Unidade: A Unidade Restaurada: Judeus e Gentios Unidos em um Novo Corpo em Cristo
1. Ideia central: Através da obra redentora de Cristo na cruz, a antiga inimizade e separação entre judeus e gentios foram abolidas, criando uma nova humanidade unida em um só corpo, a Igreja, com acesso igual ao Pai pelo Espírito Santo.
2. Principais temas:
- A antiga separação e alienação dos gentios.
- A proximidade trazida pela obra de Cristo.
- Cristo como a nossa paz, quebrando a barreira da separação.
- A abolição da Lei como um sistema de separação.
- A criação de uma nova humanidade em Cristo.
- A reconciliação com Deus através da cruz.
- A edificação conjunta em um templo santo, morada de Deus no Espírito.
- O acesso igual ao Pai em um só Espírito.
3. Perguntas de fixação/reflexão:
- Qual era a condição dos gentios “noutrora” em relação à comunidade de Israel e às alianças da promessa?
- O que significava para os gentios serem considerados “estrangeiros” e “sem esperança” e “sem Deus no mundo”?
- Como a obra de Cristo mudou radicalmente essa situação para os gentios? O que significa estar “perto” agora?
- Quem é a nossa paz, de acordo com o versículo 14? Como Cristo realizou essa paz?
- O que era o “muro de separação” entre judeus e gentios? Como Cristo o derrubou?
- De que maneira Cristo aboliu a Lei dos mandamentos na forma de ordenanças? Qual o propósito dessa abolição?
- Qual era o objetivo de Cristo ao criar “em si mesmo, dos dois, um novo homem”?
- Como Cristo reconciliou ambos os grupos com Deus em um só corpo, por meio da cruz? O que a cruz realizou em relação à inimizade?
- O que Cristo veio anunciar, tanto aos que estavam longe quanto aos que estavam perto?
- Através de quem temos acesso ao Pai? Em que unidade esse acesso ocorre?
- Qual é a nova identidade dos gentios em Cristo? Eles ainda são estrangeiros e peregrinos?
- O que significa ser “concidadãos dos santos e membros da família de Deus”?
- Sobre qual fundamento a Igreja está sendo edificada? Quem são os “apóstolos e profetas”?
- Quem é a pedra angular dessa edificação? Qual a sua importância para toda a estrutura?
- Como todo o edifício, ajustado, cresce para se tornar um templo santo no Senhor?
- Em quem também nós estamos sendo edificados juntamente? Qual o propósito dessa edificação?
- O que significa ser “habitação de Deus no Espírito”? Qual a implicação dessa presença divina?
- Como essa passagem desafia as divisões e preconceitos que ainda existem hoje entre diferentes grupos de pessoas?
- De que maneira a reconciliação entre judeus e gentios em Cristo serve como modelo para outras formas de reconciliação?
- Qual o papel dos crentes hoje em manifestar essa unidade e reconciliação que Cristo conquistou?
- Como a compreensão dessa unidade em Cristo impacta a nossa identidade e o nosso relacionamento com outros crentes?
- De que forma essa passagem nos encoraja a abandonar qualquer forma de exclusão ou discriminação dentro da comunidade cristã?
4. Para entender o texto:
a. Texto em contexto:
Esta unidade (Efésios 2:11-22) continua o argumento de Paulo sobre a obra redentora de Cristo e suas implicações para a formação da Igreja. Após descrever a salvação individual pela graça mediante a fé (2:1-10), Paulo agora expande o escopo para mostrar como essa mesma graça uniu dois grupos historicamente separados e hostis: judeus e gentios. No contexto da carta aos Efésios, este trecho serve para enfatizar a natureza inclusiva do evangelho e o propósito de Deus de criar uma nova comunidade em Cristo, onde as antigas divisões são superadas. A estratégia retórica de Paulo aqui é contrastar o estado anterior de separação dos gentios com a nova realidade de união e proximidade em Cristo, demonstrando o poder transformador do evangelho e a sabedoria multifacetada de Deus revelada na Igreja (Efésios 3:10). Esta unidade contribui para o propósito geral do livro, que é revelar o mistério da união de judeus e gentios no corpo de Cristo e exortar os crentes a viverem de acordo com essa nova identidade e unidade.
b. Esboço/estrutura:
- Versículos 11-12: A Antiga Condição dos Gentios: Alienação e Separação.
