O que é a Teologia Presbiteriana?
Definição
Embora o termo “presbiteriano” se refira ao sistema de governo eclesiástico adotado por essas igrejas, a essência do presbiterianismo, uma das duas tradições da igreja que emergiram da Reforma em Genebra liderada por Calvino, reside na crença em um Deus soberano, independente e trino, que entrou em aliança para salvar um povo para sua própria glória.
Resumo
A teologia presbiteriana é um sistema abrangente de doutrina fundamentado nos Padrões de Westminster. As igrejas presbiterianas compartilham muitos ensinamentos doutrinários com outras igrejas fiéis: Deus como o Criador independente e trino dos céus e da terra; a Bíblia como a infalível palavra de Deus; a condição pecaminosa de toda a humanidade; a justificação, não pelas obras, mas pela fé em Cristo Jesus; a segunda vinda de Cristo em glória; e o julgamento final que conduz à glória ou à condenação.
Os presbiterianos também sustentam doutrinas comuns a outras tradições oriundas da Reforma: a soberania absoluta de Deus na eleição; o dever do cristão de viver em piedade, obedecendo à lei moral de Deus, incluindo os Dez Mandamentos; a participação nos dois sacramentos – o Batismo e a Ceia do Senhor; e a realidade teológica da igreja visível e invisível. Contudo, o aspecto que distingue as igrejas presbiterianas é o sistema de governo eclesiástico, em que os presbíteros de igrejas locais pertencem a um Presbitério, e vários Presbitérios se conectam em uma Assembleia Geral.
Quando as pessoas ouvem o termo “presbiteriano”, muitas vezes pensam: “Aqueles que acreditam na predestinação”. Embora isso seja verdade, é uma definição limitada. Tecnicamente, o nome refere-se à forma de governo adotada pelas igrejas presbiterianas, diferenciando-as de congregacionalistas, independentes e episcopais.
A essência do presbiterianismo, no entanto, é a crença em um Deus soberano, independente e trino, que entrou em uma aliança para salvar um povo para sua glória. O presbiterianismo é uma das grandes correntes que fluíram da Reforma de Calvino em Genebra.
Doutrinas Fundamentais
As doutrinas presbiterianas são amplamente definidas pelos Padrões de Westminster – a Confissão de Fé de Westminster e os Catecismos Maior e Breve. Esses documentos delineiam o objetivo central do presbiterianismo: a glória de Deus (1 Coríntios 1:31).
A Confissão ensina que a Escritura, como a inspirada e infalível palavra de Deus, é a única regra de fé e prática para o cristão (2 Timóteo 3:16-17). Através das Escrituras, os presbiterianos aprendem sobre Deus, seus decretos e a maneira como Ele os executa.
Sobre Deus e Seus Decretos
Deus, o santo e trino, é independente e soberano, tendo ordenado tudo o que acontece (Salmo 33:11). Ele escolheu, em Cristo, aqueles que seriam salvos, enquanto deixou outros em seu estado de pecado, para a condenação eterna, tudo para a glória de seu nome (Efésios 1:4-6; Romanos 11:33-36).
Teologia da Aliança
Os presbiterianos veem a redenção através da lente da Teologia da Aliança. Desde o pacto de obras no Éden até o pacto da graça realizado em Cristo, essa estrutura mostra como Deus lida com a humanidade. Em Cristo, o segundo cabeça de aliança, Deus proveu a salvação, obedecendo perfeitamente à lei e oferecendo sua vida em resgate dos eleitos (Romanos 5:12-19; 1 Timóteo 3:16).
Piedade e Deveres do Homem
O presbiterianismo enfatiza não apenas doutrinas, mas também uma vida de piedade. O dever do homem para com Deus está resumido em sua lei moral, os Dez Mandamentos, que revelam nossa necessidade de um Salvador, restringem o pecado na sociedade e guiam a conduta dos crentes (Mateus 22:37-40).
Essa piedade também se reflete no culto, onde Deus é adorado de acordo com sua palavra, conhecido como Princípio Regulador do Culto. Elementos como pregação, oração, cânticos, sacramentos e ofertas são centrais (1 Timóteo 4:13; 2 Timóteo 4:2; Mateus 28:19-20).
