Davi se distinguiu como um líder religioso de maneiras significativas, marcando uma profunda transformação na vida espiritual de Israel. Apesar de não ter permissão para construir o templo, suas ações e iniciativas estabeleceram as bases para a centralização do culto e a organização religiosa da nação.
Um dos atos mais notáveis de Davi como líder religioso foi a transferência da Arca da Aliança para Jerusalém. Após um primeiro esforço mal-sucedido usando um carro, que resultou na morte de Uzá por tocar na Arca, Davi, percebendo a importância da forma correta de transportar o objeto sagrado (pelos sacerdotes, conforme Números 4), levou a Arca da casa de Obede-Edom para Jerusalém e a instalou em uma tenda ou tabernáculo. Este evento transformou Jerusalém não apenas na capital política, mas também no centro religioso de toda a nação. Com a chegada da Arca, um culto apropriado foi restaurado para Israel em escala nacional.
O sincero desejo de Davi de construir um local permanente para o culto divino, um templo, demonstra sua profunda devoção. Embora Deus tenha comunicado a Davi, através do profeta Natã, que a construção do templo seria realizada por seu filho Salomão, a magnitude da promessa divina estendeu-se além do reinado de Salomão, estabelecendo que o trono de Davi seria eterno. A razão pela qual Davi não pôde construir o templo foi possivelmente devido ao fato de ter sido comissionado como um homem de estado e líder militar, responsável por estabelecer o reino em Israel através de guerras. O período de paz sob Salomão seria mais propício para tal empreendimento.
Mesmo sem construir o templo, Davi fez preparativos elaborados para sua ereção sob seu filho Salomão. Ele organizou extensivamente os sacerdotes e levitas para uma participação efetiva nas atividades religiosas de toda a nação. Os 38.000 levitas foram organizados em unidades e designados para o ministério regular do templo, com responsabilidades específicas como guardadores das portas e músicos. Davi também designou levitas como tesoureiros para cuidar das ofertas dedicadas para a construção do templo. Além disso, ele delineou os detalhes para o culto religioso na estrutura proposta.
Davi também se destacou como um rei que reconhecia a primazia de Deus em todos os aspectos da vida de Israel. Ele atribuiu as vitórias militares e a prosperidade material da nação a Deus. Em um salmo de ação de graças (2 Samuel 22, também encontrado em Salmos 18), Davi expressou seu louvor a Deus pela libertação dos inimigos de Israel. A Bíblia preservou comparativamente pouco sobre o ministério real de Davi como grande líder, mas seus salmos, dos quais 73 são a ele atribuídos, tornaram-se parte integrante do culto religioso de Israel. Suas composições expressavam uma ampla gama de emoções e experiências, incluindo o sincero arrependimento pelo pecado, como visto nos Salmos 32 e 51, este último relacionado ao seu pecado com Bate-Seba e o assassinato de Urias. Esses salmos de confissão e louvor refletem sua profunda relação pessoal com Deus e serviram de modelo para a piedade individual e coletiva.
Outro aspecto da liderança religiosa de Davi foi seu papel na determinação do local para o futuro templo. Após a praga que assolou Israel como resultado do censo pecaminoso, Davi, seguindo a instrução do profeta Gade, comprou a eira de Ornã, o jebuseu, no Monte Moriá. Impressionado pela manifestação divina naquele local, Davi determinou que ali seria construído o altar dos holocaustos e o Templo. Este local tinha uma possível conexão com o sacrifício de Isaque por Abraão, quase um milênio antes.
Em seus últimos anos, Davi encarregou os príncipes e sacerdotes a reconhecerem Salomão como seu sucessor e cuidadosamente delineou os serviços do templo. Suas últimas palavras (2 Samuel 23.1-7) revelam a grandeza do herói mais honrado de Israel e sua fé na aliança eterna estabelecida por Deus com sua casa.
Em resumo, a distinção de Davi como líder religioso reside em seus esforços para centralizar e organizar o culto a Deus em Jerusalém através da transferência da Arca, seu profundo desejo de construir um templo (cujo planejamento ele iniciou), sua organização dos sacerdotes e levitas para o serviço religioso, seu reconhecimento da soberania de Deus expressa em seus salmos, seu arrependimento sincero que serve de exemplo espiritual, e sua determinação do local para o futuro templo. Suas ações lançaram as bases para o florescimento religioso sob o reinado de seu filho Salomão e moldaram a identidade religiosa de Israel por séculos.