- Lembrança do passado como gentios na carne.
- Chamados de “incircuncisão” pelos que eram chamados “circuncisão”.
- Separados de Cristo, excluídos da comunidade de Israel, estranhos às alianças da promessa.
- Sem esperança e sem Deus no mundo.
- Versículos 13-18: A Obra de Cristo: Proximidade, Paz e Reconciliação.
- Aproximados pelo sangue de Cristo.
- Cristo como a nossa paz, quebrando o muro de separação (a lei).
- Abolição da lei dos mandamentos na forma de ordenanças.
- Criação de uma nova humanidade em si mesmo.
- Reconciliação de ambos com Deus em um só corpo pela cruz.
- Anúncio da paz aos que estavam longe e aos que estavam perto.
- Acesso ao Pai em um só Espírito.
- Versículos 19-22: A Nova Realidade em Cristo: Unidade e Edificação.
- Não mais estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus.
- Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo Cristo a pedra angular.
- Crescimento do edifício para ser um templo santo no Senhor.
- Edificação conjunta para ser habitação de Deus no Espírito.
c. Antecedentes históricos e culturais:
A profunda divisão entre judeus e gentios era uma realidade marcante no mundo do primeiro século. Os judeus se consideravam o povo escolhido de Deus, possuidores da Lei e das promessas divinas, enquanto viam os gentios como impuros e afastados de Deus. Essa separação era mantida por diversas práticas e tradições, incluindo as leis alimentares, a circuncisão e a proibição de contato social próximo. O templo em Jerusalém possuía um pátio dos gentios, além do qual eles não podiam prosseguir sob pena de morte, simbolizando essa barreira. A mensagem do evangelho, que proclamava a salvação tanto para judeus quanto para gentios através da fé em Cristo, representava uma quebra radical dessas barreiras históricas e culturais. A formação da Igreja primitiva, composta por ambos os grupos, era um testemunho poderoso da obra reconciliadora de Cristo.
d. Considerações interpretativas:
A expressão “noutrora” enfatiza a mudança radical operada pela obra de Cristo na vida dos gentios. Estar “separados de Cristo” significava não ter parte na sua vida e nas suas promessas. Ser “excluídos da comunidade de Israel” indicava a ausência de participação no povo da aliança de Deus. Ser “estranhos às alianças da promessa” significava não ter acesso às promessas divinas feitas a Israel. Estar “sem esperança e sem Deus no mundo” descreve a condição desesperadora e de alienação espiritual dos gentios antes de Cristo. A frase “mas agora, em Cristo Jesus” marca o ponto de virada, onde a proximidade com Deus e com o povo da aliança se torna possível através do sangue de Cristo, que simboliza o seu sacrifício redentor.
Cristo é descrito como a nossa “paz”, pois ele trouxe reconciliação entre Deus e a humanidade e também entre judeus e gentios. O “muro de separação” refere-se primariamente à Lei mosaica, com suas ordenanças e distinções que separavam judeus de gentios. Ao abolir essa lei “na sua carne”, através da sua morte na cruz, Cristo removeu o obstáculo que impedia a união dos dois grupos. O objetivo era criar “em si mesmo, dos dois, um novo homem”, referindo-se à Igreja, um novo corpo composto por judeus e gentios unidos em Cristo. Essa nova humanidade é reconciliada com Deus “em um só corpo, por meio da cruz”, onde a inimizade é destruída. Cristo anunciou a “paz” tanto aos judeus (“os que estavam perto”) quanto aos gentios (“os que estavam1 longe”), oferecendo a ambos a reconciliação com Deus. Através de Cristo, temos “acesso ao Pai em um só Espírito”, indicando a unidade e a igualdade de acesso para todos os crentes.
Os gentios, que antes eram estrangeiros, agora são “concidadãos dos santos e membros da família de Deus”, compartilhando os mesmos privilégios e responsabilidades com os crentes judeus. A Igreja é edificada sobre o “fundamento dos apóstolos e profetas”, que lançaram as bases da doutrina cristã, sendo o próprio Cristo Jesus a “pedra angular”, que une e sustenta toda a estrutura. Todo o edifício, “ajustado”, cresce para se tornar um “templo santo no Senhor”, uma morada espiritual para Deus. Os crentes, tanto judeus quanto gentios, são edificados juntamente para serem essa “habitação de Deus no Espírito”, onde a presença divina reside na unidade da comunidade cristã.
