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A tradução da Bíblia por Martinho Lutero teve um impacto profundo e duradouro na língua alemã, sendo considerada um dos pilares na formação do idioma alemão moderno. Na época de Lutero, o alemão não era uma língua unificada, mas sim um conjunto de diversos dialetos regionais, embora semelhantes ao idioma falado nas cortes dos imperadores de Habsburgo e Luxemburgo. A ascensão da classe média, o crescimento do comércio e a invenção da imprensa desempenharam papéis na tentativa de unificação, mas a tradução da Bíblia por Lutero emergiu como o fator chave nesse processo.

Após a Dieta de Worms em 1521, Lutero, escondido no Castelo de Wartburg, dedicou-se à tradução do Novo Testamento a partir do texto grego de Erasmo, concluindo um esboço em apenas onze semanas. Posteriormente, ele formou um comitê de tradução, que ele apelidou de “Sinédrio”, para trabalhar na tradução do Antigo Testamento, reconhecendo a importância da colaboração para uma tarefa tão complexa. Este comitê incluía estudiosos como Philipp Melanchthon, Justus Jonas, John Bugenhagen e Caspar Cruciger, representando um nível de erudição sem precedentes para a época.

A abordagem de Lutero à tradução era inovadora. Ele não buscava uma tradução meramente literal, mas sim uma que capturasse o espírito da língua original e ressoasse com o povo alemão em sua linguagem cotidiana. Ele insistia que a Bíblia fosse traduzida para o alemão falado, o idioma do “mercado”, em vez do alemão formal ou literário. Antes de qualquer palavra ser escrita, ela precisava passar pelo “teste do ouvido” de Lutero, garantindo que soasse natural e correta.

Para alcançar esse objetivo, Lutero e sua equipe utilizaram a língua da corte como base, mas enriqueceram-na com o melhor de todos os dialetos que encontraram no império. Lutero era um perfeccionista implacável, chegando a passar um mês procurando a palavra mais adequada. Ele conversava extensivamente com pessoas mais velhas de diferentes regiões para entender suas formas de falar. Para compreender melhor os rituais de sacrifício na lei mosaica, ele até pediu a um açougueiro da cidade para dissecar ovelhas para estudo. Da mesma forma, para traduzir as pedras preciosas na “nova Jerusalém”, ele solicitou espécimes da coleção do eleitor para exame.

O resultado desse esforço meticuloso foi uma Bíblia em alemão de qualidade literária excepcional, considerada por muitos superior até mesmo à versão King James posterior. Como a tradução soava natural tanto quando lida quanto quando falada, sua cadência e legibilidade a tornaram uma Bíblia popular na Alemanha até os dias atuais.

A Bíblia de Lutero rapidamente se tornou um livro indispensável nos lares alemães, não apenas por razões espirituais, mas também pelo prestígio que conferia à crescente classe média. Era frequentemente um dos poucos livros que as famílias podiam comprar, tornando-se o primeiro meio de comunicação de massa a penetrar a vida cotidiana. Todos liam a nova Bíblia de Lutero ou a ouviam ser lida, e suas frases e padrões de fala se incorporaram à linguagem do povo.

A universalidade do apelo da tradução e sua abrangência da língua alemã em toda a sua variedade dialetal a tornaram um ponto de convergência linguística crucial para a formação do alemão moderno. Ela ajudou a reestruturar formalmente a literatura alemã e as artes cênicas alemãs. O impacto de Lutero e de sua Bíblia foi tão significativo que Frederico, o Grande, mais tarde o chamou de personificação do espírito nacional alemão, e muitos estudiosos ainda o consideram o alemão mais influente que já viveu.

Além de unificar a língua alemã, a tradução de Lutero também influenciou profundamente outras traduções da Bíblia para línguas vernáculas, incluindo as Bíblias em holandês, sueco, islandês e dinamarquês. De maneira crucial, ela deixou uma marca permanente em William Tyndale, um dos principais tradutores da Bíblia para o inglês, que possivelmente se encontrou com Lutero em Wittenberg. Tyndale se inspirou na ordem dos livros do Novo Testamento estabelecida por Lutero e traduziu diversas frases do alemão de Lutero para o inglês. Ambos os tradutores priorizaram uma linguagem acessível e um fluxo narrativo natural, defendendo a doutrina da justificação pela fé. Considerando que a tradução de Tyndale constitui grande parte da versão King James e da Revised Standard Version, o legado linguístico de Lutero ainda é evidente na Bíblia em inglês.

Em suma, a habilidade e o poder de Lutero como tradutor e escritor foram fundamentais para o seu impacto, moldando não apenas a religião, mas também a própria língua alemã e influenciando a tradução bíblica em todo o mundo. Sem sua tradução da Bíblia, a Reforma Protestante e o crescimento de uma nação alemã unida poderiam ter tomado um curso inteiramente diferente.

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