O pecado impede o acesso a Deus de múltiplas maneiras, como claramente demonstrado ao longo do Antigo Testamento. A própria natureza de Deus, sua santidade e justiça, contrastam diretamente com a essência do pecado, criando uma barreira intransponível para a comunhão entre um Deus perfeito e uma humanidade pecadora.
Primeiramente, o pecado é uma transgressão da lei de Deus, uma quebra da aliança estabelecida com seu povo. Deus é santo, e sua lei reflete esse caráter santo. O pecado, por sua vez, é tudo aquilo que não se assemelha a Deus, pois Nele não há o menor vestígio de pecado. Essa disparidade fundamental causa um problema enorme no relacionamento entre o ser humano e o Senhor, separando-nos de nosso Criador. Como o salmista declara: “Contra ti, contra ti somente pequei” (Sl 51.4). Essa afirmação ressalta que, em última instância, todo pecado é uma afronta pessoal a Deus.
A planta do Templo do Antigo Testamento servia como uma representação visual dessa separação causada pelo pecado. O Templo era estruturado em uma série de quadrados e retângulos concêntricos, com o Santo dos Santos, a morada da presença de Deus, no quadrado mais recôndito. Os adoradores permaneciam separados do Senhor, e essa disposição física ilustrava como o pecado impedia o acesso direto a Deus. Afora os sacrifícios contínuos no pátio exterior, apenas o sumo sacerdote podia entrar no Santo dos Santos uma vez por ano, no Dia da Expiação, para oferecer sacrifício pelos pecados de todo o povo. Mesmo para o mais santo dos homens na terra, Arão, o Senhor advertiu que não poderia entrar no santuário a qualquer momento, sob pena de morte, reforçando a seriedade de se aproximar de um Deus santo com pecado. Adorar esse Deus é uma coisa séria, pois Ele não está à nossa disposição, e nós não somos pessoas dignas por nós mesmas de sua presença.
Além da representação espacial, o Antigo Testamento estabelece distinções entre o “santo” e o “profano”, o “limpo” e o “imundo”. Inicialmente, tudo é considerado “profano”, e a santificação ocorre quando algo limpo é separado para um círculo menor chamado “santo”. O pecado, por sua natureza impura, impede o contato com o que é santo. As coisas imundas não podiam tocar as santas, e a lei previa graves consequências para aqueles que o fizessem. Essa separação ritualística apontava para a incompatibilidade entre a pureza de Deus e a impureza do pecado. Nossos pecados corrompem até mesmo as coisas que tocamos.
Os sacrifícios do Antigo Testamento eram um meio ordenado por Deus para buscar a expiação e a reconciliação. Expiação significa tornar as duas partes “uma só mente”, reconciliando o que estava afastado. No entanto, esses sacrifícios não eram eficazes em si mesmos, mas apenas pela graça de Deus. Eles eram oferecidos porque o pecado era considerado algo tão sério que apenas a morte podia expiá-lo. O Dia da Expiação, com o sumo sacerdote oferecendo sacrifício pelos pecados de toda a nação, ilustrava a necessidade de reparação, mas também apontava para a ineficácia final desses rituais em remover permanentemente a barreira do pecado. O “enigma” do Antigo Testamento era como Deus poderia perdoar a iniquidade, a transgressão e o pecado, mantendo sua justiça. Êxodo não responde totalmente a essa pergunta, sendo necessário olhar além para encontrar a resolução.
O pecado, em sua essência, é amar o que não é Deus como se fosse Ele. A idolatria, a adoração de outros deuses ou ídolos, é uma afronta pessoal a Deus, uma forma de infidelidade e adultério espiritual. Ao pecar, servimos a ídolos, a algo que não é o Senhor, demonstrando uma preferência por essas coisas em detrimento de Deus. Essa escolha pessoal de se afastar do único Deus verdadeiro e se voltar para outros deuses ou ídolos é uma das principais maneiras pelas quais o pecado nos afasta da comunhão com Ele.
A desobediência aos mandamentos de Deus é também fundamentalmente uma falta de crença no Senhor. Quando pecamos, seja qual for a especificidade do ato, estamos, em essência, dizendo a Deus: “Eu não gosto do Senhor. Antes, eu prefiro essas coisas ao Senhor. Elas me dão o que eu quero”. Essa descrença e rejeição da vontade divina impedem o relacionamento íntimo com um Deus que deseja ser adorado de uma forma totalmente consistente com seu caráter.
Apesar da aparente severidade do Deus do Antigo Testamento, suas expressões de ira não são caprichos tirânicos, mas sim demonstrações de seu compromisso com seu caráter santo e sua oposição implacável ao pecado. Sua ira mostra que Ele não é indiferente ao pecado e sente raiva pela destruição de sua criação. O pecado separa seu povo de Deus e evidencia a necessidade de reconciliação, uma iniciativa que deve partir do próprio Senhor.
Em suma, o pecado ergue uma barreira entre a humanidade e Deus devido à santidade inerente de Deus e à natureza corrupta do pecado. Essa separação era visualmente representada no Templo, ritualmente abordada pelos sacrifícios e fundamentalmente enraizada na desobediência, incredulidade e na escolha de amar ídolos em vez do Deus verdadeiro. O Antigo Testamento, ao expor a profundidade do problema do pecado e sua capacidade de impedir o acesso a Deus, aponta para a necessidade de uma solução definitiva, que é encontrada em Jesus Cristo, o sacrifício perfeito que restaura a comunhão rompida pelo pecado. Ele é o caminho pelo qual os pecadores podem novamente se aproximar de um Deus santo.