Sobre a Igreja
Os presbiterianos acreditam na igreja visível e invisível. A igreja invisível abrange todos os eleitos, enquanto a visível é a manifestação pública da fé em congregações locais. O governo é realizado por presbíteros, que cuidam espiritualmente dos membros e exercem disciplina quando necessário (Atos 20:28; Tito 1:5).
Sobre as Últimas Coisas
Os presbiterianos creem que as almas dos crentes vão imediatamente para estar com o Senhor após a morte, enquanto seus corpos aguardam a ressurreição. No retorno de Cristo, haverá julgamento, e os justos habitarão com Deus em corpos glorificados, enquanto os ímpios sofrerão punição eterna (1 Coríntios 15:42-44; Mateus 25:31-46).
Essa visão integral da fé presbiteriana, fundamentada na soberania de Deus e no seu plano redentor, é uma expressão do desejo de viver para a glória daquele que chamou seu povo para si.
Relação do Presbiterianismo com o Arminianismo
A relação entre presbiterianos e arminianos clássicos, embora historicamente marcada por divergências teológicas profundas, tem potencial para ser de respeito mútuo quando ambas as partes compreendem as nuances de suas posições. No entanto, é preciso reconhecer que, muitas vezes, os arminianos clássicos enfrentam mal-entendidos, especialmente no que diz respeito à doutrina do livre-arbítrio. Presbiterianos, associados ao calvinismo, frequentemente interpretam equivocadamente que os arminianos creem em um livre-arbítrio absoluto, onde o ser humano teria plena capacidade de escolher Deus por si mesmo. Essa visão não apenas simplifica, mas distorce a teologia arminiana.
O livre-arbítrio, na perspectiva arminiana clássica, não é um poder inerente do ser humano natural, mas sim um dom restaurado pela graça preveniente de Deus. Essa graça, que antecede qualquer ação humana, capacita o indivíduo a responder ao chamado divino. Antes dessa obra de Deus, o ser humano está completamente perdido, incapaz de buscar ou agradar a Deus por conta própria. Em outras palavras, o livre-arbítrio arminiano é um “livre-arbítrio libertado” — um estado no qual a soberania de Deus e a responsabilidade humana coexistem de maneira misteriosa, mas bíblica.
A tensão com os presbiterianos frequentemente reside em como essas duas tradições compreendem a soberania divina e a responsabilidade humana. Enquanto o calvinismo presbiteriano enfatiza a eleição incondicional, os arminianos clássicos defendem que Deus, em sua soberania, decidiu oferecer a salvação a todos, deixando o indivíduo livre para aceitar ou rejeitar essa graça. Para o arminiano, isso não diminui a glória de Deus, mas a exalta, pois revela um amor que é ao mesmo tempo justo e universal, sem obrigar ninguém a amá-lo à força.
Infelizmente, essa diferença é muitas vezes reduzida a caricaturas. Arminianos são acusados de “colocar o homem no centro” ou “negar a soberania de Deus”, acusações que não refletem a teologia cuidadosamente articulada por pensadores como Jacó Armínio e John Wesley. Por outro lado, arminianos também podem cair na tentação de pintar os calvinistas como defensores de um Deus tirano, que escolhe arbitrariamente salvar uns enquanto condena outros, uma interpretação igualmente injusta.
Apesar dessas divergências, há uma base para respeito mútuo. Ambos os grupos concordam na centralidade de Cristo, na necessidade absoluta da graça e na autoridade das Escrituras. Talvez o maior desafio seja deixar de lado as simplificações e os rótulos, ouvindo um ao outro com genuína humildade e interesse. Afinal, a riqueza do corpo de Cristo não está em uniformidade teológica, mas em uma busca coletiva por conhecer mais profundamente a Deus e viver segundo o seu chamado.
Essa relação, vista sob uma lente de amor e respeito, pode se tornar um testemunho do que significa discordar com graça. Arminianos clássicos, com sua ênfase na responsabilidade humana habilitada pela graça, e presbiterianos, com sua confiança na soberania divina absoluta, têm mais em comum do que muitas vezes percebem. Talvez a chave esteja em abandonar a necessidade de vencer debates e abraçar o convite para refletir juntos sobre a profundidade do amor de Deus, que ultrapassa qualquer sistema humano de compreensão.