A Confissão de Fé de Schleitheim , redigida em 24 de fevereiro de 1527, foi o primeiro documento oficial do movimento anabatista e um marco na história da Reforma Radical. Este breve credo estabeleceu os princípios teológicos e práticos que definiram a identidade dos anabatistas, enfatizando uma vida cristã baseada no Novo Testamento, separação do mundo e compromisso com o discipulado radical. Apesar de sua simplicidade, a Confissão de Schleitheim tornou-se um manifesto duradouro para comunidades anabatistas e continua a influenciar tradições cristãs até hoje.
O Contexto: A Necessidade de Clareza Doutrinária
Nos primeiros anos do movimento anabatista (1525–1527), surgiram diversas interpretações sobre como viver a fé cristã de maneira fiel às Escrituras. Enquanto alguns grupos defendiam práticas pacíficas e separatistas, outros adotavam abordagens mais radicais, como a violência ou a partilha comunal de bens. Essa diversidade levou à necessidade de uma declaração clara de princípios que unificasse os anabatistas moderados e distinguisse suas crenças das práticas controversas de outros grupos.
Em fevereiro de 1527, um grupo de líderes anabatistas reuniu-se na pequena vila de Schleitheim, localizada na atual Suíça. Sob a liderança de Michael Sattler, um ex-monge beneditino convertido ao anabatismo, eles elaboraram a Confissão de Fé de Schleitheim . Este documento consistia em sete artigos fundamentais que definiam as crenças e práticas essenciais da igreja anabatista.
Os Sete Artigos: Princípios Fundamentais
A Confissão de Schleitheim articulou os seguintes princípios:
- Batismo de Crentes:
O batismo é reservado apenas para adultos que confessam sua fé em Cristo e demonstram disposição para seguir Seus ensinamentos. Ele simboliza o compromisso pessoal com o discipulado cristão. - A Banção (Disciplina da Igreja):
A igreja deve exercer disciplina espiritual para manter sua pureza. Membros que persistirem em pecado após advertências devem ser excluídos da comunhão até seu arrependimento. - Ceia do Senhor:
A Ceia é celebrada apenas por crentes batizados, simbolizando a união dos discípulos com Cristo e uns com os outros. Ela é um memorial da morte de Cristo, não um sacrifício. - Separação do Mal:
Os cristãos devem se separar do mundo e de práticas contrárias às Escrituras. Isso inclui evitar juramentos, cargos públicos e envolvimento em guerras. - Pastores da Igreja:
A igreja deve ser liderada por pastores que preguem a Palavra, administrem os sacramentos e cuidem do rebanho. Eles devem ser exemplos de humildade e serviço. - Não Resistência ao Mal:
Os cristãos devem praticar a não violência, seguindo o exemplo de Cristo. Eles não devem participar de guerras ou usar a força para resolver conflitos. - Juramentos:
Os cristãos não devem fazer juramentos, pois sua palavra deve ser sempre verdadeira. Esta prática reflete o ensino de Jesus no Sermão do Monte.
A Confissão de Schleitheim foi redigida com linguagem simples e direta, acessível aos leigos, e enfatizava a aplicação prática das Escrituras na vida cotidiana.
Por Que Isso Importa?
A Confissão de Schleitheim tem implicações profundas para a teologia, a história e a prática cristã:
- Teologicamente:
O documento reafirmou princípios bíblicos fundamentais, como o batismo de crentes, a não violência e a separação do mundo. Ele destacou a importância de viver uma fé coerente com o ensino de Cristo. - Historicamente:
A Confissão de Schleitheim consolidou a identidade do movimento anabatista, distinguindo-o tanto da igreja católica quanto dos reformadores magistrais. Ela também serviu como base para futuros credos anabatistas e menonitas. - Espiritualmente:
O exemplo dos anabatistas nos desafia a buscar uma vida de integridade, simplicidade e compromisso com o evangelho. Somos chamados a viver como discípulos fiéis, mesmo diante de perseguição.
Aplicação para Hoje
Para os cristãos modernos, a Confissão de Schleitheim oferece lições importantes:
- Compromisso com o Discipulado Radical:
Os princípios da confissão nos lembram de que seguir a Cristo exige uma entrega total, manifesta em nossas escolhas diárias e no nosso testemunho público. - Paz e Não Violência:
A rejeição à violência e ao uso da força nos desafia a buscar soluções pacíficas para os conflitos e a promover reconciliação em nossa sociedade. - Igreja como Comunidade de Discípulos:
A visão anabatista da igreja como uma comunidade pura e comprometida nos inspira a priorizar relacionamentos autênticos, apoio mútuo e fidelidade às Escrituras.
Finalmente, a Confissão de Schleitheim nos convida a refletir sobre o custo do discipulado e a importância de permanecermos fiéis aos ensinamentos de Cristo. Seu legado de coragem, simplicidade e compromisso com a verdade continua a inspirar cristãos a buscarem uma fé transformadora e relevante.
A seguir: 1529 Colóquio de Marburg