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A distinção entre a imputação imediata e mediata do pecado reside em como a culpa e a corrupção do pecado de Adão são relacionadas aos seus descendentes. Essa distinção surgiu principalmente nos debates teológicos pós-Reforma, buscando explicar a doutrina do pecado original.

Imputação Imediata

A teoria da imputação imediata sustenta que o pecado de Adão é direta e imediatamente imputado (creditado, atribuído) a todos os seus descendentes no momento em que nascem. Isso significa que a culpa do pecado de Adão é instantaneamente contada a cada indivíduo, tornando-o culpado perante Deus desde a concepção. Consequentemente, os seres humanos não apenas herdam uma natureza corrompida de Adão, mas também são considerados legalmente responsáveis pelo seu primeiro pecado.

No contexto da teologia reformada, a ideia do pacto federal com Adão desempenha um papel crucial na doutrina da imputação imediata. Adão não era meramente o primeiro homem, mas também o representante federal de toda a raça humana. Assim como um representante legal age em nome daqueles que ele representa, Adão agiu em nome de toda a sua descendência no Jardim do Éden. Quando Adão pecou, sua culpa foi imediatamente imputada àqueles que ele representava, ou seja, toda a humanidade que viria depois dele.

Beza, um reformador, enfatizou que Adão era tanto o cabeça natural quanto o representante federal da raça humana, resultando na imputação de seu primeiro pecado como culpa a todos os seus descendentes. Devido a serem culpados em Adão, todos também nascem em um estado de corrupção.

A Fórmula Consensus Helvética, elaborada por Heidegger, Turretin e Geneler em resposta a certos pontos de vista divergentes, também delineou uma clara exposição da doutrina reformada, que geralmente incluía a imputação imediata do pecado de Adão.

Imputação Mediata

A teoria da imputação mediata, por outro lado, argumenta que o pecado de Adão não é diretamente imputado à sua descendência. Em vez disso, os seres humanos herdam de Adão uma natureza corrompida e depravada. É por causa dessa natureza pecaminosa herdada, e não pela imputação direta do pecado de Adão, que os indivíduos são considerados culpados e sujeitos à condenação. A culpa é imputada mediatamente, ou seja, por meio da transmissão da corrupção da natureza.

Placeu, da escola de Saumur, é mencionado por negar a imputação imediata do pecado de Adão à sua posteridade. Ele ensinava que os homens não eram tidos por culpados em Adão, nem nasciam corruptos, mas derivavam dele a corrupção da natureza, a qual agora lhes seria imputada como culpa. Placeu denominou isso de imputação imediata e consequente, onde “imediata” refere-se à transmissão da natureza corrupta, e “consequente” à imputação da culpa com base nessa natureza corrupta herdada.

O arminianismo wesleyano, surgido posteriormente à Reforma, também oferece uma perspectiva que se distancia da imputação imediata em sua forma mais estrita. Embora enfatize que o pecado original é real e autêntico pecado, tornando o homem culpado aos olhos de Deus e que a culpa do pecado de Adão foi realmente imputada a seus descendentes, sua ênfase na liberdade e responsabilidade humanas pode levar a nuances na compreensão de como essa imputação opera em relação à escolha e à ação individual.

Pontos de Contraste e Implicações

A principal diferença entre as duas teorias reside no elo causal direto da culpa. Na imputação imediata, a culpa de Adão é a razão direta pela qual seus descendentes são considerados culpados. Na imputação mediata, a natureza pecaminosa herdada é o fundamento sobre o qual a culpa é imputada.

As implicações dessas duas visões podem afetar a compreensão de questões como a justiça de Deus em relação aos infantes que morrem antes de cometerem pecados factuais. A imputação imediata pode parecer levantar questões sobre a responsabilidade pessoal, já que os indivíduos são considerados culpados por um ato que não cometeram pessoalmente. Os defensores dessa visão geralmente recorrem à ideia da representação federal e à unidade orgânica da raça humana em Adão para explicar essa imputação.

A imputação mediata, ao enfatizar a transmissão da corrupção, pode parecer mais alinhada com a experiência de que todos os seres humanos nascem com tendências pecaminosas e inevitavelmente pecam. No entanto, ela precisa explicar adequadamente a base da culpa se não houver uma conexão legal direta com o pecado de Adão.

É importante notar que o entendimento da imputação do pecado original foi um tópico de debate e desenvolvimento ao longo da história da teologia cristã, com diferentes tradições e teólogos oferecendo várias nuances e interpretações dentro dessas duas categorias gerais. Os reformadores, seguindo Agostinho e Anselmo, geralmente favoreceram uma forma de imputação que enfatizava a conexão real e representativa entre Adão e sua posteridade, enquanto outras tradições teológicas buscaram outras formas de explicar a universalidade do pecado e da culpa.

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