A Conversão de Anthony Ashley-Cooper: O Amigo do Trabalhador
Anthony Ashley-Cooper, o Sétimo Conde, nasceu em 1801, na 24 Grosvenor Square, em Londres. Suas primeiras lembranças são das mais tristes, e seus anos posteriores pareciam estar permeados por essa melancolia que ofuscou sua infância. Mas essas tristezas tiveram um grande papel em impulsioná-lo ao trabalho com o qual seu nome está sempre associado — o cuidado e socorro dos oprimidos.
A memória mais doce de seus primeiros dias estava ligada a Maria Millis, a governanta. Esta mulher incomparável havia sido criada de sua mãe quando sua mãe era menina, e foi promovida à posição de governanta. Ela era devota ao pequeno garoto e, sendo uma verdadeira e fiel seguidora do Senhor Jesus Cristo, muitas vezes colocava a criança em seu colo e contava histórias da Bíblia, especialmente a história d’Aquele que veio para salvar os perdidos, confortar os aflitos, e que disse: “Deixem as crianças virem a Mim” (Mateus 19:14). Ela lhe ensinou uma oração simples que ele sempre usou; mesmo em sua velhice e doença, essas palavras simples vinham aos seus lábios. Foi a essa boa mulher, ele diz, que ele devia o conhecimento salvador do Filho de Deus que veio a ele aos sete anos de idade, e que foi uma alegria e força para ele em todas as dificuldades e provações de sua longa vida.
O jovem Ashley foi enviado para a escola logo após completar sete anos — uma escola que ele sempre lembrava com horror. “O lugar era ruim, perverso, imundo; e o tratamento era de fome e crueldade.” Em casa, também, ele era infeliz, pois naqueles dias os pais governavam pelo medo, não pelo amor, e é evidente em seu diário, quando ele chegou à idade adulta, que seus pais (a mãe em particular) eram quase cruéis. Ele lembrava de noites cansativas de frio amargo e dias de comida insuficiente.
O problema culminante naquela época foi a morte de sua amada amiga, Maria Millis. Ele lamentou profundamente, pois ela era — e não é de se admirar — mais importante para ele do que qualquer outra pessoa. Em seu testamento, ela deixou-lhe seu belo relógio de ouro, e ele nunca usou outro. “Este relógio foi dado a mim pela melhor amiga que já tive,” ele costumava dizer.
O espírito com o qual ele começou sua carreira está registrado em seu diário de 28 de abril de 1829, seu 28º aniversário: “Agora, deixe-me considerar minha futura carreira. O primeiro princípio, a honra de Deus; o segundo, a felicidade do homem; os meios, oração e diligência incansável; todo amor mesquinho pela excelência deve ser deixado de lado, o assunto deve ser estudado, os motivos refinados, e o melhor deve ser feito pelo resto do tempo.” A isso ele se manteve firme por toda a sua vida.
Sua própria felicidade não o tornou insensível em relação àqueles menos afortunados. A memória de sua infância triste e negligenciada o instigou a ajudar em qualquer trabalho que pudesse aliviar o sofrimento dos outros. Ele era conhecido como o Amigo do Trabalhador, mas especialmente era o amigo das crianças.
Não apenas adultos e crianças infelizes recebiam sua atenção, mas os burros dos vendedores de rua, mal alimentados e maltratados, também atraíam seu olhar. Ele comprou um belo carrinho de vendedor ambulante, se autodenominou “K.G. e Vendedor de Rua,” e alugava o carrinho até que o vendedor pudesse comprar um para si mesmo. Ele ganhou tanto a estima deles que, em uma reunião anual de vendedores de rua, sua senhoria foi surpreendida ao ver um burro lustroso, que os vendedores tinham comprado em conjunto, ser levado à frente e apresentado a ele. Seria difícil dizer quem estava mais contente, o K.G. Vendedor de Rua ou os Vendedores de Rua Elegantes.