Resenha de A Mente do Espírito, por Craig S. Keener.
A Visão de Paulo sobre uma mente Transformada: Introdução:
Esta obra de Craig S. Keener, A Mente do Espírito, propõe uma nova maneira de entendermos o pensamento transformado, à luz do pensamento de Paulo. A abordagem de Keener é única e contribui para um melhor entendimento da visão de Paulo sobre a mente humana. O livro é bem fundamentado e abre um caminho inovador no estudo do apóstolo Paulo. A leitura é rica em insights e reflexões exegéticas e teológicas, que são muito úteis tanto para o ambiente acadêmico quanto para a vida prática cristã. Recomendo fortemente este livro para quem tem interesse especial no papel do Espírito Santo na mente do cristão.
Keener, Craig S. A mente do Espírito. A visão de Paulo Sobre a Mente Transformada. Vida Nova, 2018. 496p. Brochura. R$ 105,52 preço na editora (Abril de 2024).
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Resenha:
Craig S. Keener, PhD pela Universidade Duke e professor de estudos bíblicos na Asbury Theological Seminary, é um dos estudiosos do Novo Testamento mais lidos e respeitados atualmente. Ele publicou continuamente uma série de comentários, livros e ensaios importantes, especialmente sobre o estudo do Espírito Santo. Dentre suas obras se destacam “O Espírito na Igreja” (2018), “Amor impossível” (2019), “A Hermenêutica do Espírito” (2016), “O Espírito nos Evangelhos e em Atos” (2018) e sua obra-prima, O “Comentário Histórico-Cultural da Bíblia” (2017), todas publicadas pela Editora Vida Nova.
O livro “A Mente do Espírito” de Keener é mais uma conquista acadêmica que se refere ao estudo do Espírito Santo, com referência especial à compreensão de Paulo sobre a mente humana transformada. O principal objetivo do livro é usar o conceito de mente, especialmente a mente transformada por e em Cristo, encontrada nos escritos paulinos para explicar como a retidão dos crentes (em termos de status ou relacionamento com Deus) e/ou transformação moral realmente ocorrem na vida dos crentes.
Capítulo 1: A mente corrompida (Rm 1.18-32)
O Capítulo 1 explora o argumento de Paulo sobre a mente pagã corrompida em Romanos 1:18-32. Apesar do apelo repetitivo dos filósofos antigos para o domínio racional sobre as paixões, Keener sugere que a suposta mente pagã sábia tornou-se sujeita às paixões, corrompendo as evidências naturais de Deus, rejeitando o conhecimento de Deus e interpretando erroneamente a realidade, especialmente o propósito e a identidade humanos. Como resultado, os gentios se entregaram à idolatria e à imoralidade sexual. No entanto, para Paulo, mesmo a mente judaica iluminada pela Torá sem o Espírito acaba por ser a mente da carne – tema que Keener explora mais no capítulo 3.
Capítulo 2: A mente da fé (Rm 6.11)
O Capítulo 2 discute “a mente da fé” ou “a nova maneira de pensar em Cristo”, que vem da nova identidade em Cristo. Para Keener, Romanos 6 é composto por dois elementos, a saber, “indicativo” e “imperativo”. O elemento indicativo são “a morte e ressurreição de Cristo, eventos historicamente realizados” ou “a nova realidade” que precisa ser abraçada com fé ou “considerada” (“6:11: ὑμεῖς λογίζεσθε ἑαυτούς; ‘considerem-se’ – uma ação cognitiva). O elemento imperativo convida os crentes que foram justificados com Deus pela fé a compartilhar mais plenamente e viver a perspectiva de Deus sobre sua união com Cristo.
Capítulo 3: A mente da carne (Rm 7.22-25)
O Capítulo 3, o mais longo do livro, revisita o tema da mente caída e explora “a vida sob a lei sem vida em Cristo” em Romanos 7:15-25. A suposição básica de Keener é que Romanos 7:7-25 não é a experiência atual de Paulo como cristão, mas sim “a dramatização gráfica de Paulo sobre a vida sob a lei”. Esta passagem descreve “a mente judaica mais informada” ou “a mente religiosa informada pelas exigências justas de Deus”, em contraste com a mente pagã em Romanos 1:18-32. Esta mente religiosa iluminada pela lei é “ainda mais frustrada pelas paixões, porque sabe o que é certo e errado, mas é incapaz de silenciar a paixão”.
Capítulo 4: A mente do Espírito (Rm 8.5-7)
O Capítulo 4 trata da “mente da carne” (Rom. 8:5-7), contrastando-a com a “mente do Espírito” discutida no capítulo 3. Em vez de uma “mente da carne” que é subjugada pelas paixões, a mente do Espírito – ou seja, o novo modo de pensar em Cristo – é capaz de cumprir a vontade de Deus porque essa mente é guiada, motivada e fortalecida pelo Espírito de Deus que agora habita nos crentes. A mentalidade que envolve o Espírito é caracterizada por vida e paz. Essa paz pode referir-se tanto à tranquilidade individual quanto à harmonia comunitária (pp. 135-141).
