Mt 6:34 – Cronos e Kairós: em que a Mitologia Grega pode nos ensinar?
Palavra:
“Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal.” – Mateus 6:34
Os gregos antigos entendiam a importância do tempo, vendo-o como algo sob a influência de dois deuses mitológicos: Cronos e Kairós – personagens que são desconhecidos pela maioria dos cristãos, mas que carregam uma história curiosa que nos leva a ponderar sobre a questão.
Cronos, um titã da primeira geração de seres divinos (cf. mitologia grega) e filho de Urano (representando o céu) e Gaia (simbolizando a terra), encarnava o tempo mensurável. Esse conceito de tempo (mensurável) é o mesmo que nos faz recorrer a instrumentos de medição como relógios e agendas para manter o controle das horas.
Conta-se que, certa feita, Cronos recebeu uma previsão de que seria destronado por um membro da sua própria família. Assustado com essa possibilidade, ele se apoderou do reino do seu pai e, como medida preventiva, exterminou cinco de seus seis filhos recém-nascidos – com Zeus sendo o único sobrevivente, que fora escondido e protegido por sua mãe.
Com o tempo, Zeus se tornou poderoso e decidiu vingar seus irmãos, oferecendo uma poção a Cronos que o levou a regurgitar e libertar todos os filhos que havia devorado. Assim, com a ajuda de seus irmãos, Zeus venceu Cronos em um grande confronto e tornou-se o líder supremo dos titãs gregos.
Após a vitória épica e mitológica, conta-se que a linhagem de Zeus continuou com seu filho, Kairós, que simboliza o “tempo certo”. Mas é bom ressaltar que, ao contrário do avô, Cronos, Kairós não tinha intenção de governar o mundo. Geralmente é retratado como um adolescente, refletindo a energia e a audácia dos jovens que tomam decisões e agem de forma impulsiva.
Kairós simboliza a experiência do tempo no presente, as chances que são melhor aproveitadas no “aqui e agora” – o “carpe diem” dos romanos. É a fruição de uma sobremesa saborosa, a admiração de uma paisagem estonteante, a apreciação do som da chuva ou a celebração de um triunfo pessoal com total consciência.
Em contrapartida a Cronos, que enfatiza o lado quantitativo do tempo, Kairós se refere ao aspecto qualitativo do tempo, aquele que nos abre para as oportunidades.
Em resumo, Cronos representa o tempo que nos limita e impede de viver plenamente. Por isso, é importante superar essa sensação de urgência constante para abraçar a essência de Kairós – o tempo oportuno e adequado. Isso nos permite vivenciar a espiritualidade em todos os aspectos da nossa existência, sem atrasos ou pressões.
Devocional.
Através destas figuras mitológicas de Cronos e Kairós, podemos discernir duas percepções distintas do tempo, ambas essenciais para a nossa existência.
Cronos, como a representação do tempo mensurável, simboliza nossa batalha diária com o passar das horas, dias, meses e anos. Ele é o ritmo constante e inexorável que nos impulsiona para frente, por vezes causando ansiedade e opressão. Além disso, Cronos também representa a antecipação do futuro e o medo da perda, como demonstrado em sua tentativa de evitar ser destronado matando seus próprios filhos. No entanto, tal ação é em vão, pois não podemos controlar o tempo nem alterar o que está destinado a acontecer.
Por outro lado, Kairós, conhecido como o “tempo certo”, representa aqueles momentos preciosos em que o tempo parece parar e a vida é vivida plenamente no presente. É a experiência de estar totalmente imerso em um momento de alegria, gratidão ou realização. Kairós nos lembra da importância de desacelerar, estar presente e apreciar a beleza e singularidade de cada momento. É o tempo vivido não em quantidade, mas em qualidade.
No mundo moderno, frequentemente nos encontramos aprisionados ao tempo cronos, medindo nossas vidas em dias de trabalho, prazos e listas de tarefas. No entanto, a história nos convida a abraçar o tempo kairós, a buscar oportunidades para vivenciar o tempo de forma mais profunda e significativa. É um convite para viver o “carpe diem” dos romanos, aproveitar o dia e experimentar a plenitude da vida no momento presente.
Em resumo, é importante lembrarmos que o tempo não é apenas um conceito abstrato, mas uma força vital que molda nossas vidas. Devemos encontrar um equilíbrio entre o tempo cronos – necessário para a organização e produtividade – e o tempo kairós, que nos permite verdadeiramente apreciar a vida. Esse equilíbrio é essencial para uma existência plena e gratificante.
Por Diego Gonçalves.
Artigo inspirado nos encontros 1/5 dos Encorajadores com Evandro Correa e Ricardo Bitun.
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