado pela lei, a história e as obras de seu povo em meio a outros povos – tudo isso forma o cenário para a vinda de Cristo. Ele entra em cena em um ponto específico da história. As parábolas de Jesus frequentemente se referem à história iniciada em Gênesis, suas batalhas verbais com os fariseus se enraízam em diferentes interpretações da Lei, e as epístolas se fundamentam com frequência no Antigo Testamento.
Um aspecto crucial para entender o Antigo Testamento é reconhecer a promessa de esperança que ele contém. O Antigo Testamento revela o compromisso de Deus com a santidade e o fracasso de seu povo em viver de acordo com essa santidade. Também vemos a promessa de punição para o perverso. O “enigma” do Antigo Testamento, apresentado em Êxodo 34:6-7, questiona como Deus pode perdoar a iniquidade, a transgressão e o pecado e ainda não considerar o culpado como inocente. A resposta para esse enigma não se encontra na história do povo de Israel, que provou sua queda moral e espiritual, nem no sistema sacrificial, que era incompleto sem algo mais fundamental.
A esperança do Antigo Testamento reside nas promessas da vinda de uma pessoa especial, o Messias. Havia uma visível expectativa messiânica na época de Jesus, pois o povo esperava o profeta prometido a Moisés, um rei, um servo sofredor e o Filho do Homem conforme a visão de Daniel. Essas promessas apontam para a resposta do enigma do Antigo Testamento e constituem a esperança que ele contém. O Antigo Testamento nos ensina que essas promessas são nossa única esperança.
Cristo é a resposta para esse enigma. O Novo Testamento ensina que Deus planejou enviar Cristo antes da criação do mundo. Apesar da rebelião constante do povo de Deus, o plano do Senhor permaneceu imutável: viria o Libertador ungido, o Messias (hebraico) ou o Cristo (grego). Em Cristo, Deus tem o que desejava de seu povo no Antigo Testamento, algo que eles nunca alcançaram plenamente: um remanescente, uma nação, um povo para louvá-lo e viver em santidade.
Portanto, a principal pergunta sobre o Antigo Testamento é como cada passagem contribui para a grande história da promessa de Deus e seu cumprimento em Jesus Cristo. Abordar o Antigo Testamento com essa lente cristocêntrica não diminui sua riqueza e importância intrínsecas, mas sim revela seu verdadeiro propósito e significado dentro da narrativa bíblica completa. Entender o Antigo Testamento dessa maneira nos leva a um melhor entendimento do Novo Testamento e, consequentemente, de Jesus Cristo, do cristianismo, de Deus e de nós mesmos.