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A religião desempenhou um papel multifacetado e profundamente enraizado nas viagens de Cristóvão Colombo, permeando suas motivações, a condução das expedições e as consequências de seus desembarques nas Américas. Longe de ser apenas uma busca por novas rotas comerciais, as viagens de Colombo foram impulsionadas por uma intensa convicção religiosa, imbuídas de um propósito evangelístico e informadas por crenças proféticas da época.

Em primeiro lugar, as motivações religiosas pessoais de Colombo eram significativas e moldaram sua visão da empresa marítima. Ele era conhecido como um homem excepcionalmente piedoso, constantemente envolvido em oração, invocando os nomes de Cristo, Maria e os santos, e louvando solenemente a Deus. Seu filho Fernando relatou sua estrita observância religiosa, comparando-o a um membro de uma ordem religiosa em seu rigor com jejuns e orações. Colombo possuía um profundo conhecimento da Bíblia Vulgata, que provavelmente o acompanhou em suas viagens, e recorria à religião como seu primeiro refúgio em face da adversidade, fazendo votos a Deus durante tempestades e rebeliões da tripulação. Ele próprio expressou que o Senhor havia aberto sua mente para a possibilidade da viagem e inflamado sua vontade de realizar o projeto, vendo a mão de Deus em sua jornada. Em 1501, Colombo escreveu que seu maior conforto era buscar a maravilhosa presença de Deus.

Além de sua piedade pessoal, Colombo via suas viagens como o cumprimento de um plano divino para sua vida e para o que ele acreditava ser o iminente fim do mundo. Ele se considerava um mensageiro de um “novo céu e uma nova terra” mencionados no Apocalipse e profetizados por Isaías, com Deus mostrando-lhe o lugar onde encontrá-los. Essa convicção de ser um instrumento de Deus para espalhar a fé era mais poderosa do que o desejo por glória, riqueza e honras mundanas.

O objetivo de expandir o cristianismo era uma motivação central por trás das viagens de Colombo e recebeu o apoio dos monarcas espanhóis, Fernando e Isabel, que eram “cristãos católicos e príncipes, amantes e promotores da Santa Fé Cristã”. Colombo acreditava que as terras das Índias e o Grão Khan estavam abertos à conversão ao cristianismo, e ele foi enviado para ver como essa conversão poderia ser realizada. Ele se via como um precursor de uma grande campanha evangelística, abrindo novos mundos e povos desconhecidos ao Evangelho. A analogia com São Cristóvão, o “Cristo-portador”, era significativa para Colombo, pois ele também levaria Cristo através do Oceano Mar a povos que nunca tinham ouvido a mensagem cristã.

As próprias viagens tinham um caráter religioso. As velas dos navios ostentavam cruzes. A tripulação observava ritos religiosos diários, recitando orações a cada meia hora e cantando vésperas. Ao desembarcar nas novas terras, Colombo declarou que elas pertenciam aos soberanos católicos. Ele acreditava que os povos nativos seriam mais bem convertidos à “Santa Fé por amor do que por força”, embora essa visão coexistisse com a ideia de que eles poderiam se tornar “bons e inteligentes servos” e cristãos. Em cada ilha que explorava, Colombo erguia uma grande cruz de madeira como sinal de posse e como um ato evangelístico simbólico.

A religião também se entrelaçava com as crenças de Colombo sobre as profecias do fim dos tempos e a reconquista de Jerusalém. Ele acreditava que Fernando e Isabel eram instrumentos escolhidos por Deus para recapturar Jerusalém e colocar a Cidade Santa sob controle cristão, vendo isso como o propósito final de suas viagens e descobertas. A busca por ouro não era apenas para ganho pessoal, mas também para financiar uma cruzada para retomar a Terra Santa. Colombo chegou a prometer fornecer soldados e cavalos para essa empreitada, confiante na vitória se os monarcas tivessem fé.

Após o sucesso de sua primeira viagem, Colombo esperava que ela fosse a maior honra para o cristianismo que jamais ocorrera inesperadamente. Ele solicitou que uma porcentagem de todo o ouro obtido das ilhas fosse destinada ao estabelecimento de igrejas e ao envio de monges. Em seu testamento, instruiu seu filho Diego a apoiar professores de teologia em Hispaniola para converter os indígenas.

No entanto, a história do papel da religião nas viagens de Colombo e suas consequências não é isenta de controvérsia. Embora a fé tenha sido uma motivação para a exploração e o contato, também foi usada para justificar a conquista, a escravização e a exploração dos povos indígenas. A ideia de que estender as fronteiras da nação era estender o cristianismo, e que subjugar e escravizar novas terras era espalhar o Evangelho, estava profundamente enraizada na mentalidade da época.

Apesar disso, dentro do próprio contexto religioso, surgiram vozes de protesto contra o tratamento desumano dos indígenas. Dominicanos como Antonio de Montesinos e Bartolomé de Las Casas denunciaram a crueldade e defenderam os direitos dos nativos, argumentando pela persuasão pacífica em vez da força na evangelização. Missionários como Pedro Claver e Luis Beltrán dedicaram suas vidas a ministrar e defender os oprimidos.

Em resumo, a religião desempenhou um papel central nas viagens de Colombo, desde suas motivações pessoais e sua visão de um chamado divino até a natureza das expedições e os objetivos de expansão da fé cristã. Embora esse fervor religioso tenha impulsionado a disseminação do cristianismo nas Américas, também se tornou entrelaçado com a justificação da conquista e da exploração, gerando debates e protestos dentro da própria tradição cristã sobre os métodos e a ética da evangelização. O legado religioso das viagens de Colombo é, portanto, complexo e continua a ser objeto de reflexão e análise.

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