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Ano 451 d.C.: O Concílio de Calcedônia

O Concílio de Calcedônia, convocado em 451 d.C., foi o quarto concílio ecumênico da história do cristianismo e um marco decisivo na formulação da doutrina cristológica. Este evento reuniu bispos de todo o império para resolver controvérsias sobre a natureza de Cristo, especialmente em resposta ao monofisismo, que afirmava que Cristo possuía apenas uma natureza (divina) após a encarnação. O concílio definiu oficialmente que Jesus Cristo é plenamente Deus e plenamente homem, com duas naturezas unidas em uma única pessoa sem confusão, mudança, divisão ou separação. Essa declaração teológica consolidou a ortodoxia cristã e moldou profundamente a teologia das igrejas orientais e ocidentais.


O Contexto: A Controvérsia Monofisista

Após o Concílio de Éfeso (431 d.C.), surgiram novas tensões doutrinárias sobre a natureza de Cristo. O monofisismo, liderado por figuras como Eutiques, ensinava que as naturezas divina e humana de Cristo haviam se fundido em uma única natureza após a encarnação. Esse ensino negava a distinção entre as naturezas divina e humana, comprometendo a integridade tanto da humanidade quanto da divindade de Cristo.

Essa posição gerou intensos debates dentro da igreja. Muitos líderes cristãos, incluindo Leão, o Grande, bispo de Roma, viram no monofisismo uma ameaça à doutrina da encarnação e à redenção. Para eles, era essencial afirmar que Cristo possui duas naturezas—divina e humana—unidas em uma só pessoa. Esta formulação garantiria que Cristo pudesse ser verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, capaz de realizar a salvação completa da humanidade.

O imperador Marciano convocou o concílio em Calcedônia, uma cidade próxima a Constantinopla, para resolver definitivamente a questão.


O Concílio: Debates e Decisões

O Concílio de Calcedônia reuniu cerca de 520 bispos, representando tanto o Oriente quanto o Ocidente. Os principais resultados incluem:

  1. Definição de Fé de Calcedônia:
    O concílio formulou a Definição de Fé de Calcedônia , declarando que Jesus Cristo é “reconhecido em duas naturezas, sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação; a diferença das naturezas de modo algum sendo removida por causa da união, mas sim a propriedade de cada natureza sendo preservada.” Esta declaração refutava tanto o nestorianismo (que separava excessivamente as naturezas de Cristo) quanto o monofisismo (que as fundia em uma só).
  2. Condenação do Monofisismo:
    O concílio condenou explicitamente o monofisismo e seus defensores, incluindo Eutiques. Ele reafirmou as decisões dos concílios anteriores, especialmente o Concílio de Éfeso e o Tomo de Leão , como expressões ortodoxas da fé cristã.
  3. Reafirmação da Autoridade Papal:
    O concílio reconheceu a autoridade do bispo de Roma, especialmente através da aceitação do Tomo de Leão como base teológica para a decisão final. Isso fortaleceu ainda mais a primazia papal no Ocidente.
  4. Organização Eclesiástica:
    O concílio confirmou a estrutura pentárquica da igreja, reconhecendo as cinco grandes sedes episcopais—Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém—como centros de autoridade espiritual. No entanto, essa decisão também plantou as sementes para futuras tensões entre as igrejas do Oriente e do Ocidente.

Por Que Isso Importa?

O Concílio de Calcedônia tem implicações profundas para a teologia, a história e a prática cristã:

  1. Teologicamente:
    O concílio solidificou a doutrina cristológica, garantindo que a igreja mantivesse uma compreensão equilibrada da pessoa de Cristo. A afirmação de duas naturezas unidas em uma só pessoa tornou-se a pedra angular da ortodoxia cristã.
  2. Historicamente:
    O concílio exacerbou tensões entre as igrejas do Oriente e do Ocidente, especialmente entre aqueles que aceitaram suas decisões e os grupos monofisitas, que rejeitaram o veredicto. Essas divisões contribuíram para o Grande Cisma de 1054 e continuam a influenciar as relações entre as igrejas até hoje.
  3. Pastoralmente:
    A definição dogmática alcançada no concílio fortaleceu a confiança dos crentes na ortodoxia cristã. Ela também serviu como base para a pregação, o ensino e a adoração centrados na pessoa e obra de Cristo.

Aplicação para Hoje

Para os cristãos modernos, o Concílio de Calcedônia oferece lições importantes:

  1. Defesa da Ortodoxia:
    O concílio nos lembra da importância de defender verdades centrais da fé contra falsos ensinos. Devemos estar preparados para articular e proteger a doutrina da encarnação, que está no coração do cristianismo.
  2. Unidade e Clareza Doutrinária:
    A colaboração entre bispos de diferentes regiões para formular declarações claras demonstra o valor da unidade na igreja. Somos chamados a buscar a verdade sem perder de vista a comunhão com outros crentes.
  3. Centralidade de Cristo:
    A definição de Calcedônia nos desafia a focar nossa adoração e ministério na pessoa de Cristo, que é ao mesmo tempo plenamente Deus e plenamente homem. Ele é o único mediador entre Deus e a humanidade.

Finalmente, o Concílio de Calcedônia nos desafia a valorizar a herança teológica da igreja primitiva. Ele nos lembra que a fé cristã é baseada em verdades objetivas reveladas por Deus, e que essas verdades são dignas de defesa e celebração.


A seguir: Dionísio, o Pseudo-Areopagita, escreve

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