e. Considerações teológicas:
Esta passagem aborda centralmente a doutrina da reconciliação, tanto horizontal (entre pessoas) quanto vertical (entre Deus e a humanidade). Ela enfatiza a universalidade do evangelho, quebrando as barreiras étnicas e culturais. A obra de Cristo na cruz é apresentada como o meio eficaz para realizar essa reconciliação, abolindo a antiga aliança como um sistema de separação e estabelecendo uma nova aliança baseada na fé. A doutrina da Igreja como o corpo de Cristo, composto por judeus e gentios unidos, é fundamental aqui. A Igreja é vista como uma nova criação, um templo espiritual onde Deus habita pelo seu Espírito. A igualdade de acesso ao Pai para todos os crentes, independentemente de sua origem étnica ou cultural, é um princípio teológico crucial ensinado nesta passagem. Ela também destaca a importância da unidade cristã como um testemunho do poder transformador do evangelho.
5. Para ensinar o texto:
A mensagem central desta passagem é a gloriosa realidade da reconciliação que Cristo realizou entre grupos historicamente separados e hostis. A divisão entre judeus e gentios, que por séculos marcou a história da humanidade, foi radicalmente superada pela obra redentora de Jesus Cristo. Aqueles que antes estavam distantes, excluídos e sem esperança, foram trazidos para perto pelo sangue de Cristo. Ele é a nossa paz, pois derrubou o muro de separação que nos dividia, abolindo em sua própria carne a lei que era fonte de inimizade.
O propósito de Cristo ao fazer isso foi criar uma nova humanidade, um novo corpo onde as antigas divisões não têm mais lugar. Judeus e gentios, outrora inimigos, agora são unidos em um só corpo, a Igreja, através da cruz. Essa reconciliação horizontal é inseparável da reconciliação vertical com Deus. Por meio da cruz, Cristo reconciliou ambos os grupos com o Pai, oferecendo a todos o acesso a Deus em um só Espírito.
Portanto, em Cristo, não há mais estrangeiros ou peregrinos, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus. Somos edificados juntos sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, com o próprio Cristo como a pedra angular que sustenta toda a estrutura. Estamos crescendo juntos para nos tornarmos um templo santo no Senhor, uma habitação de Deus no Espírito.
Essa verdade tem implicações profundas para a nossa vida como crentes hoje. Devemos abandonar qualquer forma de preconceito, discriminação ou divisão baseada em raça, etnia, cultura ou qualquer outra característica que possa nos separar uns dos outros. Em Cristo, somos um só corpo, unidos pelo mesmo Espírito e com o mesmo acesso ao Pai. A nossa unidade é um testemunho poderoso do evangelho e da obra transformadora de Cristo. Devemos buscar diligentemente a unidade, amando uns aos outros como Cristo nos amou e vivendo de maneira que honre a nova realidade que temos em Cristo.
6. Para ilustrar o texto:
- Imagine duas famílias que viveram em constante conflito por gerações, alimentando um profundo ódio e ressentimento. Então, um mediador poderoso e justo intervém, pagando o preço da reconciliação e abrindo um caminho para que ambas as famílias se unam. Ele não apenas declara a paz, mas ele próprio se torna o elo que as une, criando uma nova família onde a antiga inimizade é esquecida. Assim fez Cristo entre judeus e gentios, e assim ele faz entre todos aqueles que estão separados por qualquer tipo de barreira.
- Considere a construção de uma ponte sobre um abismo profundo que separa duas comunidades. Antes da ponte, a comunicação e a interação eram impossíveis. Mas, com a construção da ponte, as pessoas podem se encontrar, compartilhar e construir um futuro juntas. Cristo é essa ponte entre judeus e gentios, e entre a humanidade e Deus. Ele superou a separação causada pelo pecado e pela inimizade, permitindo que nos aproximemos de Deus e uns dos outros.
- Pense em um coral formado por vozes diferentes, cada uma com seu timbre e sua história. Inicialmente, elas podem soar dissonantes e desconectadas. Mas, sob a direção de um maestro habilidoso, essas vozes se unem em harmonia, criando uma bela melodia que é muito mais rica e poderosa do que a soma de suas partes individuais. A Igreja é como esse coral, composta por pessoas de diferentes origens e culturas. Em Cristo, o nosso Maestro, encontramos a harmonia e a unidade, cantando juntos a glória de Deus.