Capítulo 5: Uma mente renovada (Rm 12.1-3)
O Capítulo 5 prossegue com um tema semelhante, “a mente renovada”, em Rom. 12:1-3. Paulo exorta seus ouvintes a renovarem suas mentes, “de acordo com os padrões da era vindoura em vez da atual”, de modo que “essa mente leva alguém a dedicar seu corpo individual ao serviço do corpo maior de Cristo” (xvi).
Capítulo 6: A mente de Cristo (1 Co 2.15-16)
O Capítulo 6 explora “a mente de Cristo” (1 Cor. 2:15-16; 2 Cor. 3:18), que lança luz sobre como “a habitação do Espírito de Deus compartilha com os espiritualmente maduros… uma medida da própria sabedoria de Deus” e “um antegosto da realidade escatológica” (xvi). A reivindicação básica de Keener é que “a verdadeira sabedoria é encontrada na cruz”, e “uma compreensão cada vez mais plena do caráter de Cristo crucificado poderia transformar cada vez mais [o] caráter [de alguém], conformando-o à gloriosa imagem de Cristo” (p. 216).
Capítulo 7: Uma mente semelhante a de Cristo (Fp 2.1-5; 3.19-21; 4.6-8)
O Capítulo 7 toca brevemente nos temas cognitivos em Filipenses: 1) a paz divina protege as mentes que lançam suas preocupações a Deus (4:6-8); 2) uma mente semelhante a Cristo leva a servir uns aos outros (2:5); e, finalmente, 3) os cidadãos do céu se concentram nas questões do celestial, não do terreno.
Capítulo 8: A mente celestial (Cl 3.1-2)
O oitavo e último capítulo continua com o último tema de Filipenses, “a mente celestial”, com referência especial a Col. 3:2. Em oposição à natureza abstrata e transcendente do céu para os antigos filósofos, o foco celestial é claramente Cristo exaltado para os cristãos. Contemplar Cristo resultará em um caráter semelhante ao de Cristo e na vivência diária de acordo com seu caráter.
Considerações Finais
Sem dúvida, o livro é bem pesquisado e persuasivo, abrindo possivelmente um novo caminho nos estudos Paulinos. “A Mente de Paulo” é único e especial em sua contribuição para a antropologia Paulina. Me arrisco a dizer que nenhum outro estudioso deu tanta atenção à visão de Paulo sobre a mente, como Keener faz, especialmente em contraste com uma ampla seleção de fontes antigas. Consultar uma infinidade de fontes gregas, romanas e judaicas, por um lado, permite aos leitores aprofundar-se na lógica do argumento de Paulo sobre a noção de mente, em comparação com outras ideias filosóficas antigas. Por outro lado, Keener mostra com sucesso a visão distintiva de Paulo sobre a natureza da mente humana, em contraste com a percepção da mente humana dos antigos filósofos.
Sua detalhada reflexão exegética e teológica oferece muitos insights práticos (por exemplo, pastorais e psicológicos) sobre a mente humana de acordo com Paulo. Como o próprio Keener previu em seu posfácio, o livro irá “desafiar a divisão comum [construída socialmente] em muitos círculos cristãos entre religião emocional (relacionada a revivalismos na fronteira dos EUA e místicos anteriores) e religião intelectual (historicamente relacionada ao treinamento acadêmico)” (p. 257). A tentativa de Keener de “superar tais escolhas forçadas formadas historicamente e socialmente” (p. 258), apesar de alguns desacordos e controvérsias previsíveis relacionados ao problema, despertará um acorde responsivo nos corações daqueles que levam a sério o chamado para amar ao próximo (Rom. 13:8-10) apesar das diferenças em questões secundárias (14:1-23).
Além disso, o chamado interdisciplinar de Keener para usar o pensamento Paulino para contribuir para a psicologia cristã é único e refrescante (pp. 260-261). Embora tal empreendimento interdisciplinar possa ser extremamente desafiador – pois há uma “vasta gama de teorias de aconselhamento e psicoterapia hoje” (p. 260), uma tentativa de diálogo interdisciplinar entre estudos bíblicos e psicologia certamente beneficiará aqueles interessados em psicologia cristã.
No geral, Keener escreveu mais um livro útil e informativo sobre o estudo do Espírito Santo, com sua referência especial a passagens chave Paulinas. Com suas preocupações exegeticas, carismáticas, multidisciplinares e pastorais vistas ao longo do livro, igreja e academia certamente se beneficiarão do livro. Eu recomendo fortemente este livro para estudantes com interesse particular no papel do Espírito Santo na mente cristã.