O surgimento do monarquianismo foi motivado por uma insatisfação generalizada com a doutrina do Logos, tal como apresentada pelos apologetas, pelos Pais anti-gnósticos e pelos Pais alexandrinos. Essa doutrina, que buscava explicar a relação entre Deus e o mundo através da figura do Logos, não encontrou aceitação universal.
A fonte principal dessa insatisfação residia em duas preocupações interligadas, uma de natureza teológica e outra cristológica. No âmbito teológico, muitos entre o povo comum nutriam receios de que a doutrina do Logos, ao apresentar-o como uma Pessoa divina distinta do Pai, pudesse comprometer a unidade de Deus ou o monoteísmo. A ideia de um Logos com existência própria, embora divina, parecia a alguns introduzir uma pluralidade na essência divina, ameaçando a crença em um único Deus.
Simultaneamente, no campo cristológico, a noção de que o Logos era de alguma forma subordinado ao Pai suscitava apreensões quanto à plena divindade de Cristo. Se o Logos, que se encarnou em Jesus Cristo, era considerado inferior ao Pai em essência ou estatuto, isso parecia diminuir a sua deidade e, consequentemente, a eficácia da sua obra redentora.
Diante dessas preocupações populares, homens eruditos da época perceberam o desconforto gerado pela doutrina do Logos. Em resposta, eles se esforçaram para salvaguardar dois pilares fundamentais da fé cristã: a unidade de Deus e a deidade de Cristo. Essa tentativa de conciliar essas duas verdades aparentemente em tensão deu origem a duas correntes de pensamento, ambas englobadas sob o termo “monarquianismo”. Tertuliano foi o primeiro a utilizar essa designação.
O monarquianismo dinâmico (também conhecido como adocionismo) era primordialmente interessado em manter a unidade de Deus. Essa corrente se alinhava com a antiga heresia ebionita e com o unitarianismo posterior. Seus defensores propunham que Cristo era um homem comum que recebeu um poder divino (dynamis) em algum momento de sua vida, como no batismo, tornando-se assim o Filho de Deus. Essa visão preservava a unicidade absoluta de Deus, mas o fazia à custa da deidade inerente de Cristo. Teodoto de Bizâncio e Artemão são considerados representantes dessa forma de monarquianismo.
A segunda forma, o monarquianismo modalista (também chamado sabelianismo no Oriente e patripassianismo no Ocidente), demonstrava uma preocupação primária com a plena deidade de Cristo, embora também desejasse preservar a unidade divina. Os modalistas concebiam as três Pessoas da Trindade como meros modos ou manifestações diferentes de um único Deus. Segundo essa visão, o Pai, o Filho e o Espírito Santo não seriam existências distintas, mas sim diferentes “máscaras” que o Deus único assumiu em diferentes épocas ou para diferentes propósitos. No Ocidente, a doutrina era chamada de patripassianismo porque implicava que o próprio Pai havia se encarnado em Cristo e, portanto, sofrido na cruz. Sabélio foi o mais famoso expoente dessa corrente. O monarquianismo modalista mantinha a deidade de Cristo, mas comprometia a distinção real entre as Pessoas da Trindade.
Em resumo, o monarquianismo surgiu como uma reação às complexidades e aparentes tensões da doutrina do Logos, motivado pelo desejo profundo de proteger a crença fundamental na unidade de Deus e na plena divindade de Jesus Cristo, embora cada uma das suas principais vertentes tenha enfatizado um desses aspectos em detrimento do outro. A tentativa de simplificar a compreensão da natureza de Deus e da sua relação com Cristo, em um contexto onde as formulações teológicas ainda estavam em desenvolvimento, foi um fator crucial no surgimento desse movimento.