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Ano 663 d.C.: Sínodo de Whitby

O Sínodo de Whitby, realizado em 664 d.C., foi um evento decisivo na história da igreja cristã na Inglaterra. Este concílio eclesiástico, convocado para resolver diferenças entre as tradições cristãs celta e romana, marcou a consolidação da autoridade romana sobre a igreja inglesa. Enquanto reconhecemos a importância histórica deste evento, devemos avaliar criticamente a ênfase na autoridade papal e a submissão às tradições humanas em detrimento da suficiência das Escrituras.


O Contexto: Divergências Entre o Cristianismo Celta e Romano

No século VII, a Inglaterra era uma terra dividida entre diferentes tradições cristãs. No norte, o cristianismo celta, introduzido por missionários como Columba de Iona, florescia em mosteiros como Lindisfarne. No sul, o cristianismo romano, trazido pela missão de Agostinho de Cantuária enviada por Gregório, o Grande, ganhava força sob a influência de líderes como Wilfrido de York.

Embora ambas as tradições compartilhassem a mesma fé essencial, havia diferenças significativas em práticas litúrgicas e disciplina eclesiástica. As principais questões incluíam:

Cálculo da Páscoa:
A data da celebração da Páscoa era um ponto de discórdia. O cristianismo celta seguia um método antigo baseado em cálculos próprios, enquanto o cristianismo romano adotava o sistema aprovado no Concílio de Niceia (325 d.C.). Sob a ótica protestante, enquanto a harmonização prática é importante, decisões sobre datas litúrgicas não deveriam ser elevadas ao nível de questões teológicas centrais, pois isso pode obscurecer a simplicidade do evangelho (Colossenses 2:16-17).

Tonsura Clerical:
A forma de tonsura (raspagem do cabelo) dos monges diferia entre as duas tradições. Os monges celtas raspavam a parte frontal da cabeça, enquanto os romanos raspavam o topo, deixando um anel de cabelo. Essas diferenças culturais são secundárias e não têm impacto direto sobre a fé ou a salvação. Sob a perspectiva reformada, tais questões não deveriam ser motivo de divisão ou disputa, pois o evangelho transcende práticas externas (1 Coríntios 1:10-13).

Autoridade Eclesiástica:
A principal questão subjacente era a autoridade. O cristianismo romano enfatizava a primazia do papa e a unidade da igreja sob Roma, enquanto o cristianismo celta mantinha maior independência e autonomia. A ideia de que a autoridade espiritual repousa exclusivamente no papa como sucessor de Pedro, porém, carece de fundamento bíblico claro. A verdadeira unidade da igreja deve ser baseada na Palavra de Deus e na pessoa de Cristo, que é a única cabeça da igreja (Efésios 1:22; Mateus 23:8-10).

Essas divergências criaram tensões, especialmente à medida que os dois ramos do cristianismo se expandiam e entravam em contato mais frequente. Para resolver essas questões, o rei Oswiu de Northumbria convocou um sínodo em Whitby, um mosteiro no norte da Inglaterra liderado pela abadessa Hilda.


O Sínodo: Debate e Decisão

O Sínodo de Whitby reuniu representantes das duas tradições. O debate girou em torno da questão central: qual tradição deveria prevalecer na igreja inglesa? Os principais argumentos incluíam:

Defesa Celta:
Os defensores da tradição celta, liderados pelo bispo Colman de Lindisfarne, argumentavam que suas práticas eram mais antigas e preservavam a pureza da fé transmitida pelos primeiros missionários irlandeses. Essa defesa da tradição celta refletia um valor saudável por raízes históricas e autonomia local, mas também destacava a necessidade de ancorar todas as práticas na autoridade das Escrituras.

Defesa Romana:
Os defensores da tradição romana, liderados por Wilfrido de York, no entanto, enfatizavam a importância da unidade com a igreja universal e a autoridade do papa como sucessor de Pedro. Eles argumentavam que seguir Roma garantiria harmonia com o restante do cristianismo ocidental. Contudo, por mais que a unidade seja valiosa, ela não deve ser alcançada à custa da fidelidade às Escrituras ou da centralidade de Cristo. A ideia de que Pedro detém as “chaves do céu” de maneira exclusiva é interpretada de forma excessiva e não encontra suporte explícito nas Escrituras (Mateus 16:19; Apocalipse 3:7).

Após ouvir ambos os lados, o rei Oswiu decidiu em favor da tradição romana. Ele declarou que, como Pedro detinha as chaves do céu, conforme mencionado nas Escrituras (Mateus 16:18-19), era prudente alinhar-se à prática romana. Essa decisão marcou a adoção oficial do calendário romano para a Páscoa e outras práticas litúrgicas na igreja inglesa. Esta decisão reflete a crescente centralização de poder em Roma, que posteriormente levou a desvios doutrinários e práticas não bíblicas.


Por Que Isso Importa?

O Sínodo de Whitby tem implicações profundas para a teologia, a história e a prática cristã:

Teologicamente:
A decisão de Whitby reforçou a importância da unidade da igreja, mas também pavimentou o caminho para uma ênfase excessiva na autoridade papal. A verdadeira unidade deve ser baseada na Palavra de Deus, e não na submissão a figuras humanas ou tradições institucionais (Efésios 4:4-6).

Historicamente:
O sínodo marcou o início do declínio do cristianismo celta como força independente na Inglaterra. Mosteiros celtas, como Lindisfarne, gradualmente adotaram práticas romanas, integrando-se à tradição ocidental. Enquanto isso promoveu certa uniformidade, também contribuiu para a perda de diversidade cultural e prática que poderia ter enriquecido a igreja.

Espiritualmente:
A decisão de Whitby demonstra como líderes cristãos podem buscar soluções pacíficas para disputas doutrinárias e práticas. No entanto, devemos sempre priorizar a fidelidade às Escrituras sobre a conformidade com tradições humanas (Marcos 7:8-9).


Aplicação para Hoje

Para os cristãos modernos, o Sínodo de Whitby oferece lições importantes, mas também alertas sobre os perigos de centralizar autoridade e priorizar tradições sobre a Palavra de Deus:

Unidade na Diversidade:
Whitby nos lembra da importância de buscar unidade sem sacrificar a diversidade cultural e litúrgica. Somos chamados a valorizar nossas tradições locais enquanto permanecemos em comunhão com a igreja global, fundamentados na Palavra de Deus (Romanos 15:5-6).

Submissão à Autoridade:
A decisão de Oswiu reflete a sabedoria de resolver conflitos de maneira ordenada. No entanto, sob a ótica protestante, toda autoridade humana deve ser subordinada às Escrituras. Devemos buscar resoluções que promovam a verdade bíblica e não comprometam o evangelho (Atos 5:29).

Compromisso com a Missão:
A escolha de adotar práticas romanas facilitou a evangelização da Inglaterra ao alinhar a igreja local com o cristianismo ocidental. Somos chamados a considerar como nossas práticas e decisões podem impactar positivamente nossa missão no mundo. No entanto, essa missão deve sempre ser guiada pela clareza do evangelho e não por convenções culturais ou políticas (1 Coríntios 9:19-23).

Finalmente, o Sínodo de Whitby nos desafia a refletir sobre como podemos equilibrar tradição e unidade em nossas vidas e comunidades.


A seguir: Bonifácio inicia missão aos alemães

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